domingo, 15 de novembro de 2015

Jesus Cristo, luz da vida, ontem, hoje e sempre


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo apresenta-nos, fundamentalmente, um convite à esperança. Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um projeto de vida definitiva para os homens e mulheres. Ele vai – dizem os nossos textos – mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim.

A primeira leitura anuncia aos que creem perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus para salvar o Povo fiel. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna.
Essa intervenção iminente de Deus não atingirá, na perspectiva do nosso autor, somente aqueles que ainda caminham na história; mas Deus irá, também, ressuscitar os que já morreram, a fim de lhes dar o prêmio pela sua vida de fidelidade ou o castigo pelas maldades que praticaram. Em concreto, o autor estará a falar daquilo que costumamos chamar “o fim do mundo”? O que ele está a falar é de uma intervenção de Deus que porá fim ao mundo da injustiça, da opressão, da prepotência, de morte e que iniciará um mundo novo, de justiça, de felicidade, de paz, de vida verdadeira.
O nosso texto garante a vida eterna àqueles que procuraram viver na fidelidade aos valores de Deus. A certeza de que a vida não acaba na morte liberta-nos do medo e dá-nos a coragem do compromisso. Podemos, serenamente, enfrentar neste mundo as forças da opressão e da morte, porque sabemos que elas não conseguirão derrotar-nos: no final da nossa caminhada por este mundo, está sempre a vida eterna e verdadeira, que Deus reserva para os que estão “inscritos no livro da vida”.

A segunda leitura lembra que Jesus veio ao mundo para concretizar o projeto de Deus no sentido de libertar-nos do pecado e de o inserir numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. É esse o caminho do mundo novo e da vida definitiva.
Cumprida a sua missão na terra, Jesus “sentou-Se para sempre à direita de Deus”. Esta imagem de triunfo e de glória mostra, não apenas como o caminho percorrido por Cristo é um caminho que tem a aprovação de Deus mas, sobretudo, qual é a “meta” final da caminhada do homem: a divinização, a comunhão com Deus, a pertença à família de Deus. Se o caminho da fidelidade aos projetos de Deus e da entrega por amor aos irmãos levou Jesus a sentar-Se à direita do Pai, também aqueles que seguem Jesus chegarão à mesma meta e sentar-se-ão, por sua vez, à direita de Deus.
O autor da Carta aos Hebreus exorta os cristãos a viverem na fidelidade aos compromissos que assumiram com Cristo no dia do seu Batismo. Quem, apesar das dificuldades, percorre o mesmo caminho de Cristo, está destinado a sentar-se “à direita de Deus” e a viver, para sempre, em comunhão com Deus.

No Evangelho, Jesus garante-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer aparecer um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede que estejam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade e disponíveis para acolher os projetos, os apelos e os desafios de Deus.
Os dois primeiros versículos do nosso texto referem-se – com imagens tiradas da tradição profética e apocalíptica – à queda desse mundo velho que se opõe a Deus e que persegue os que creem. Em Isaías, o obscurecimento do sol, da lua e das estrelas anuncia o dia da intervenção justiceira de Javé para destruir o império babilônico e para libertar o Povo de Deus exilado numa terra estrangeira. Ora, é esta linguagem que Marcos vai utilizar para descrever a falência dos impérios que lutam contra Deus e contra os seus santos. A mensagem é evidente: está para acontecer uma viragem decisiva na história; a velha ordem religiosa e política, os poderes que se opõem a Deus e que perseguem os santos, irão ser derrubados, a fim de darem lugar a um mundo novo, construído de acordo com os critérios e os valores de Deus. Marcos não se refere, aqui, àquilo que nós costumamos chamar “o fim do mundo”; mas refere-se, genericamente, à vitória de Deus sobre o mal que oprime e escraviza aqueles que optaram por Deus e pelas suas propostas.
A queda desse mundo velho aparece associada à vinda do Filho do Homem. O “Filho do Homem, cheio de poder e de glória, que virá “reunir os seus eleitos”, não pode ser outro senão Jesus. Com esta imagem, Marcos assegura aos que creem o triunfo definitivo de Cristo sobre os poderes opressores e a libertação daqueles que, apesar das perseguições, continuaram a percorrer com fidelidade os caminhos de Deus.
A mensagem proposta por Marcos é clara: espera-vos um caminho marcado pelo sofrimento e pela perseguição; no entanto, não vos deixeis afundar no desespero porque Jesus vem. Com a sua vinda gloriosa (de ontem, de hoje, de amanhã), cessará a escravidão insuportável que vos impede de conhecer a vida em plenitude e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas. O quadro destina-se, portanto, não a amedrontar, mas a abrir os corações à esperança: quando Jesus vier com a sua autoridade soberana, o mundo velho do egoísmo e da escravidão cairá e surgirá o dia novo da salvação/libertação sem fim.
Na segunda parte do nosso texto, Jesus responde à questão posta pelos discípulos: “Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar”.
Para Jesus, mais importante do que definir o tempo exato da queda do mundo velho é ter confiança na chegada do mundo novo e estar atento aos sinais que o anunciam. O aparecimento nas figueiras de novos ramos e de novas folhas acontece, sem falhas, cada ano e anuncia ao agricultor a chegada do Verão e do tempo das colheitas; da mesma forma, os que creem são convidados a esperar, com confiança, a chegada do mundo novo e a perceber, nos sinais de desagregação do mundo velho, o anúncio de que o tempo da sua libertação está a chegar. Certos da vinda do Senhor, atentos aos sinais que O anunciam, os que creem podem preparar o seu coração para O acolher, para aceitar os desafios que Ele traz, para agarrar as oportunidades que Ele oferece.
As sombras que marcam a história atual da humanidade tornam-se realidades próximas, que nos inquietam e nos desesperam. Feridos e humilhados, duvidamos de Deus, da sua bondade, do seu amor, da sua vontade de salvar a humanidade, das suas promessas de vida em plenitude. A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre, contudo, à esperança. Reafirma, que Deus não abandona a humanidade e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado, num mundo novo de vida e de felicidade para todos. A humanidade não caminha para o holocausto, a destruição, o sem sentido, o nada; mas caminha ao encontro da vida plena, encontro desse mundo novo em que o homem e a mulher, com a ajuda de Deus, alcançará a plenitude das suas possibilidades.
Os cristãos, convictos de que Deus tem um projeto de vida para o mundo, têm de ser testemunhas da esperança. É Deus, o Senhor da história, que irá fazer nascer um mundo novo; contudo, Ele conta com a nossa colaboração na concretização desse projeto. Os cristãos não podem ficar de braços cruzados à espera que o mundo novo caia do céu; mas são chamados a anunciar e a construir, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, esse mundo que está nos projetos de Deus. Isso implica, testemunhar em gestos concretos, os valores do mundo novo – a partilha, o serviço, o perdão, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a paz.
A terra conheceu transformações profundas e conhecerá outras, certamente. Estes cataclismos precederão a sua vinda com grande poder e com grande glória. Não se trata de uma realidade que reenvia à destruição e à morte, mas à vida, no seu aspecto de nascimento, de alegria, de luz.
Não há uma data marcada para o advento dessa nova realidade. Da nossa parte, precisamos de estar atentos à sua proximidade e reconhecê-l’O nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação e lhes aponta o caminho do mundo novo. De uma coisa, no entanto, os que creem podem estar certos: as palavras de Jesus são a garantia de que esse mundo novo, de vida plena e felicidade sem fim, irá surgir. Trata-se, pois, de redizer que Cristo, vitorioso da morte na manhã de Páscoa, onde se revela o amor de seu Pais, é sempre vitorioso sobre todas as forças da morte.  Assim, para reavivar a sua esperança, os que creem são convidados a perscrutar os sinais que fazem ver que o Senhor voltará. A esperança dos cristãos manifesta-se em cada Eucaristia, quando afirmam que Cristo veio, vem e virá. Pois, os sobressaltos da história são as primícias, dolorosas sem dúvida, de uma transformação, de um nascimento que desembocará na luz da Vida, Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Assim seja! Amém.


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