Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo, propõe-nos a família de Jesus como exemplo e modelo das nossas
comunidades familiares… Como a família de Jesus, as nossas famílias devem viver
numa atenção constante aos desafios de Deus e às necessidades dos irmãos e
irmãs.
A
primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os
filhos devem ter para com os pais… A palavra que preside a este conjunto de
conselhos do “sábio” Ben Sira é a palavra “honrar”. Assim, “honrar os pais” é
dar-lhes o devido valor e reconhecer a sua importância; é que eles são os instrumentos
de Deus, fonte de vida.
Ora,
reconhecer que os pais são os instrumentos através dos quais Deus concede a
vida deve conduzir os filhos à gratidão; e a gratidão não é apenas uma
declaração de intenções, mas um sentimento que implica certas atitudes
práticas. Portanto, “honrar os pais” significa ampará-los na velhice e não os
desprezar nem abandonar; significa assisti-los materialmente – sem inventar
qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar; significa não fazer nada que
os desgoste; significa escutá-los, ter em conta as suas orientações e
conselhos; significa ser indulgente para com as limitações que a idade trazem…Como
recompensa desta atitude de “honrar os pais”, há a promessa do perdão dos
pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus.
A
segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que
vivem “em Cristo” e aceitaram ser “Homem Novo” e “Nova Mulher”. Este amor deve
atingir, de forma muito especial, todos os que conosco partilham o espaço
familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de
bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
Para
o autor da carta, viver como “Novo (a)” é cultivar um conjunto de virtudes que
resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade,
mansidão, paciência. Lugar especial ocupa o perdão das ofensas, a exemplo de
Cristo que sempre manifestou uma grande capacidade de perdão. Estas virtudes,
que devem ornar a vida do cristão, são exigências e manifestações da caridade,
que é a fonte de onde brotam todas as virtudes do cristão. Para uns e para
outros, é esta “caridade” (“agapê”) – entendida como amor de doação, de
entrega, a exemplo de Jesus que amou até ao dom da vida – que deve presidir às
relações entre os membros de uma família. É desta forma que, no espaço
familiar, se manifesta o Homem Novo e a Nova Mulher, transformado por Cristo e
que vive segundo Cristo. E viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa
referência fundamental e deixar que ele se manifeste em gestos concretos de
bondade, de perdão, de doação, de compreensão, de respeito pelo outro, de
partilha, de serviço…
O
Evangelho põe-nos diante da Sagrada Família de Nazaré apresentando Jesus no
Templo de Jerusalém. A cena mostra uma família que escuta a Palavra de Deus,
que procura concretizá-la na vida e que consagra a Deus a vida dos seus
membros. Nas figuras de Ana e Simeão, Lucas propõe-nos também o exemplo de dois
anciãos de olhos postos no futuro, capazes de perceber os sinais de Deus e de
testemunhar a presença libertadora de Deus em nosso meio. A cena da
apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém apresenta uma catequese bem
amadurecida e bem refletida, que procura dizer quem é Jesus e qual a sua missão
no mundo. Antes de mais, o autor sublinha repetidamente a fidelidade da família
de Jesus à Lei do Senhor, como se quisesse deixar claro que Jesus, desde o
início da sua caminhada, viveu na escrupulosa fidelidade aos mandamentos e aos
projetos do Pai. A missão de Jesus no mundo passa pelo cumprimento rigoroso da
vontade e do projeto do Pai.
No
Templo, duas personagens acolhem Jesus: Simeão e Ana. Eles representam esse
Israel fiel que espera ansiosamente a sua libertação e a restauração do reinado
de Deus sobre o seu Povo. De Simeão diz-se que era um homem “justo e piedoso,
que esperava a consolação de Israel”. As palavras e os gestos de Simeão são
particularmente sugestivos… Simeão toma Jesus nos braços e apresenta-O ao
mundo, definindo-O como “a salvação” que Deus que oferecer “a todos os povos”,
“luz para se revelar às nações e glória de Israel”. Jesus é, assim, reconhecido
pelo Israel fiel como esse Messias libertador e salvador, a quem Deus enviou, não
só ao seu povo, mas a todos os povos da terra. Aqui desponta um tema muito
querido a Lucas: o da universalidade da salvação de Deus… Deus não tem já um
Povo eleito, mas a sua salvação é para todos os povos, independentemente da sua
raça, da sua cultura, das suas fronteiras, dos seus esquemas religiosos. As
palavras que Simeão dirige a Maria: “este menino foi estabelecido para que
muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; e uma
espada trespassará a tua alma” aludem, provavelmente, à divisão que a proposta
de Jesus provocará em Israel e ao resultado desta divisão, drama da cruz.
Ana
é também uma figura do Israel pobre e sofredor: “viúva”, que se manteve fiel a
Javé, que espera a salvação de Deus. Depois de reconhecer em Jesus a salvação
anunciada por Deus, ela “falava do menino a todos os que esperavam a redenção
de Jerusalém”. Jesus é, assim, apresentado por Lucas como o Messias libertador,
que vai conduzir o seu Povo do domínio da escravidão para o domínio da
liberdade. A apresentação no Templo de um primogênito celebrava precisamente a
libertação do Egito e a passagem da escravidão para a liberdade. O
texto termina com uma referência ao resto da infância de Jesus e ao crescimento
do menino em “sabedoria” e “graça”. Trata-se de atributos que lhe vêm do Pai e
que atestam, portanto, a sua divindade.
Assim,
afirma-se que Jesus é o Deus que vem ao encontro de homens e mulheres com uma
missão que lhe foi confiada pelo Pai. O objetivo de Jesus é cumprir
integralmente o projeto do Pai… E este projeto passa por levar-nos da
escravidão para a liberdade e em apresentar a proposta de salvação de Deus a
todos os povos da terra, mesmo àqueles que não pertencem tradicionalmente à
comunidade do Povo de Deus.
O
Evangelho de hoje revela-nos a Sagrada Família, que vive atenta aos apelos de
Deus e que se empenha em cumprir cuidadosamente os preceitos do Senhor. Por
quatro vezes, Lucas refere, a propósito da família de Jesus, o cumprimento da
Lei de Moisés, da Lei do Senhor ou da Palavra do Senhor – o que sugere a
importância que a Palavra de Deus assume na vida da família de Nazaré.
Trata-se, na perspectiva de Lucas, de uma família que escuta a Palavra de Deus
e que constrói a sua existência ao ritmo da Palavra de Deus e dos desafios de
Deus. Maria e José perceberam que uma família que escuta a Palavra de Deus e
que procura responder aos desafios postos por essa Palavra é uma família feliz,
que encontra na Palavra indicações seguras acerca do caminho que deve percorrer
e que se constrói sobre a rocha firme dos valores eternos. Rosto de Deus, de
Cristo e da Igreja… Filhos da Aliança, do Deus da promessa e da fidelidade,
José e Maria acreditam, apresentam o seu Filho ao Senhor: mistério de glória e
de dor, na profecia do velho Simeão; acreditam que só na fé total e forte podem
reconhecer a luz do mundo. Com Simeão, a Igreja anuncia Cristo àqueles que lhe
são próximos. Com Ana, a profetisa, a Igreja anuncia a libertação aos que
esperam, àqueles que estão longe; ela desperta neles o desejo de conhecer
Cristo. É neste desejo que a nossa fé ganha raiz. Assim seja! Amém.
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