domingo, 4 de setembro de 2016

“Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”.


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo convida-nos a tomar consciência de quanto é exigente o caminho do “Reino”. Optar pelo “Reino” não é escolher um caminho de facilidade, mas sim aceitar percorrer um caminho de renúncia e de dom da vida.

A primeira leitura lembra a todos aqueles que não conseguem decidir-se pelo “Reino” que só em Deus é possível encontrar a verdadeira felicidade e o sentido da vida. Há, portanto, aí, um encorajamento implícito a aderir ao “Reino”: embora exigente, é um caminho que leva à felicidade plena.
Face ao contínuo cruzamento de perspectivas, de desafios, de teorias, ficamos confusos e sem saber, tantas vezes, como escolher. Para os que crêem, o critério que serve para julgar a validade ou a não validade dessas propostas é o Evangelho – embora, muitas vezes, ele se apresente em absoluta contradição com os valores que a sociedade propõe e impõe. 
Assim, só a sabedoria que é um dom de Deus permite a pessoa compreender tudo, fazer o que agrada a Deus e ser salvo. Portanto, só a ação de Deus que derrama sobre todos (as) a “sabedoria” permite encontrar o sentido da vida.

A segunda leitura recorda que o amor é o valor fundamental, para todos os que aceitam a dinâmica do “Reino”; só ele permite descobrir a igualdade de todos (as), filhos (as) do mesmo Pai e irmãos/irmãs em Cristo. Aceitar viver na lógica do “Reino” é reconhecer em cada pessoa um (a) irmão/irmã e agir em favor desta premissa.
O amor – elemento que está no centro da experiência cristã – exige ao cristão o reconhecimento efetivo da igualdade de todas as pessoas, apesar das diferenças de cor da pele, de estatuto social, de sexo, de opções políticas. Exige ainda, que as nossas comunidades sejam espaços de comunhão, fraternidade e acolhimento 

O Evangelho que traça as coordenadas do “caminho do discípulo”: é um caminho em que o “Reino” deve ter a primazia sobre as pessoas que amamos, sobre os nossos bens, sobre os nossos próprios interesses e esquemas pessoais. Quem tomar contacto com esta proposta tem de pensar seriamente se a quer acolher, se tem forças para acolhê-la… Jesus não admite meios-termos: ou se aceita o “Reino” e se embarca nessa aventura a tempo inteiro e “a fundo perdido”, ou não vale a pena começar algo que não vai levar a lado nenhum. Porque não é um caminho que se percorra com hesitações e com “meias tintas.
Assim, Jesus vai apresentar algumas exigências e ensinamentos que devem cumprir todos aqueles que entram no “banquete do Reino”, sob a condição dos discípulos, predominando o tema da renúncia. Quais são então, na perspectiva de Jesus, as exigências fundamentais para quem quer seguir o “caminho do discípulo” e chegar a sentar-se à mesa do “Reino”? Jesus põe três exigências, todas elas subordinadas ao tema da renúncia.
A primeira exige o preferir Jesus à própria família. Jesus exige que as relações familiares não nos impeçam de aderir ao “Reino”. Se for necessário escolher, a prioridade deve ser do “Reino”.
A segunda exige a renúncia à própria vida. O discípulo de Jesus não pode viver a fazer opções egoístas, colocando em primeiro lugar os seus interesses, os seus esquemas, aquilo que é melhor para ele; mas tem de colocar a sua vida ao serviço do “Reino” e fazer da sua vida um dom de amor aos irmãos, se necessário até a morte. Foi esse, de fato, o caminho de Jesus; e o discípulo é convidado a imitar o mestre.
A terceira exige a renúncia aos bens. Jesus sabe que os bens podem facilmente transformar-se em deuses, tornando-se uma prioridade, escravizando o homem e a mulher e levando-o a viver em função deles; assim sendo, que espaço fica para o “Reino”? Por outro lado, dar prioridade aos bens significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos irmãos; ora, viver na dinâmica do “Reino” implica viver no amor e deixar que a vida seja dirigida por uma lógica de amor e de partilha… Pode, então, viver-se no “Reino” sem renunciar aos bens?
Com este rol de exigências, fica claro que a opção pelo “Reino” não é um caminho de facilidade e, por isso, talvez não seja um caminho que todos aceitem seguir. É por isso que Jesus recomenda o pesar bem às implicações e as conseqüências da opção pelo “Reino”. A parábola do homem que, antes de construir uma torre, pensa se tem com que terminá-la e a parábola do rei que, antes de partir para a guerra, pensa se pode opor-se a outro rei com forças superiores convidam os candidatos a discípulos tomar consciência da sua força, da sua vontade, da sua decisão em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as exigências do “Reino”.
Irmãos e irmãs, Jesus não é um demagogo que faz promessas fáceis e cuja preocupação é juntar adeptos ou atrair multidões a qualquer preço. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro com uma proposta de salvação, de vida plena; no entanto, essa proposta implica uma adesão séria, exigente, radical. O caminho que Jesus propõe não é um caminho de “massas”, mas um caminho de “discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente essa opção. 
Às vezes, as pessoas procuram a comunidade cristã por tradição, por influências do meio social ou familiar… Sem recusarmos nada, devemos, contudo, fazê-las perceber que a opção pelo batismo é uma opção séria e exigente, que só faz sentido no quadro de um compromisso com o “Reino” e com a proposta de Jesus.
Vimos que dentro do quadro de exigências que Jesus apresenta aos discípulos, sobressai a exigência de preferir Jesus à própria família. Isso não significa, evidentemente, que devamos rejeitar os laços que nos unem àqueles que amamos… No entanto, significa que os laços afetivos, por mais sagrados que sejam, não devem afastar-nos dos valores do “Reino”. Outra exigência que Jesus faz aos discípulos é a renúncia à própria vida e o tomar a cruz do amor, do serviço, do dom da vida. Uma terceira exigência de Jesus pede aos candidatos a discípulos a renúncia aos bens. 
Assim, Jesus quer dizer que, antes de segui-lo, é preciso reservar tempo para a reflexão. Jesus não esconde as exigências, mas é preciso perguntar por que O seguimos, até onde O podemos seguir. É a maneira de Jesus respeitar a liberdade. Ele não quer discípulos que decidem segui-l’O sem mais nem menos. Ele não pede a mesma coisa a toda a gente, mas a cada um Ele pede para segui-l’O em função dos seus carismas. Então, a palavra de hoje é-nos dada para nos despertar e, ao mesmo tempo, para nos encorajar. Aqueles que, apesar de tudo e contra tudo, continuam a dar um lugar importante na sua vida a Jesus, têm razão. O Evangelho de hoje é um convite urgente a mantermos a nossa fé, por mais que isso custe! Pois, “Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. Assim seja! Amém.

domingo, 21 de agosto de 2016

Maria, a bem aventura, assunta ao Céu


Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, cantamos as maravilhas que o Senhor fez por nós. Fazendo Maria assuntar ao Céu, Ele nos deu o sinal da vitória de toda a humanidade pela ressurreição de Jesus Cristo, nosso Salvador.

O livro do Apocalipse apresenta uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto, é uma lembrança à Igreja perseguida - até a vitória de Cristo. Maria simboliza a humanidade-Israel que dá a luz ao Messias. Assim, na pessoa de Maria vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser grande em sua vida, é memória do serviço humilde que conduz à vida.

Paulo na Carta aos Coríntios descreve que em Maria, realiza-se, desde o fim de sua vida na terra, as entradas dos que pertencem a Cristo na vida gloriosa do Pai, uma vez que o Filho venceu a morte e nos deu a vida eterna. Unida a Cristo a humanidade estará de novo submetida a Deus e o reino se manifestará completamente. Pois, todos são convocados pela misericórdia divina que supera os limites e rejeições à salvação e à vida.

No Evangelho, Lucas retrata Maria, em sua condição de mãe do Messias, o “Senhor” esperado pelo povo, proveio da profunda comunhão com Deus e da disponibilidade total em fazer-se sua servidora. Expressou sua fé no canto de louvor – o Magnificat –, no qual proclamou as maravilhas do Deus e as grandezas de seus feitos em favor dos fracos e pequeninos. A comunhão com Deus desdobrava-se, na vida de Maria, na sua disponibilidade a servir o próximo. A ajuda prestada à prima Isabel é uma pequena amostra do que era a Mãe de Deus no seu dia-a-dia.
O Evangelho relata que ainda no seio de sua mãe, João Batista recebe o Espírito prometido. Reconhece o Messias e o aponta através da exclamação de sua mãe Isabel. É o Espírito Santo que faz com que Isabel e cada um de nós descobrir quem é Jesus: “meu Senhor”. Isabel apresenta-nos Maria como discípula de Jesus: “Bem-aventurada àquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor”. Maria é o modelo para quem segue o Senhor. Ela escuta a Palavra de Deus e medita-a no seu coração. Só se é verdadeiro discípulo de Jesus, imitando o estilo de Maria.
Em Maria, humilde serva, Deus tem espaço para operar maravilhas. Nenhuma lição de vida é mais educadora e santificadora que Maria... No magnificat, Maria agradece ao Senhor “a quem se deve à honra e a glória”. A Virgem que recebeu, em Nazaré, o Filho de Deus hoje é elevada ao seio da Santíssima Trindade e agradece as maravilhas da história da nossa salvação, onde o Deus santo e eterno nos convoca para a santidade de vida. Maria proclama a missão fundamental de Nosso Senhor: a ação de Deus em favor dos pobres e dos humildes, que tem a sua meta básica em Nossa Senhora que se despiu de tudo para servir com alegria. O “Magnificat” de Maria é o hino de agradecimento a Deus, em função do mistério divino-humano de Jesus.
Não há maior glória do que a que recebeu Maria, escolhida para ser a mãe de Jesus, o Filho de Deus. De seu ventre virginal nasceu o Salvador da humanidade. Terminado seu tempo de vida terrestre, Maria foi "assunta", isto é, levada ao céu em corpo e alma. O que a tradição cristã diz é que Ela nem mesmo morreu, apenas "dormiu". Narra também que foram os anjos Gabriel e Miguel que A levaram ao céu. Deus queria conservar a integridade do corpo daquela que gerou seu Filho. Maria foi a primeira a servir a Cristo na fé. Maria é a primeira a participar na plenitude de sua glória, porque ela é a mais perfeita das criaturas. Ela foi acolhida completamente no céu porque acolheu nela o Céu - indissociavelmente. Assunta ao céu, Maria experimentou, em plenitude, a comunhão vivida na Terra.
A festa da assunção de Nossa Senhora leva-nos a repensar todo o seu peregrinar neste nosso mundo, pois, trata de celebrar o desfecho de sua caminhada. O fim da existência terrena de Maria consistiu na plenificação de todos os seus anseios de mulher de fé e disponível para servir. A estreita conexão entre a existência terrena de Maria e a sua sorte eterna foi percebida desde cedo pela comunidade cristã, apesar de a Bíblia não contar os detalhes de sua vida e de sua morte. A comunidade deu-se conta de que Deus assumiu e transformou toda a sua história, suas ações e seu corpo.
Maria é o grande sinal espiritual de Deus para o povo. Em sua Assunção, reconhecemos a revelação da realização do plano de Deus para a humanidade. O grande mérito de Maria é ter acreditado: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Serão cumpridas nela, para todo o povo, as promessas de Deus. Maria se torna modelo do povo de Deus, ao acreditar na Palavra, pois disse: “Faça-se em mim, segundo a Tua Palavra”. Maria é “serva do Senhor”, pois, continua a serviço do povo de Deus, solidária com sua aventura divina. Com tantos nomes, ela se identifica com o povo que a ama.
A oração viva e a atitude de Maria é um modelo de entrega à vontade de Deus. Era o assumir do projeto de Deus - justiça, libertação, solidariedade e salvação integral. Por isso, Lucas põe na boca de Maria o grande Cântico do Magnificat, atualizando o Canto de Ana, cantando a grandeza do nosso Deus, que se põe ao lado dos humilhados e sofridos, e derruba os poderosos e prepotentes! O texto de hoje nos lembra que Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o projeto de Deus para um mundo fraterno. Se ela estivesse entre nós hoje, sem dúvida ela - como também Jesus - estaria nos movimentos e pastorais sociais, lutando pela vida digna de todos e celebrando com os irmãos e irmãs a fé no Deus de Justiça, Libertação e Salvação. Maria assunta ao céu, de corpo e alma, é sinal da vida do povo grávido de Deus que aguarda a revelação da glória, é a esperança da ressurreição já realizada.
A Assunção é a Páscoa de Maria. Mãe da Igreja, a Igreja olha para Maria como figura do seu futuro e da sua pátria. Por Maria, o Filho de Deus visita-nos e fica conosco. Esta presença do Senhor é manifestada, também, na ação pastoral: em nosso testemunho, o encontro comunitário com os irmãos de caminhada e com o Senhor que nos visita nos sacramentos, a sua visita nas ações sociais... Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o projeto de Deus para um mundo fraterno. Portanto, escutemos a voz forte e suave do Pastor da Messe, que derramando sobre nós o teu Espírito, nos dê sabedoria para ver o caminho, generosidade para seguir tua voz e preparar para a comunhão plena contigo. Que celebrando a Assunção da Virgem Maria aos Céus, a exemplo de Maria, medianeira, vocacionada; neste mês das vocações, grávidos do Verbo Divino, Jesus; o Senhor renova em nós a aliança e nos dá um novo sentido para a nossa vida. Assim seja! Amém.
Maria assunta ao céu, de corpo e alma, é sinal da vida do povo grávido de Deus que aguarda a revelação da glória. Que a exemplo de Maria, medianeira, vocacionada, grávidos do Verbo Divino, Jesus, Escutemos a voz forte e suave do Pastor da Messe: 'Vem e Segue-me'! Derramando sobre nós o teu Espírito, nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz.
Assumindo responsavelmente o projeto de Deus, Maria é figura e esperança de quantos aspiram por liberdade e vida. Ela vem reforçar a confiança dos pobres, ao mostrar que neles o poderoso opera maravilhas de libertação. Serva fiel, bem-aventurada porque acreditou nas promessas, solidária com os necessitados, é mãe das comunidades que lutam contra os dragões que procuram matar as sementes do Reino e roubar-lhes as esperanças. Associada intimamente a Jesus por sua maternidade e mais ainda pela prática da Palavra, participa da vitória de Cristo, primícias da vida em plenitude. O canto de Maria, a bem aventurada, assunta ao Céu é luz e nos estimula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de Jesus. Assim seja! Amém.

domingo, 7 de agosto de 2016

Espera ativa pelo Reino


Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, a Palavra de Deus convida-nos à vigilância: o verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, numa existência de comodismo e resignação, mas está sempre atento e disponível para acolher o Senhor, para escutar os seus apelos e para construir o “Reino”.

A primeira leitura apresenta-nos as palavras de um “sábio” anônimo, para quem só a atenção aos valores de Deus gera vida e felicidade. A comunidade israelita – confrontada com um mundo pagão e imoral, que questiona os valores sobre os quais se constrói a comunidade do Povo de Deus – deve, portanto, ser uma comunidade “vigilante”, que consegue discernir entre os valores efêmeros e os valores duradouros, trata-se de eu saber o que quero, de ter idéias claras quanto ao sentido da minha vida e de, em cada instante, atuar em conformidade. 
A leitura chama a atenção para a diferença que há entre o viver de acordo com os valores da fé e o viver de acordo com propostas quiméricas de felicidade e de bem-estar… O “sábio” que nos fala assegura que só a fidelidade aos caminhos de Deus gera vida e libertação. 

A segunda leitura apresenta Abraão e Sara, modelos de fé para os que creem em todas as épocas. Atentos aos apelos de Deus, empenhados em responder aos seus desafios, conseguiram descobrir os bens futuros nas limitações e na caducidade da vida presente. É essa atitude que o autor da Carta aos Hebreus recomenda a todos (as).
É precisamente nos exemplos que o autor da carta quer propor aos cristãos que vivam na fé, esperando a concretização dos dons futuros que Deus vos reserva e caminhem pela vida como peregrinos, sem desanimar, de olhos postos na pátria definitiva.
O cristão deve ser o homem da serenidade e da paz; ele sabe que a sua existência não se conduz ao sabor das marés, mas que o sentido da vida está para além dos êxitos ou dos fracassos que o dia a dia traz. Guiado pela fé, ele tem sempre diante dos olhos essas realidades últimas, que dão sentido pleno àquilo que aqui acontece.

O Evangelho apresenta uma catequese sobre a vigilância. Propõe aos discípulos de todas as épocas uma atitude de espera serena e atenta do Senhor, que vem ao nosso encontro para nos libertar e para nos inserir numa dinâmica de comunhão com Deus. O verdadeiro discípulo é aquele que está sempre preparado para acolher os dons de Deus, para responder aos seus apelos e para se empenhar na construção do “Reino”.
O nosso texto começa com uma referência ao “verdadeiro tesouro” que os discípulos devem procurar e que não está nos bens deste mundo: trata-se do “Reino” e dos seus valores. A questão fundamental é: como descobrir e guardar esse “tesouro”? A resposta é dada em três quadros ou “parábolas”, que apelam à vigilância.
A primeira parábola convida a ter os rins cingidos e as lâmpadas acesas, como homens que esperam o senhor que volta da sua festa de casamento. Os que creem são, assim, convidados a estarem preparados para acolher a libertação que Jesus veio trazer e que os levará da terra da escravidão para a terra da liberdade; e são também convidados a acolherem “o noivo”, Jesus, que veio propor à “noiva”, os homens, a comunhão plena com Deus, a “nova aliança”. 
A segunda parábola aponta para a incerteza da hora em que o Senhor virá. A imagem do ladrão que chega a qualquer hora, sem ser esperado, é uma imagem estranha para falar de Deus; mas é uma imagem sugestiva para mostrar que o discípulo fiel é aquele que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem.
A terceira parábola dirige-se aos animadores da comunidade cristã, que devem permanecer fiéis às suas tarefas de animação e de serviço: se algum deles descuida as suas responsabilidades no serviço aos irmãos e usa as funções que lhe foram confiadas de forma negligente ou em benefício próprio, será castigado. Nos dois últimos versículos, o castigo diversifica-se de acordo o tipo de desobediência: os que desobedeceram intencionalmente serão mais castigados; os que desobedeceram não intencionalmente serão menos castigados. Sublinha-se maior responsabilidade daqueles que, na Igreja, desempenham funções de responsabilidade… A última afirmação: “a quem muito foi dado, muito será exigido, a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá, é claramente dirigida aos responsáveis da comunidade; mas pode aplicar-se a todos os que receberam dons materiais ou espirituais.
Assim, a Palavra de Deus que hoje nos é proposta contém uma interpelação especial a todos aqueles que desempenham funções de responsabilidade, quer na Igreja, no governo, nas autarquias, nas empresas, nas repartições… Convida cada um a assumir as suas responsabilidades e a desempenhar, com atenção e empenho as funções que lhe foram confiadas. A todos aqueles a quem foi confiado o serviço da autoridade, a Palavra de Deus pergunta sobre o modo como nos comportamos: como servos que, com humildade e simplicidade cumprem as tarefas que lhes foram confiadas, ou como ditadores que manipulam os outros ao seu bel-prazer? Estamos atentos às necessidades – sobretudo dos pobres, dos pequenos e dos débeis – ou instalamo-nos no egoísmo e no comodismo e deixamos que as coisas se arrastem, sem entusiasmo, sem vida, sem desafios, sem esperança?
A vida dos discípulos de Jesus tem de ser uma espera vigilante e atenta, pois, o Senhor está permanentemente a vir ao nosso encontro e a desafiar-nos para nos despirmos das cadeias que nos escravizam e para percorrermos, com Ele, o caminho da libertação. Ser cristão não é um trabalho “das nove as cinco”, ou um “hobby” de fim-de-semana; mas é um compromisso a tempo inteiro, que deve marcar cada pensamento, cada atitude, cada opção, vinte e quatro horas por dia… 
Decididamente, Jesus não Se cansa de chamar os seus discípulos a uma vida de pobreza. A verdadeira pobreza consiste em reconhecer a ligação de dependência no amor e na vida. Dito de outro modo, somos convidados a nunca esquecer que tudo o que temos e somos é sempre, antes de mais, um dom. Não somos proprietários da vida. Dela temos apenas usufruto. O nosso Pai confia-nos a vida, para que a façamos frutificar em aventura de amor e abrir o nosso coração para aprender sem cessar a receber e podermos, por nossa vez, doar. 
Há felicidade em receber… Se Jesus declara felizes os servidores que esperam para estarem prontos para servir, é porque vão beneficiar de um privilégio extraordinário: em lugar de servir, vão ser servidos, e logo pelo seu Mestre. O fato de esperar muda totalmente a situação. Jesus recomenda para se vigiar porque é uma atitude daquele que espera. A sua felicidade depende da sua espera ativa pelo Reino em encontrar o verdadeiro tesouro no mundo e na Casa do Pai. Assim seja! Amém.

domingo, 31 de julho de 2016

Na vivência do projeto de Deus, no acúmulo das coisas do Pai


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo questiona-nos acerca da atitude que assumimos face aos bens deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida; e convida-nos a descobrir e a amar esses outros bens que dão verdadeiro sentido à nossa existência e que nos garantem a vida em plenitude.

Na primeira leitura, temos uma reflexão sobre o sem sentido de uma vida voltada para acumular bens… Embora a reflexão não vá mais além, ela constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e dos seus valores e para encontramos aí o sentido último da nossa existência. 
A nossa caminhada nesta terra está, na verdade, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos que esta vida caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência. Só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da vida e preencher a nossa existência.

A segunda leitura convida-nos à identificação com Cristo: isso significa deixarmos os “deuses” que nos escravizam e renascermos continuamente, até que em nós se manifeste o Homem Novo e Mulher Nova, que é “imagem de Deus”. Pois, os cristãos, pelo batismo, identificaram-se com Cristo ressuscitado; dessa forma, morreram para o pecado e renasceram para uma vida nova. Essa vida deve crescer progressivamente, mas manifestar-se-á em plenitude, quando Cristo “aparecer”; Cristo veio fazer: criar uma comunidade de homens e mulheres novos, que sejam no mundo a “imagem de Deus”. Assim, a identificação com Cristo ressuscitado – que resulta do Batismo – é, portanto, um renascimento contínuo que deve levar-nos a parecer-nos cada vez mais com Deus.

No Evangelho, através da “parábola do rico insensato”, Jesus denuncia a falência de uma vida voltada apenas para os bens materiais: a pessoa que assim procede é um “louco”, que esqueceu aquilo que, verdadeiramente, dá sentido à existência. Continuamos a percorrer o “caminho de Jerusalém” e a escutar as lições que preparam os discípulos para serem as testemunhas do Reino. A catequese, que Jesus hoje apresenta, é sobre a atitude face aos bens. 
Jesus escusa-Se, delicadamente, a envolver-Se em questões de direito familiar e a tomar posição por um irmão contra outro: “amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?”. O que estava em causa na questão era a cobiça, a luta pelos bens, o apego excessivo ao dinheiro, talvez por parte dos dois irmãos em causa. A conclusão que Jesus tira explica porque é que Ele não aceita meter-Se na questão: o dinheiro não é a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens, o desejo insaciável de ter é idolatria: não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas do ser humano, não conduz a um autêntico amadurecimento da pessoa. A lógica do “Reino” não é a lógica de quem vive para os bens materiais; quem quiser viver na dinâmica do Reino deverá ter isto presente.
A parábola que Jesus vai apresentar na seqüência ilustra a atitude do homem voltado para os bens perecíveis, mas que se esquece do essencial – aquilo que dá a vida em plenitude. Apresenta-nos um homem previdente, responsável, trabalhador, que até podíamos admirar e louvar; mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive apenas para os bens que lhe asseguram tranqüilidade e bem-estar material, e nisso, já não o podemos louvar e admirar. Esse homem representa, aqui, todos aqueles cuja vida é apenas um acumular sempre mais, esquecendo tudo o resto – inclusive Deus, a família e os outros; representa todos aqueles que vivem uma relação de “circuito fechado” com os bens materiais, que fizeram deles o seu deus pessoal e que esqueceram que não é aí que está o sentido mais fundamental da existência.
A referência à ação de Deus, que põe repentinamente um ponto final nesta existência egoísta e sem significado, não deve ser muito sublinhada: ela serve, apenas, para mostrar que uma vida vivida desse jeito não tem sentido e que quem vive para acumular mais e mais bens é, aos olhos de Deus, um “insensato”.
O que é que Jesus pretende, ao contar esta história? Convidar os seus discípulos a despojar-se de todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem preocupar-se com o futuro? Propor aos que aderem ao Reino uma existência de miséria, sem o necessário para uma vida minimamente digna e humana? Não. O que Jesus pretende é dizer-nos que não podemos viver na escravatura do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa mais importante da nossa vida. A preocupação excessiva com os bens, a busca obsessiva dos bens, constitui uma experiência de egoísmo, de fechamento, de desumanização, que centra o homem e a mulher em si próprio e o impede de estar disponível e de ter espaço na sua vida para os valores verdadeiramente importantes – os valores do Reino. Quando o coração está cheio de cobiça, de avareza, de egoísmo, quando a vida se torna um combate obsessivo pelo “ter”, quando o verdadeiro motor da vida é a ânsia de acumular, o homem torna-se insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e auto-suficiente, incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à margem do Reino.
A Palavra de Deus que aqui nos é servida questiona fortemente alguns dos fundamentos sobre os quais a nossa sociedade se constrói. O capitalismo selvagem que, por amor do lucro, escraviza e obriga a trabalhar até à exaustão e por salários miseráveis homens, mulheres e crianças, continua vivo em tantos cantos do nosso planeta… 
Entre nós, o capitalismo continua a impor a filosofia do lucro, a escravatura do trabalhador, à prioridade dos critérios de planificação, de eficiência, de produção em relação às pessoas. Podemos consentir que o mundo se construa desta forma? Podemos consentir que as leis laborais favoreçam a escravidão do trabalhador? Que podemos fazer? Nós cristãos – nós Igreja – não temos uma palavra a dizer e uma posição a tomar face a isto?
O que Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a deificação da riqueza. Até alguém que fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e colocar neles o seu interesse fundamental… A todos Jesus recomenda: “cuidado com os falsos deuses; não deixem que o acessório vos distraia do fundamental”.
Jesus não é contra a riqueza, nem contra o progresso, nem contra o crescimento do nível de vida. Mas ser rico para si mesmo, é deixar-se aprisionar pelo dinheiro. A vida do homem não depende das suas riquezas. Hoje, o que diria Jesus aos grandes poderosos do mundo, “ricos de podre”, que não têm pejo em lançar para o desemprego milhares de pessoas sem saber qual o seu destino de vida? São pecados graves! Pode dizer-se que se trata de política. Mas trata-se primeiro do Evangelho! Cabe aos cristãos serem testemunhas pela própria vida, pelo próprio exemplo! E lutar contra este estado de coisas, fazendo-nos na vivência do projeto de Deus, no acúmulo das coisas do Pai! Assim seja! Amém.

domingo, 24 de julho de 2016

Rezar o Pai Nosso como se fosse a primeira vez…


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo nos convida a refletir o tema da oração. Ao colocar diante dos nossos olhos os exemplos de Abraão e de Jesus, a Palavra de Deus mostra-nos a importância da oração e ensina-nos a atitude que os crentes devem assumir no seu diálogo com Deus.

A primeira leitura sugere que a verdadeira oração é um diálogo “face a face”, no qual o homem e a mulher – com humildade, reverência, respeito, mas também com ousadia e confiança – apresenta a Deus as suas inquietações, as suas dúvidas, os seus anseios e tenta perceber os projetos de Deus para o mundo e para todos (as).
O diálogo entre Abraão e Deus a propósito de Sodoma confirma esse Deus da comunhão, que vem ao nosso encontro, que entra na sua casa, que Se senta à mesa com ele, que escuta os seus anseios e que lhes dá resposta; e mostra, além disso, um Deus cheio de bondade e de misericórdia, cuja vontade de salvar é infinitamente maior do que a vontade de condenar. É esse Deus “próximo”, cheio de amor, que quer vir ao nosso encontro e partilhar a nossa vida que temos de encontrar: só será possível rezar, se antes tivermos descoberto este “rosto” de Deus.

A segunda leitura, sem aludir diretamente ao tema da oração, convida a fazer de Cristo a referência fundamental, neste contexto de reflexão sobre a oração, podemos dizer que Cristo tem de ser a referência e o modelo do que crêem que reza: quer na freqüência com que se dirige ao Pai, quer na forma como dialoga com o Pai.
Pelo Batismo, o que crê aderiu a Cristo e identificou-se com Cristo; a vida de Cristo passou a circular nele: por isso, o crente – revivificado por Cristo – morreu para o pecado e nasceu para a vida nova do Homem Novo e da Mulher Nova. Em Cristo encontramos, portanto, a vida em plenitude, sem que seja necessário recorrer a mais nada, poderes angélicos, ritos, práticas para ter acesso à salvação. É necessário ter consciência de que o Batismo, identificando-nos com Jesus, constitui um ponto de partida para uma vida vivida ao jeito de Jesus, na doação, no serviço, na entrega da vida por amor. 

O Evangelho senta-nos no banco da “escola de oração” de Jesus. Ensina que a oração do crente deve ser um diálogo confiante de uma criança com o seu “papá”. Com Jesus, somos convidados a descobrir em Deus “o Pai” e a dialogar freqüentemente com Ele acerca desse mundo novo que o Pai/Deus quer oferecer aos homens e mulheres.
O texto que hoje nos é proposto apresenta-nos Jesus a orar ao Pai e a ensinar aos discípulos como orar ao Pai. Não se trata tanto de ensinar uma fórmula fixa, que os discípulos devem repetir de memória, mas mais de propor um “modelo”, mas mostrar às comunidades cristãs qual a atitude que se deve assumir no diálogo com Deus. 
Como é que os discípulos devem, então, rezar? Lucas refere-se a dois aspectos que devem ser considerados no diálogo com Deus. O primeiro diz respeito à “forma”: deve ser um diálogo de um filho com o Pai; o segundo diz respeito ao “assunto”: o diálogo incidirá na realização do plano do Pai, no advento do mundo novo.
Tratar Deus como “Pai” não é novidade nenhuma. No Antigo Testamento, Deus é “como um pai” que manifesta amor e solicitude pelo seu Povo. No entanto, na boca de Jesus, a palavra “Pai” referida a Deus não é usada em sentido simbólico, mas em sentido real: para Jesus, Deus não é “como um pai”, mas é “o Pai”. Ao referir-se a Deus desta forma, Jesus manifesta a intimidade, o amor, a comunhão de vida, que o ligam a Deus.
No entanto, o aspecto mais surpreendente reside no fato de Jesus ter aconselhado os seus discípulos a tratarem a Deus da mesma forma, admitindo-os à comunhão que existe entre Ele e Deus. Porque é que os discípulos podem chamar “Pai” a Deus? Porque, ao identificarem-se com Jesus e ao acolherem as propostas de Jesus, eles estabelecem uma relação íntima com Deus, a mesma relação de comunhão, de intimidade, de familiaridade que unem Jesus e o Pai. Tornam-se, portanto, “filhos de Deus”.
Sentir-se “filho” desse Deus que é “Pai” significa outra coisa: implica reconhecer a fraternidade que nos liga a uma imensa família de irmãos. Dizer a Deus “Pai” implica sair do individualismo que aliena, superar as divisões e destruir as barreiras que impedem de amar e de ser solidários com os irmãos, filhos do mesmo “Pai”.
Desta forma, Cristo convida os discípulos a assumirem, na sua relação e no seu diálogo com Deus, a mesma atitude de Jesus: a atitude de uma criança que, com simplicidade, se entrega confiadamente nas mãos do pai, acolhe naturalmente a sua ternura e o seu amor e aceita a proposta de intimidade e de comunhão que essa relação pai/filho implica; convida, também, os discípulos a assumirem-se como irmãos e a formarem uma verdadeira família, unida à volta do amor e do cuidado do “Pai”.
Definida a “atitude”, falta definir o “assunto” ou o “tema” da oração. Na perspectiva de Jesus, o diálogo do crente com Deus deve, sobretudo, abordar o tema do advento do Reino, do nascimento desse mundo novo que Deus nos quer oferecer. A referência à “santificação do nome” expressa o desejo de que Deus se manifeste como salvador aos olhos de todos os povos e o reconhecimento por parte dos homens, da justiça e da bondade do projeto de Deus para o mundo; a referência à “vinda do Reino” expressa o desejo de que esse mundo novo que Jesus veio propor se torne uma realidade definitivamente presente na vida dos homens; a referência ao “pão de cada dia” expressa o desejo de que Deus não cesse de nos alimentar com a sua vida, na forma do pão material e na forma do pão espiritual; a referência ao “perdão dos pecados” pede que a misericórdia de Deus não cesse de derramar-se sobre as nossas infidelidades e que, a partir de nós, ela atinja também os outros irmãos que falharam; a referência à “tentação” pede que Deus não nos deixe seduzir pelo apelo das felicidades ilusórias, mas que nos ajude a caminhar ao encontro da felicidade duradoura, da vida plena…
Duas parábolas finais completam o quadro. O acento da primeira não deve ser posto tanto na insistência do “amigo importuno”, mas mais na ação do amigo que satisfaz o pedido; o que Jesus pretende dizer é: se os homens e mulheres são capazes de escutar o apelo de um amigo importuno, ainda mais Deus atenderá gratuitamente aqueles que se Lhe dirigem. A segunda parábola convida à confiança em Deus: Ele conhece-nos bem e sabe do que necessitamos; em todas as circunstâncias Ele derramará sobre nós o Espírito, que nos permitirá enfrentar todas as situações da vida com a força de Deus.
O Evangelho de Lucas sublinha o espaço significativo que Jesus dava, na sua vida, ao diálogo com o Pai – nomeadamente, antes de certos momentos determinantes, nos quais se tornava particularmente importante o cumprimento do projeto do Pai. A forma como Jesus Se dirige a Deus mostra a existência de uma relação de intimidade, de amor, de confiança, de comunhão entre Ele e o Pai, de tal forma que Jesus chama a Deus “papá”; e Ele convida os seus discípulos a assumirem uma atitude semelhante quando se dirigem a Deus. 
O “Pai Nosso” é a única oração que Jesus ensinou aos seus discípulos. É também a própria oração de Jesus. “Senhor, ensina-nos a orar”. Como se fosse a primeira vez, como os discípulos, coloquemo-nos sem cessar na escola de Jesus para rezar. Reaprender d’Ele o sentido e a força das palavras que Ele nos deixou. Redizê-las, saboreá-las e deixar que elas nos transformem, procuramos rezá-las como se fizéssemos uma primeira descoberta recebendo-as da própria boca de Jesus. Rezar o Pai Nosso como se fosse a primeira vez…E também rezar e viver o Pai Nosso dos Mártires: Pai nosso, dos pobres marginalizados / Pai nosso, dos mártires, dos torturados. Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida, Teu nome é glorificado, quando a justiça é nossa medida / Teu reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão/ Maldita toda a violência que devora a vida pela repressão... Perdoa-nos quando por medo ficamos calados diante da morte, Perdoa e destrói os reinos em que a corrupção é a lei mais forte... Pai nosso revolucionário, Parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos Pai nosso, revolucionário, Parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos. Assim seja! Amém.

domingo, 10 de julho de 2016

"Então vai e faz o mesmo"


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo procura definir o caminho para encontrar a vida eterna. É no amor a Deus e aos outros – dizem os textos que nos são propostos – que encontramos a vida em plenitude.

A primeira leitura reflete, sobretudo, sobre a questão do amor a Deus. Convida os que creem a fazer de Deus o centro da sua vida e a amá-lo de todo o coração. Como? Escutando a sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos seus mandamentos.
Fundamentalmente, estamos diante de um convite a aderir com todo o coração e com todo o ser às propostas e aos mandamentos de Deus. Este convite a aderir com todo o coração e com todo o ser às propostas de Deus leva-nos a questionar a qualidade da nossa adesão. Não pode ser uma adesão a meio-gás ou a tempo parcial – de acordo com os nossos interesses; mas tem de ser uma adesão total, completa, plenamente empenhada, a “fundo perdido”. 

Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que propõe Cristo como a referência fundamental, como o centro à volta do qual se constrói a história e a vida de cada crente. O texto foge, um tanto, à temática geral das outras duas leituras; no entanto, a catequese sobre a centralidade de Cristo leva-nos a pensar na importância do que Ele nos diz no Evangelho de hoje. Se Cristo é o centro a partir do qual tudo se constrói, convém escutá-l’O atentamente e fazer do amor a Deus e aos outros uma exigência fundamental da nossa caminhada.

O Evangelho sugere que essa vida plena não está no cumprimento de determinados ritos, mas no amor a Deus e aos irmãos. Como exemplo, apresenta-se a figura de um samaritano – um herege, um infiel, segundo os padrões judaicos, mas que é capaz de deixar tudo para estender a mão a um irmão caído na beira da estrada. “Vai e faz o mesmo” – diz Jesus a cada um dos que o querem seguir no caminho da vida plena.
O que está em jogo no texto que nos é proposto é uma pergunta de um mestre da Lei: “o que fazer, a fim de conseguir a vida eterna?”. A resposta é previsível e evidente, de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus, fazer de Deus o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Jesus concorda: até aqui, a proposta de Jesus não acrescenta nada de novo àquilo que a própria Lei sugere.
A dúvida do mestre da Lei vai, no entanto, mais fundo: “e quem é o meu próximo?” É uma questão pertinente, neste contexto. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”. Naturalmente, havia opiniões mais abrangentes e opiniões mais particularistas e exclusivistas; mas havia consenso entre todos no sentido de excluir da categoria “próximo” os inimigos: de acordo com a Lei, o “próximo” era apenas o membro do Povo de Deus. Jesus, no entanto, tinha uma perspectiva diferente dos “fazedores de opinião” de Israel. É precisamente para explicar a sua perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.
A parábola situa-nos nessa estrada entre a cidade santa de Jerusalém e o oásis de Jericó. Na época de Jesus, é uma estrada perigosa, sempre infestada de bandos armados. Ora “um homem” não identificado, não se diz quem é, de que raça é, qual a sua religião, mas apenas que é “um homem”, embora, pelo contexto, possa depreender-se que é um judeu, foi assaltado pelos bandidos e deixado caído na beira da estrada. Trata-se, portanto, e isso é que é preponderante, de “um homem” ferido, abandonado, necessitado de ajuda.
Pela estrada passaram sucessivamente um sacerdote, que conhecia a Lei e que exercia funções litúrgicas no templo e um levita, ligado à instituição religiosa judaica e que exercia, também, funções litúrgicas no templo. Ambos passaram adiante: ou o medo de enfrentar a mesma sorte, ou as preocupações com a pureza legal, que impedia contatar com um cadáver, ou a pressa, ou a indiferença diante do sofrimento alheio, impede-os de parar. Apesar dos seus conhecimentos religiosos, não têm qualquer sentimento de misericórdia por aquele homem. Eles sabem tudo sobre Deus, lidam diariamente com Deus mas, afinal, não sabem nada de Deus, pois, não sabem nada de amor. A sua religião é uma religião oca, de ritos estéreis, de gestos vazios e sem sentido, de cerimônias solenes, mas não tem nada a ver com o amor, com o coração.
Pela estrada passou, finalmente, um samaritano. Trata-se de um desses que a religião tradicional de Israel considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e do amor de Deus… No entanto, foi ele que parou, sem medo de correr riscos ou de adiar os seus esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o salvou. Apesar de ser um herege, um excomungado, mostra ser alguém atento ao irmão necessitado, com o coração cheio de amor e, portanto, cheio de Deus.
Jesus conclui a parábola dizendo ao mestre da Lei que o interrogara: “então vai e faz o mesmo”. A verdadeira religião que conduz à vida plena passa pelo amor a Deus, traduzido em gestos concretos de amor pelo irmão – por todo o irmão, sem exceção.
Trata-se de ver em cada pessoa – sem exceção – um irmão e de lhe dar a mão sempre que ele necessitar. Qualquer pessoa ferida com quem nos cruzamos nos caminhos da vida tem direito ao nosso amor, à nossa misericórdia, ao nosso cuidado – seja ela branca ou negra, portuguesa ou ucraniana, cristã ou muçulmana, fascista ou comunista, pobre ou rica… A verdadeira religião que conduz à salvação passa por este amor sem limites.
Recordemos que a pergunta inicial era: “o que fazer para alcançar a vida eterna”… A conclusão é óbvia: para alcançar a vida eterna é preciso amar a Deus e amar o próximo. O “próximo” é qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, da mesma raça ou doutra raça qualquer; o “próximo” é qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessita, para se levantar, da nossa ajuda e do nosso amor. Neste gesto do samaritano, a Igreja de todos os tempos, a comunidade dos que caminham ao encontro da vida plena, da salvação, reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a de levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida.
Assim, para o discípulo de Jesus, não há mais estrangeiro. Todo o homem torna-se próximo para mim, na medida em que eu o considero como um irmão. Sem dúvida, temos ainda muito trabalho para concretizar nas nossas vidas o ensinamento do Senhor! Mas Jesus vai ainda mais longe. É bom respeitá-las. Por exemplo, é bom não faltar à missa ao domingo. Mas se, no resto da minha vida, esqueço as exigências evangélicas do amor, arrisco passar ao lado do meu irmão ferido.
O doutor da Lei compreendeu tudo. Para ele, o próximo é o que se aproxima do seu irmão, e que tem bondade para com ele. A diferença entre o sacerdote e o levita, e o samaritano, é que os dois primeiros contentam-se em ver e passar ao lado, sem dúvida para não se sujarem ao tocar o sangue, enquanto o terceiro aproxima-se, vê e enche-se de compaixão. O sacerdote e o levita conhecem a Lei, conhecem o duplo mandamento do amor: passando ao lado do caminho, respeitam a Lei que proíbe tocar no sangue… Eles sabem. Ora, é o samaritano que talvez não saiba a Lei, mas faz prova de bondade, é ele que põe em prática a Lei de Deus. Então, é o samaritano que terá a vida, como promete Jesus, na medida em que faz o que Deus quer, mesmo se ele não sabe. E Jesus, o Mestre, do mesmo modo que convida o doutor da Lei, convida também este a fazer o mesmo, para ter a Vida, observando verdadeiramente a Lei divina. 
Trata-se, portanto, de fazer com que o amor percorra as duas coordenadas fundamentais da nossa existência – a vertical, relação com Deus e a horizontal, relação com os outros homens e mulheres. É por aqui que passa a nossa realização plena. Estou do lado do sacerdote e do levita, ou do lado do samaritano? Quem é meu próximo? Também a mim, Jesus diz-me: “Então vai e faz o mesmo”.

domingo, 3 de julho de 2016

Pedro e Paulo, missionários da fé


Irmãos e irmãs em Cristo,
Na alegria do encontro, para celebrar nossa vida de comunidade, nossa fé no Ressuscitado, celebramos às duas colunas da Igreja: São Pedro e São Paulo, mártires e missionários da Santa Igreja.

A Leitura dos Atos dos Apóstolos traz reflexão a partir da libertação de Pedro da prisão, e o fez sob o poder e a proteção divina, quantas vezes estamos em uma situação complicada e aparece alguém que ajuda-nos. Deus age na escuridão da noite mostrando-nos que quando por causa da nossa fragilidade, não conseguimos enxergar o que vem pela frente, o próprio Deus toma à nossa frente, conduzindo-nos à libertação. Acontece com Pedro mesmo que acontecera com Jesus. Assim como o Pai libertou Jesus da morte, o anjo do Senhor liberta Pedro da prisão.
É na fé que percebemos a ação de Deus em nossa vida como Pedro, que foi liberto de maneira prodigiosa da prisão por um anjo do Senhor. A verdadeira fé nos leva a esse reconhecimento “agora sei que Deus enviou-me o seu anjo que me libertou dos meus inimigos”,

Paulo revela-nos um trecho de despedida e uma espécie de testamento próprio: “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.” Prisioneiro em Roma e aguardando o julgamento final, passou a esperança de ser libertado e se prepara para enfrentar a execução. A morte de Paulo é um fato transcendental porque é assumida e vivida à luz da fé. O tom de generosidade, serenidade, confiança absoluta e plena consciência com que o apóstolo Paulo se coloca diante da morte iminente exprime sua vida como um todo.
Paulo não anunciou o Evangelho só para pregação, mas a sua pessoa é testemunho vivo e convincente da Boa Nova da cruz. A maneira como ele se conduziu na vida e na morte é pregação viva. Paulo constitui-se assim, em matéria e conteúdo da pregação. Esse falar sublime de si mesmo, quase perdendo de vista sua condição humana, possui plena consciência de que o que fez não foi ele que realizou, mas o Cristo que nele vive e por quem ele vive. A vida do Apóstolo Paulo é referência do que o Evangelho pode realizar na vida do Cristão.

No Evangelho, Mateus apresenta Jesus pergunta a seus discípulos quem as pessoas pensam que ele é, e os discípulos lhe respondem: João Batista, outros que é Elias, Jeremias ou algum dos antigos profetas. Jesus então dirige a pergunta aos próprios discípulos: “É vós, quem dizeis que eu sou”?
É de fundamental importância essa pergunta para a vida cristã. Cada batizado, discípulo de Jesus precisa se perguntar: “Quem é Jesus para mim”? A resposta de Pedro: “Tu és o Messias, o Cristo, o Filho de Deus Vivo”. Esta verdadeira confissão de fé, que Pedro faz em nome de todos, é a pedra fundamental sobre a qual Cristo edifica a sua igreja, isto é, comunidade daqueles que creem, acesso pleno ao Reino do Céu; revelada pelo próprio Pai do Céu.
Pedro recebeu de Jesus o encargo de confirmar os irmãos na fé, de ser a pedra sobre a qual foi construída a Igreja que professa: “Tu és o Messias, o Cristo, o Filho de Deus Vivo”. O apóstolo Paulo é considerado o primeiro grande missionário da Igreja. Ele viaja pelo mundo pregando o Evangelho e formando comunidades de fé. O Papa, sucessor de Pedro, tem como missão cuidar da Igreja, povo de Deus, para que ela permaneça unida e fiel a Jesus Cristo, sendo discípula missionária.
Os apóstolos de Jesus marcaram a espiritualidade e o estilo de vida de nossa Igreja. Suas vidas são lugares privilegiados de encontro com Jesus Cristo. Seu testemunho se mantém atual e seus ensinamentos inspiram o ser e a ação das comunidades cristãs. Entre eles, Pedro o apóstolo, a quem Jesus confiou a missão de confirmar a fé de seus irmãos, ajuda-nos a estreitar o vínculo de comunhão com o Papa, seu sucessor, e a buscar em Jesus as palavras de vida eterna. As contínuas prisões de Pedro fazem-no prolongar a paixão de Jesus. Convertido, Paulo, o evangelizador incansável, persegue os cristãos sem saber que, perseguidos, eles revivem a paixão do Mestre; Paulo se torna o maior propagador do Evangelho de Cristo, nos indica o caminho da audácia missionária e a vontade de se aproximar de cada realidade cultural com a Boa Nova do Senhor Jesus.
A confiança que Jesus depositou em Pedro decorreu do fato de ter sido objeto da predileção divina. Sua confissão de fé - "Tu és o Cristo!" - não resultou de sabedoria humana, nem tampouco do empenho pessoal para reconhecê-lo. Foi, sim, obra da revelação do Pai. E ele, na certa, continuará a inspirá-lo e revelar-lhe a identidade do Messias Jesus. Enquanto a multidão divaga e tem extrema dificuldade em apreender o mistério que se oculta sob a pessoa do Rabi da Galileia, o velho pescador – sem nenhum apoio em sua própria e limitada natureza humana – recebe do Espírito Santo as luzes interiores necessárias para identificar seu Mestre como o Messias esperado por Israel. E vai muito além: Jesus é o Filho de Deus!
É suficiente para que Jesus defina o Apóstolo Pedro como a “rocha”, equivalente ao latim petra, Petrus. Se Jesus é a verdadeira “pedra angular”, ele deixará a Pedro como a “rocha” da Igreja, seu corpo místico. A profissão de fé de Pedro é suficiente para que o Senhor o coloque à frente da Igreja.
O símbolo das “chaves” aponta para uma faculdade ou poder que Jesus Cristo entrega nas mãos de sua Igreja, centrada na figura de Pedro: ligar e desligar, fechar e abrir. Após a ressurreição, Jesus Cristo será ainda mais claro, referindo-se ao poder de perdoar ou não os pecados. Com as “chaves” nas mãos, os herdeiros do ministério apostólico poderão abrir os tesouros de Cristo confiados à Igreja e distribuí-los entre os fiéis. Ao cortar os laços que os prendem ao pecado, com a absolvição, reconciliam os pecadores com a Igreja. Podem também definir quem está ligado, ou não, ao corpo de Cristo. Obviamente, não se trata de um poder discricionário, a ser desempenhado com arbítrio e despotismo. Ao contrário, o “poder das chaves” constitui um permanente serviço à Igreja e à humanidade, alvos do amor entranhado do próprio Senhor.
A Festa de São Pedro e São Paulo, que celebramos nesse domingo, nos faz pensar na origem de nossas comunidades. Como tudo começou? Quando foi a primeira celebração, quem fez? Como é que a comunidade cresceu e se desenvolveu para chegar aos dias de hoje? Uma coisa é muito certa: o fundador ou fundadores devem ter feito uma experiência muito profunda com Jesus Cristo, pois sem isso, a comunidade não teria um alicerce, alguém em quem apoiar-se para poder crescer e cumprir a sua missão.
Paulo foi tão marcante na vida das comunidades, que esse apóstolo é mencionado como o segundo fundador da nossa Igreja. Paulo não ficou só na mística, sistematizou alguns pontos doutrinários importantes, organizou as comunidades que havia iniciado, e o mais bonito, mesmo pensando um pouco diferente do Chefe dos Apóstolos, manteve-se firme em comunhão com ele e os irmãos da Igreja de Jerusalém, com quem aliás, sempre foi solidário, ao organizar coletas que levava para a Igreja mãe.
São Paulo é o modelo fiel do cristão autêntico, que faz a experiência com Jesus, se encanta com o seu ensinamento, desfaz o seu projeto de vida por causa dele e torna-se um fiel seguidor do evangelho, dando por ele a própria vida como aconteceu em seu martírio. São Paulo sempre acreditou nas comunidades, mesmo quando havia indícios de desunião, problemas internos, acreditava nas pessoas. Outra coisa importante na pessoa de Paulo, é que ele promoveu uma ação evangelizadora em ambiente hostil á Cristo e ao seu evangelho, era corajoso e nunca teve medo de anunciar a Verdade.
Isso nos leva a pensar que muitas vezes somos acomodados, quando ficamos esperando que as pessoas venham procurar nossa pastoral ou movimento, parece que a gente não se sente seguro para falar do evangelho no meio do mundo, lá onde as pessoas precisam escutar esse anúncio, porque achamos que não vão gostar e que algumas vão ser contra. Se São Paulo pensasse assim, milhares de pessoas, ontem e hoje, não teriam conhecido a Jesus.
São Pedro é chamado o príncipe dos apóstolos, isso é, aquele que iniciou o apostolado, e vemos no evangelho de hoje, porque o próprio Cristo o constituiu chefe da sua igreja. Ele conseguiu enxergar em Jesus algo muito mais do que se falava, o povo via nele um Messias Profeta, comparável a João Batista ou a Elias, outro grande profeta na História de Israel, mas esse pensamento era fruto de uma ideologia, e a era messiânica que todos aguardavam com ansiedade, representava uma nova política, uma inversão do quadro, o Messias era um libertador Político, enviado por Deus sim, porém, com uma missão terrena.
Os apóstolos de Jesus marcaram a espiritualidade e o estilo de vida de nossa Igreja. Suas vidas são lugares privilegiados de encontro com Jesus Cristo. Seu testemunho se mantém atual e seus ensinamentos inspiram o ser e a ação das comunidades cristãs. Entre eles, Pedro o apóstolo, a quem Jesus confiou a missão de confirmar a fé de seus irmãos, ajuda-nos a estreitar o vínculo de comunhão com o Papa, seu sucessor, e a buscar em Jesus as palavras de vida eterna. As contínuas prisões de Pedro fazem-no prolongar a paixão de Jesus. Convertido, Paulo, o evangelizador incansável, persegue os cristãos sem saber que, perseguidos, eles revivem a paixão do Mestre; Paulo se torna o maior propagador do Evangelho de Cristo, nos indica o caminho da audácia missionária e a vontade de se aproximar de cada realidade cultural com a Boa Nova do Senhor Jesus.

Portanto, reconhecer Jesus é ser um bem-aventurado, através dele o cristão mergulha no projeto de Deus realizado em Jesus. Ninguém chega a entender “quem é Jesus” a não ser mediante o compromisso com a justiça do Reino; torna-se importante lembrar o ensinamento de Jesus sobre o discipulado: Ele "não veio para ser servido, mas para servir”. Assim, herdeiros da experiência de discípulos, missionários, testemunhas e mártires, chamados a assumir e encarnar Jesus em nossas vidas. Com o Espírito de fé no testemunho apostólico, seguindo os passos de Pedro e Paulo, missionários da fé, fazei-nos sensíveis para acolher a revelação do Pai e reconhecer Jesus como "Tu és o Messias, o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Assim seja! Amém.