domingo, 14 de dezembro de 2014

Testemunhos da Luz- João Batista "a voz que clama no deserto"


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo garante-nos que Deus tem um projeto de salvação e de vida plena para propor a homens e mulheres e para os fazer passar das “trevas” à “luz”.
                                                                                                                    
Na primeira leitura, um profeta pós-exílio apresenta-se aos habitantes de Jerusalém com uma “boa nova” de Deus. A missão deste “profeta”, ungido pelo Espírito, é anunciar um tempo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, um tempo de salvação que Deus vai oferecer aos “pobres”. Esta “boa notícia” deve encher de esperança todos aqueles que não têm acesso aos bens essenciais, educação, saúde, trabalho, justiça, amor, que não têm vez nem voz, que são injustiçados e explorados, que são mastigados e digeridos por um sistema econômico que gera exclusão, alienação e miséria…
Existe um projeto de salvação que Deus tem para oferecer ao seu Povo, especialmente aos pobres. O profeta garante-lhes que Deus os ama, que não os abandona à sua miséria e sofrimento e que tem um projeto de vida, de alegria, de felicidade para propor a cada homem ou a cada mulher. Assim, a descoberta do amor e da presença libertadora de Deus conduzi-nos ao louvor, à adoração, à alegria.

Na segunda leitura Paulo explica aos cristãos da comunidade de Tessalônica a atitude que é preciso assumir enquanto se espera o Senhor que vem… Paulo pede-lhes que sejam uma comunidade “santa” e irrepreensível, isto é, que vivam alegres, em atitude de louvor e de adoração, abertos aos dons do Espírito e aos desafios de Deus.
A existência cristã é uma caminhada ao encontro do Senhor que vem. Na sua peregrinação pela história, mergulhados na alegria e na tristeza, no sofrimento e na esperança, os que creem não podem perder de vista essa meta final que dá sentido à toda a caminhada. O caminho cristão deve ser percorrido na atenção e na vigilância, procurando viver com coerência os compromissos assumidos no dia do Batismo e na fidelidade às propostas de Deus.
Assim, de acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, esse caminho deve ser percorrido na alegria… O cristão é alegre, porque sabe para onde caminha e está certo de que no final da caminhada encontra os braços amorosos de Deus que o acolhem e o conduzem para a felicidade plena, para a vida definitiva. Nem os sofrimentos, nem as dificuldades, nem as incompreensões, nem as perseguições podem eliminar essa alegria serena de quem confia no encontro com o Senhor... Este caminho deve ser percorrido também num diálogo nunca acabado com Deus. Aquele que crê é alguém que “ora sem cessar” e “dá graças em todas as circunstâncias” pelos dons de Deus, pela sua presença amorosa, pela salvação que Deus não cessa de oferecer em cada passo da caminhada.  Este caminho deve ser percorrido, ainda, numa atitude de permanente atenção aos dons e aos desafios do Espírito.

O Evangelho apresenta-nos João Batista, a “voz” que prepara homens e mulheres para acolher Jesus, a “luz” do mundo. O objetivo de João não é centrar sobre si próprio o foco da atenção pública; ele está apenas interessado em levar os seus interlocutores a acolher e a “conhecer” Jesus, “aquele” que o Pai enviou com uma proposta de vida definitiva e de liberdade plena.
Na primeira parte do nosso texto, apresenta-se João. Dele dizem-se duas coisas: que é “um homem” e que foi “enviado por Deus”. O agente principal nesta história é, naturalmente, Deus: é Deus que escolhe este homem e o envia ao mundo com uma missão concreta. É, habitualmente, este o “método” de Deus: chama homens, confia-lhes uma missão e, através deles, intervém no mundo. A missão de João é “dar testemunho da luz”; esta realidade que vem de Deus e com a qual Deus se propõe construir para homens e mulheres um mundo novo de vida definitiva e de felicidade total. João não atua por sua própria iniciativa, mas em resposta à escolha divina e para concretizar uma missão que Deus lhe confiou. Por outro lado, embora enviado por Deus, João não é “a luz”, isto é, ele não tem a capacidade de eliminar as trevas que escurecem e desfeiam a vida de homens e mulheres, porque não tem a capacidade de dar vida. João é apenas “a testemunha” que vem preparar-nos para acolher este que vai chegar e que será “a luz/vida”.
Na segunda parte do nosso texto, temos o “testemunho” de João. A cena coloca-nos diante de uma comissão oficial, enviada de Jerusalém para investigar João e constituída por sacerdotes e levitas, encarregados, entre outras coisas, de vigiar a ortodoxia e a fidelidade à ordem religiosa judaica.
A comissão investigadora começa por interrogar João com uma pergunta aparentemente inócua: “quem és tu?”. Os interrogadores não tomam posição. Limitam-se a esperar que o próprio João declare a sua posição e as suas intenções. João descarta totalmente a hipótese de ser o Messias. Também não aceita identificar-se com Elias. Tampouco aceita assumir o título de “o profeta”. Na verdade, João não aceita que lhe atribuam nenhuma função que possa centrar a atenção na sua própria pessoa. As suas três respostas são negativas. Ele não busca a sua glória ou a sua afirmação, nem vem em seu próprio nome; a sua missão é meramente dar testemunho da “luz” e é para essa “luz” que os holofotes devem ser apontados. A “voz”, através da qual Deus fala, convida-nos a olhar para Jesus, pois só Ele é “a luz” e só Ele tem uma proposta de vida verdadeira. João garante-nos: só Jesus é “a luz” que liberta os homens da escravidão e das trevas e lhes oferece a vida verdadeira e definitiva.
É dentro deste enquadramento que devemos entender a resposta de João, quando os seus interlocutores o convidam a definir-se: “eu sou uma voz”. “Voz” é um termo relacional que supõe ouvintes a quem é comunicada uma mensagem… A “voz” não tem rosto, é anônima e passa despercebida; o importante é o conteúdo da mensagem. É isso que João é: uma “voz” através da qual Deus passa aos homens uma mensagem. É à mensagem e não à “voz” que devemos dar atenção.
A mensagem que a “voz” veicula é: “endireitai o caminho do Senhor”. Pedia que o Povo instalado e acomodado, desanimado e frustrado fizesse um esforço para acolher os desafios de Deus e aceitasse pôr-se a caminho com Deus em direção a um futuro novo de vida e de esperança. É esta mesma realidade que João é chamado a acordar no coração do seu Povo.
O batismo ou imersão na água era um símbolo relativamente frequente no judaísmo. Era usado como rito de purificação ou para significar a mudança de estado de vida. O batismo de João significava, provavelmente, a ruptura com a vida das trevas e o desejo de aderir a uma nova vida. Para João seria, apenas, um primeiro passo para acolher “a luz”.
João evita responder diretamente à objeção que os fariseus lhe colocam. Ele prefere desvalorizar o seu batismo com água e apontar para “aquele” que vem e a quem João não é digno “de desatar as correias das sandálias”. Esse é que é “a luz” que vai libertar o homem da escuridão, da cegueira, da mentira, do egoísmo, do pecado. É como se João dissesse: “não vos preocupeis com o batismo com água que eu administro, pois ele é, apenas, um símbolo de transformação e de adesão a uma nova realidade; mas olhai antes para essa nova realidade que já está no meio de vós e que o Messias vos vai oferecer. É o batismo do Messias, o batismo no Espírito, que transformará totalmente os corações dos homens, os fará livres e lhes dará a vida definitiva. Esse que vem batizar no Espírito já está presente, a fim de iniciar a sua obra libertadora. Procurai conhecê-lo, isto é, escutá-lo e acolher a sua proposta de vida e de libertação”.
O “homem chamado João”, enviado por Deus “para dar testemunho da luz”, convida-nos a pensar sobre a forma de Deus atuar na história humana e sobre as responsabilidades que Deus nos atribui na recriação do mundo… Deus não utiliza métodos espetaculares e assombrosos para intervir na nossa história e para recriar o mundo; mas Ele vem ao encontro para envolver no seu amor através de pessoas concretas, com um nome e uma história, pessoas “normais” a quem Deus chama e a quem confia determinada missão. A todos nós, seus filhos, Deus confia uma missão no mundo – a missão de dar testemunho da “luz” e de tornar presente, para os nossos irmãos, a proposta libertadora de Jesus.

A atitude simples e discreta com que João se apresenta é muito sugestiva: ele não procura atrair sobre si as atenções, não usa a missão para a sua glória ou promoção pessoal, não busca a satisfação de interesses egoístas; ele é apenas uma “voz” anônima e discreta que recorda, na sombra, as realidades importantes. João é uma tremenda interpelação para todos aqueles a quem Deus chama e envia…Com ele, o profeta, isto é, todo aquele a quem Deus chama e a quem confia uma missão, deve aprender a ficar na sombra, a ser discreto e simples, de forma a que as pessoas não o vejam a ele mas às realidades importantes que ele propõe...Neste Tempo de Advento, a fim de que o Senhor que vem possa nascer na nossa vida, proclamamos: “Eu sou a voz do que clama no deserto”. Que possamos fazer reviver em nós a graça que devemos testemunhar junto daqueles que encontrarmos, sejamos "testemunhos de luz". Assim seja! Amém.

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