domingo, 20 de dezembro de 2015

Jesus quer nascer em nós!!!


Irmãos e irmãs,
Nestes últimos dias antes do Natal, a mensagem fundamental da Palavra de Deus gira à volta da definição da missão de Jesus: propor um projeto de salvação e de libertação que leve homens e mulheres à descoberta da verdadeira felicidade.

A primeira leitura sugere que este mundo novo que Jesus, o descendente de David, veio propor é um dom do amor de Deus. O nome de Jesus é “a Paz”: Ele veio apresentar uma proposta de um “reino” de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações de homens e mulheres. A missão de Jesus não passa, pela instauração do trono político de David, mas sim pela proposta de um reino de paz e de amor no coração dos homens.
A mensagem deste texto faz-nos constatar, a presença contínua de Deus na história humana. Apesar do egoísmo e do pecado, Deus continua a preocupar-Se conosco, a querer indicar-nos que caminhos percorrer para encontrar a felicidade. A vinda de Cristo, Aquele que é “a Paz”, insere-se nesta dinâmica.

A segunda leitura sugere que a missão libertadora de Jesus visa o estabelecimento de uma relação de comunhão e de proximidade entre Deus e os homens e mulheres. É necessário que acolhamos esta proposta com disponibilidade e obediência – à imagem de Jesus Cristo – num “sim” total ao projeto de Deus.
Pondo na boca de Jesus as palavras de um salmista, o autor da “Carta aos Hebreus” afirma que, no mundo da nova “aliança”, não é já o sacrifício de animais que realiza a comunhão com Deus, a entrega absoluta do crente a Deus, o perdão dos pecados; é a encarnação de Jesus, a entrega total da vida do próprio Cristo, o seu respeito absoluto pelo projeto e pela vontade do Pai que permitem a aproximação e a relação das pessoas com Deus. Quem quiser descobrir o Pai e aproximar-se d’Ele, olhe para Jesus; porque Jesus ensinou-nos, com a sua obediência ao projeto do Pai, como deve ser essa relação de filiação com Deus. Assim, o encontro com Deus não é feito a partir de rituais externos (as prendas, a comida, os cânticos, as procissões, as orações, as liturgias solenes, o incenso, os paramentos suntuosos), mas é feito a partir de Cristo, o Filho que entrega a vida, a fim de que o projeto do Pai se torne presente na vida dos homens e de que os homens, aprendendo o amor e a entrega total, aceitem tornar-se “filhos de Deus”.

O Evangelho sugere que esse projeto de Deus tem um rosto: Jesus de Nazaré veio ao encontro de homens e mulheres para apresentar aos prisioneiros e aos que jazem na escravidão uma proposta de vida e de liberdade. Ele propõe um mundo novo, onde os marginalizados e oprimidos têm lugar e onde os que sofrem encontram a dignidade e a felicidade. Este é um anúncio de alegria e de salvação, que faz rejubilar todos os que reconhecem em Jesus a proposta libertadora que Deus lhes faz. Essa proposta chega, tantas vezes, através dos limites e da fragilidade dos “instrumentos” humanos de Deus; mas é sempre uma proposta que tem o selo e a força de Deus.

O texto que nos é proposto faz parte do chamado “Evangelho da Infância”. A primeira referência vai para a indicação de que, à saudação de Maria, o menino, João Batista, saltou de alegria no seio da mãe. Trata-se, evidentemente, de uma indicação teológica: para Lucas, Jesus é o Deus que vem ao encontro de homens e mulheres, que tem uma mensagem de salvação/libertação que concretiza as promessas feitas por Deus aos antepassados; logo, a presença de Jesus provoca a alegria, o estremecimento gozoso de todos aqueles que esperam a concretização das promessas de Deus e que veem na chegada de Jesus a realização das promessas de um mundo de justiça, de amor, de paz e de felicidade para todos os homens. Através de Jesus, Deus vai oferecer a salvação a todos; e isso provoca um estremecimento incontrolável de alegria, por parte de todos os que anseiam pela concretização das promessas de Deus.
Temos, depois, a resposta de Isabel à saudação de Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”. Maria é, assim, apresentada – apesar da sua fragilidade – como o instrumento de Deus para concretizar a salvação/libertação de todos (as).
Finalmente, temos a resposta de Maria: “a minha alma enaltece o Senhor…”. A resposta de Maria retoma um salmo de ação de graças, destinado a dar graças a Javé porque protege os humildes e os salva, apesar da prepotência dos opressores. É um salmo de esperança e de confiança, que exalta a preocupação de Deus para com os pobres que são vítimas da injustiça e da opressão. Sugere-se, claramente, que a presença de Jesus, através dessa mulher simples e frágil que é Maria, é um sinal do amor de Deus, preocupado em trazer a libertação a todos os que são vítimas da prepotência e da injustiça dos homens. Com Jesus, chegou esse tempo novo de libertação, de paz e de felicidade anunciado pelos profetas.
A presença de Jesus neste mundo é, claramente, a concretização das promessas de salvação e de libertação feitas por Deus ao seu Povo. Com Jesus, anuncia-se a eliminação da opressão, da injustiça, de tudo aquilo que rouba e que limita a vida e a felicidade dos homens. Jesus, ao “nascer” entre nós, tem por missão propor um mundo onde a justiça, os direitos humanos, a dignidade, a vida e a felicidade das pessoas são absolutamente respeitados. Dizer que Jesus, hoje, nasce no nosso mundo significa propor esta mensagem libertadora e salvadora. O “estremecimento” de alegria de João Batista no seio de Isabel é o sinal de que o mundo espera com ânsia uma proposta verdadeiramente libertadora.
A proposta libertadora de Deus para os homens e mulheres alcança o mundo através da fragilidade de uma mulher, recorda o contexto social de uma sociedade patriarcal, onde a mulher pertence à classe dos que não gozam de todos os direitos civis e religiosos, que aceita dizer “sim” a Deus. É necessário ter consciência de que é através dos nossos limites e da nossa fragilidade que Deus alcança as pessoas e propõe o seu projeto ao mundo. Assim, Maria, após ter conhecimento de que vai acolher Jesus no seu seio, parte ao encontro de Isabel e fica com ela, solidária com ela, até ao nascimento de João.

A Palavra, evidentemente, está no centro da festa do Natal que se aproxima, pois “a Palavra de Deus fez-se carne e habitou entre nós”. Dizemos “Palavra do Senhor”, “Palavra da salvação”! Convite a anunciar a Palavra de Deus… Diz a sabedoria popular com razão: “A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro”. Deus, melhor do que ninguém, conhece e põe em prática este provérbio! Quando envia a Palavra, começa por um silêncio… Os anjos anunciam, José e Maria fazem silêncio… assim como menino recém-nascido, após os normais gritos do nascimento… O coração do Natal é, acima de tudo, um grande silêncio. E, para terminar, o silêncio de Jesus na cruz… E agora, hoje, muitas vezes Deus continua a calar-se… Deus quer, antes de mais, dar-nos o seu silêncio, estabelecer entre Ele e nós um espaço de silêncio… Falamos demasiado… Eis porque Deus começa por se calar, para que o seu próprio silêncio se torne mensagem, convite a nos tornarmos atentos à sua presença. Nesta semana de Natal, procuremos estar unidos ao silêncio de José, de Maria e de Jesus. Assim, talvez ouçamos, nós também, no fundo do nosso coração, uma música muito doce, como um murmúrio de Deus que vem dizer-nos que, é dentro de nós que Ele, Jesus, quer nascer!

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