Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo propõe-nos a continuação da reflexão iniciada no domingo anterior.
Recorda, uma vez mais, que Deus ama cada homem e cada mulher e chama-o à vida
plena e verdadeira. A resposta do homem ao chamamento de Deus passa por um
caminho de conversão pessoal e de identificação com Jesus.
A
primeira leitura diz-nos através da história do envio do profeta Jonas a pregar
a conversão aos habitantes de Nínive, que Deus ama e chama todos à salvação. A
disponibilidade dos ninivitas em escutar os apelos de Deus e em percorrer um
caminho imediato de conversão constitui um modelo de resposta adequada ao
chamamento de Deus. É esta mesma prontidão de resposta que Deus pede a cada
homem ou a cada mulher.
A
catequese apresentada pelo “Livro de Jonas” convida-nos, antes de mais, a
apreciar a profundidade da misericórdia e da bondade de Deus. Deus ama todos os
homens e mulheres, sem exceção e de forma incondicional. Deus ama até os maus e
os opressores. Esta lógica exclui, naturalmente, a eliminação do pecador: Deus
não quer a morte de nenhum dos seus filhos; o que quer é que eles se convertam
e percorram, com Ele, o caminho que conduz à vida plena, à felicidade sem fim.
É este Deus, tornado frágil pelo amor, que somos chamados a descobrir, a
aceitar e a amar.
A
segunda leitura convida o cristão a ter consciência de que “o tempo é breve”, isto
é, que as realidades e valores deste mundo são passageiros e não devem ser
absolutizados. Deus convida cada cristão, em marcha pela história, a viver de
olhos postos no mundo futuro, quer dizer, a dar prioridade aos valores eternos,
a converter-se aos valores do “Reino”.
O
cristão sabe que a sua vida não encontra sentido pleno e absoluto nesta terra e
que a sua passagem por este mundo é uma peregrinação ao encontro dessa vida
verdadeira e definitiva que só se encontra na comunhão plena com Deus. Para
chegar a atingir esse objetivo último, o cristão deve converter-se a Cristo e
segui-l’O no caminho do amor, da entrega, do serviço aos irmãos. Assim, tudo
aquilo que deixa um espaço maior para essa adesão a Cristo e ao seu caminho,
deve ser valorizado e potenciado.
No
Evangelho aparece o convite que Jesus faz a todos os homens e mulheres para se
tornarem seus discípulos e para integrarem a sua comunidade. Marcos avisa,
contudo, que a entrada para a comunidade do Reino pressupõe um caminho de
“conversão” e de adesão a Jesus e ao Evangelho.
O
nosso texto divide-se em duas partes. Na primeira, Marcos apresenta uma espécie
de resumo da pregação inicial de Jesus; na segunda, apresenta os primeiros
passos da comunidade dos discípulos, a comunidade do Reino.
No
breve resumo da pregação inicial de Jesus, Marcos coloca na boca de Jesus as
seguintes palavras: “cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.
Na
expressão “cumpriu-se o tempo”, ou seja, “de acordo com o projeto de salvação
que Deus tem para o mundo, chegou a altura determinada por Deus para o
cumprimento das suas promessas”. Que “tempo” é esse que “se aproximou” e que
está para começar? É o “tempo” do “Reino de Deus”. A expressão, tão frequente
no Evangelho segundo Marcos, leva-nos a um dos grandes sonhos do Povo de Deus…
Assim,
o “Reino de Deus” é uma noção que resume a esperança num mundo novo, de paz e
de abundância, preparado por Deus para o seu Povo. Esta esperança está bem viva
no coração de Israel na época em que Jesus aparece a dizer: “o tempo
completou-se e o Reino de Deus aproximou-se”. Desta forma, Jesus começa,
precisamente, a construção desse “Reino” pedindo aos seus conterrâneos a conversão
e o acolhimento da Boa Nova.
“Converter-se”
significa transformar a mentalidade e os comportamentos, assumir uma nova
atitude de base, reformular os valores que orientam a própria vida. É
reequacionar a vida, de modo a que Deus passe a estar no centro da existência e
ocupe sempre o primeiro lugar. Na perspectiva de Jesus, não é possível que esse
mundo novo de amor e de paz se torne uma realidade, sem a renúncia ao egoísmo,
ao orgulho, à autossuficiência e passe a escutar de novo Deus e as suas propostas.
“Conversão” e “adesão ao projeto de Jesus” são
duas faces de uma mesma moeda: a construção de um “homem novo”, com uma nova
mentalidade, com novos valores, com uma postura vital inteiramente nova. Vai
ser isso que Jesus vai propor em cada palavra que pronuncia: que nasça um “homem
novo”, capaz de amar o próximo, mesmo aquele que é adversário ou inimigo; que
nasça um “homem novo”, que não vive para o egoísmo, para a riqueza, para os
bens materiais, mas sim para a partilha; que nasça um homem novo, que não viva
para ter poder e dominar, mas sim para o serviço e para a entrega da vida. Então,
sim, teremos um mundo novo, o “Reino de Deus”.
Depois
de dizer qual a proposta inicial de Jesus, Marcos apresenta-nos os primeiros
discípulos. Pedro e André, Tiago e João são na versão de Marcos os primeiros a
responder positivamente ao desafio do Reino, apresentado por Jesus. Isso
significa que eles estão dispostos a “converter-se”, isto é, a mudar os seus
esquemas de vida, de forma a que Deus passe a estar sempre em primeiro lugar e
a “acreditar na Boa Nova”, isto é, a aderir a Jesus, a escutar a sua proposta
de libertação, a acolhê-la no coração e a transformá-la em vida.
Nesta
catequese sobre a vocação, Marcos sugere que o chamamento a entrar na
comunidade do Reino é sempre uma iniciativa de Jesus dirigida a pessoas concretas, “normais”, com um nome, com uma história de vida, com uma profissão,
possivelmente com uma família; este chamamento é sempre categórico, exigente e
radical, Jesus não “prepara” previamente esse chamamento, não explica nada, não
dá garantias nenhumas e nem sequer se volta para ver se os chamados responderam
ou não ao seu desafio; este chamamento não é para frequentar as aulas de um
mestre qualquer, a fim de aprender e depois repetir uma doutrina qualquer; mas
é um chamamento para aderir à pessoa de Jesus, para fazer com Ele uma
experiência de vida, para aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no
amor a Deus e aos irmãos; este chamamento exige uma resposta imediata, total e
incondicional, que deve levar a subalternizar tudo o resto para seguir Jesus e
para integrar a comunidade do Reino - Pedro, André, Tiago e João não exigem
garantias, não pedem tempo para pensar, para medir os prós e os contras, para
pôr em ordem os negócios, para se despedir do pai ou dos amigos, mas limitam-se
a “deixar tudo” e a seguir Jesus. O “discípulo” é alguém que está disposto a
escutar o chamamento de Jesus, a acolher este chamamento no coração e a seguir
Jesus no caminho do amor e do dom da vida.
O
Evangelho deste domingo apresenta, portanto, o convite que Jesus faz a todos,
homens e mulheres, no sentido de integrarem a comunidade do Reino; e apresenta
também um modelo para a forma como os chamados devem escutar e acolher este
chamamento. Desta forma, como batizados somos chamados a sermos discípulos de
Jesus, a “converter-se”, a “acreditar no Evangelho”, a seguir Jesus nesse
caminho de amor e de dom da vida. Este chamamento é radical e incondicional,
exige que o “Reino” se torne o valor fundamental, a prioridade, o principal
objetivo do discípulo. Somos, pois, chamados a construir, com Jesus, um mundo
onde Deus esteja presente e que se edifique de acordo com os projetos e os
critérios de Deus. Assim seja! Amém.
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