Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo, último Domingo do Advento refere-se repetidamente ao projeto de
vida plena e de salvação definitiva que Deus tem para oferecer. Este projeto,
anunciado já no Antigo Testamento, torna-se uma realidade concreta, tangível e
plena com a Encarnação de Jesus.
A
primeira leitura apresenta a “promessa” de Deus a David. Deus anuncia, pela
boca do profeta Natã, que nunca abandonará o seu Povo nem desistirá de o
conduzir ao encontro da felicidade e da realização plenas. A “promessa” de Deus
irá concretizar-se num “filho” de David, através do qual Deus oferecerá ao seu
Povo a estabilidade, a segurança, a paz, a abundância, a fecundidade, a
felicidade sem fim.
A
segunda leitura chama a este projeto de salvação, preparado por Deus desde sempre,
o “mistério”; e, sobretudo, garante que esse projeto se manifestou, em Jesus, a
todos os povos, a fim de que a humanidade inteira integre a família de Deus. A
nossa leitura deixa ainda claro que este projeto de salvação foi totalmente
revelado em Jesus Cristo – no seu amor até ao extremo, nos seus gestos de
bondade e de misericórdia, na sua atitude de doação e de serviço, no seu
anúncio do Reino de Deus. Prepararmo-nos para o Natal significa preparar o
nosso coração para acolher Jesus, para aceitar os seus valores, para compreender
o seu jeito de viver, para aderir ao projeto de salvação que, através d’Ele,
Deus Pai nos propõe.
O
Evangelho refere-se ao momento em que Jesus encarna na história, a fim de lhes
trazer a salvação e a vida definitivas. Mostra como a concretização do projeto
de Deus só é possível quando os homens e as mulheres que Ele chama aceitam
dizer “sim” ao projeto de Deus, acolher Jesus e apresentá-l’O ao mundo.
Neste
trecho do Evangelho, Lucas apresenta o diálogo entre Maria e o anjo. A conversa
começa com a saudação do anjo. Na boca deste, são colocados termos e expressões
com ressonância testamentária, ligados a contextos de vocação e de missão.
Assim, o termo “ave” com que o anjo se dirige a Maria é mais do que uma
saudação: é o eco dos anúncios de salvação à “filha de Sião”. A expressão
“cheia de graça” significa que Maria é objeto da predileção e do amor de Deus.
A outra expressão, “o Senhor está contigo”, é uma expressão que aparece com
frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento e que serve para
assegurar ao “chamado” a assistência de Deus na missão que lhe é pedida.
Estamos, portanto, diante do “relato de vocação” de Maria: a visita do anjo
destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta
vai exigir uma resposta clara de Maria.
Qual
é, então, o papel proposto a Maria no projeto de Deus?
A
Maria, Deus propõe que aceite ser a mãe de um “filho” especial… Desse “filho”
diz-se, em primeiro lugar, que Ele se chamará “Jesus”. O nome significa “Deus
salva”. Além disso, este “filho” é apresentado pelo anjo como o “Filho do
Altíssimo”, que herdará “o trono de seu pai David” e cujo reinado “não terá
fim”. As palavras do anjo levam-nos à promessa feita por Deus ao rei David
através das palavras do profeta Natã. Esse “filho” é descrito nos mesmos termos
em que a teologia de Israel descrevia o “Messias” libertador. O que é proposto
a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe deste “Messias” que Israel esperava,
o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação
definitivas.
Como
é que Maria responde ao projeto de Deus?
A
resposta de Maria começa com uma objecção... É uma reação natural de um
“chamado”, assustado com a perspectiva do compromisso com algo que o
ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus
que, apesar da fragilidade e das limitações dos “chamados”, faz deles
instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo.
Diante
da “objecção”, o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a
cobrirá com a sua sombra. A “sombra” ou “nuvem” leva-nos também à “coluna de
nuvem” que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto,
indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova. A
questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela,
fazer-se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens.
O
relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se
em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como “serva” significa, mais do que
humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com
tudo o que ela implica, pois, no Antigo Testamento, ser “servo do Senhor” é um
título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele reservou para o
seu serviço e que Ele enviou ao mundo com uma missão. Desta forma, Maria
reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e
manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de Deus.
Neste
domingo que precede o Natal de Jesus, a história de Maria mostra como é
possível fazer Jesus nascer no mundo: através de um “sim” incondicional aos
projetos de Deus. É preciso que, através dos nossos “sins” de cada instante, da
nossa disponibilidade e entrega, Jesus possa vir ao mundo e oferecer aos nossos
irmãos, particularmente aos pobres, aos humildes, aos infelizes, aos
marginalizados, a salvação e a vida de Deus. Assim, o testemunho de Maria é um
testemunho questionante, que nos interpela fortemente… Maria de Nazaré foi,
certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com
Deus e aprendeu a confiar totalmente n’Ele. Desta forma, este domingo celebra ao mesmo
tempo a humildade de Deus e a humildade de Maria. A narração da Anunciação é um
dos relatos alegres do Evangelho…Façamos ressoar o Evangelho da Anunciação… A
alguns dias do Natal, a Festa da Anunciação dá o verdadeiro sentido da festa:
vamos celebrar o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Assim seja! Amém.
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