domingo, 6 de março de 2016

“Aquele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado"



Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo convida-nos à descoberta do Deus do amor, Deus-misericórdia, empenhado em conduzir-nos a uma vida de comunhão com Ele.

A primeira leitura convida-nos à conversão, princípio de vida nova na terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem e da mulher renovados é um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade.
A questão central deste texto gira à volta da vida nova que começa para o Povo de Deus. A Páscoa, celebrada nessa terra livre, marca o início dessa nova etapa. Israel é, agora, um Povo novo, o Povo eleito, comprometido com Javé, definitivamente livre da escravidão, que inicia uma vida nova nessa Terra de Deus onde “corre o leite e o mel”.
A partir da “circuncisão do coração”, podemos celebrar com verdade a vida nova, a ressurreição. Assim, somos convidados, neste tempo de Quaresma, a uma experiência semelhante à que fez o Povo de Deus, é preciso pôr fim à etapa da escravidão e do deserto, a fim de passar, decisivamente, à vida nova, à vida da liberdade e da paz.

A segunda leitura convida-nos a acolher a oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo e a Mulher Nova.
Portanto, ser cristão é, antes de mais, aceitar essa proposta de reconciliação que Deus nos faz em Jesus. Significa que Deus, apesar das nossas infidelidades, continua a propor-nos um projeto de comunhão e de amor. É “em Cristo” – e, de forma privilegiada, na cruz de Cristo – que somos reconciliados com Deus. Na cruz, Cristo ensinou-nos a obediência total ao Pai, a entrega confiada aos projetos do Pai e o amor total aos nossos irmãos. Dessa lição decisiva deve nascer o Ser Novo, que vive na obediência aos projetos de Deus e no amor aos outros., pois, a comunhão com Deus exige a reconciliação com os outros meus irmãos.

O Evangelho apresenta-nos o Deus/Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor lá está, sempre à espera, sem condições, para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da misericórdia e não na linha da justiça da humanidade.
Lucas apresenta na parábola do filho pródigo uma catequese sobre a bondade e o amor de um Deus que quer estender a mão a todos os que a teologia oficial excluía e marginalizava. A parábola apresenta-nos três personagens de referência: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho.
A personagem central é o pai. Trata-se de uma figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na emoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude de orgulho e de auto-suficiência em relação ao pai e a casa. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho; trata-se de um pai que continuou a amar, apesar da ausência e da infidelidade do filho. A conseqüência do amor do pai simboliza-se no “anel” que é símbolo da autoridade e nas sandálias, que é o calçado do homem livre.
Depois, vem o filho mais novo. É um filho ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo a que tem direito, pois, a lei judaica previa que o filho mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai; mas, ainda que a divisão das propriedades pudesse fazer-se em vida do pai, os filhos não acediam à sua posse senão depois da morte deste. Além disso, abandona a casa e o amor do pai e dissipa os bens que o pai colocou à sua disposição. É uma imagem de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de total irresponsabilidade. Acaba, no entanto, por perceber o vazio, o sem sentido, o desespero dessa vida de egoísmo e de auto-suficiência e por ter a coragem de voltar ao encontro do amor do pai.
Finalmente, temos o filho mais velho. É o filho “certinho”, que sempre fez o que o pai mandou, que cumpriu todas as regras e que nunca pensou em deixar esse espaço cômodo e acolhedor que é a casa do pai. No entanto, a sua lógica é a lógica da “justiça” e não a lógica da “misericórdia”. Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não compreende nem aceita que o pai queira exercer o seu direito à misericórdia e acolha, feliz, o filho rebelde. É a imagem desses fariseus e escribas que interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca as exigências da Lei, desprezavam os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica de Deus. A “parábola do pai bondoso e misericordioso” pretende apresentar-nos a lógica de Deus. Deus é o Pai bondoso, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para procurar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar e a esperar ansiosamente o regresso dos filhos rebeldes. Quando os reencontra, acolhe-os com amor e reintegra-os na sua família. Essa é a alegria de Deus. É esse Deus de amor, de bondade, de misericórdia, que se alegra quando o filho regressa que nós, às vezes filhos rebeldes, temos a certeza de encontrar quando voltamos. A parábola pretende ser também um convite a deixarmo-nos arrastar por esta dinâmica de amor no julgamento que fazemos dos nossos irmãos. Mais do que pela “justiça”, que nos deixemos guiar pela misericórdia, na linha de Deus-amor, pois, “aquele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado". Assim seja! Amém.


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