Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo celebra a manifestação de Jesus a todos os homens e mulheres… Ele
é uma “luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da
terra. Cumprindo o projeto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa “luz”
encarnou na nossa história, iluminou os nossos caminhos, conduzindo-nos ao
encontro da salvação, da vida definitiva.
A
primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Javé, que transfigurará
Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo.
Assim,
o profeta sonha com uma Jerusalém muito diferente daquela que os retornados do
Exílio conhecem; essa nova Jerusalém levantar-se-á quando chegar a luz
salvadora de Deus, que dará à cidade um novo rosto. Neste dia, Jerusalém vai
atrair os olhares de todos os que esperam a salvação. Como consequência, a
cidade será abundantemente repovoada, com o regresso de muitos “filhos” e
“filhas” que, até agora, assustados pelas condições de pobreza e de
instabilidade ainda não se decidiram a regressar; além disso, povos de toda a
terra, atraídos pela promessa do encontro com a salvação de Deus, convergirão
para Jerusalém, inundando-a de riquezas e cantando os louvores de Deus.
É
preciso, sem dúvida, relacionar a chegada da “luz” salvadora de Deus a
Jerusalém, anunciada pelo profeta, com o nascimento de Jesus. O projeto de
libertação que Jesus veio apresentar será a luz que vence as trevas do pecado e
da opressão e que dá ao mundo um rosto mais brilhante de vida e de esperança.
Esta Jerusalém nova, que já “não necessita de sol nem de lua para a iluminar,
porque é iluminada pela glória de Deus”, é a Igreja, a comunidade dos que
aderiram a Jesus e acolheram a luz salvadora que Ele veio trazer.
A
segunda leitura apresenta o projeto salvador de Deus como uma realidade que vai
atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de
irmãos, a comunidade de Jesus.
A
perspectiva de que Deus tem um projeto de salvação para oferecer ao seu Povo, já
enunciada na primeira leitura, tem aqui novos desenvolvimentos. A primeira
novidade é que Cristo é a revelação e a realização plena desse projeto. A
segunda novidade é que esse projeto não se destina apenas “a Jerusalém”, ao
mundo judaico, mas é para ser oferecido a todos os povos, sem exceção.
Assim,
a Igreja, “corpo de Cristo”, é a comunidade daqueles que acolheram “o
mistério”. Nela, brancos e negros, pobres e ricos, beneficiários todos da ação
salvadora e libertadora de Deus, têm lugar em igualdade de circunstâncias. Portanto,
destinatários, todos, do mistério, somos “filhos de Deus” e irmãos uns dos
outros. Essa fraternidade implica o amor sem limites, a partilha, a
solidariedade…
No
Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os
“magos” do oriente, representantes de todos os povos da terra… Atentos aos
sinais da chegada do Messias, procuram-n’O com esperança até O encontrar,
reconhecem n’Ele a “salvação de Deus” e aceitam-n’O como “o Senhor”. A salvação
rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece
a todos os homens e mulheres, sem exceção.
A
análise dos vários detalhes do relato confirma que a preocupação de Mateus, não
é de tipo histórico, mas catequético. Notemos, em primeiro lugar, a insistência
de Mateus no fato de Jesus ter nascido em Belém de Judá. Para entender esta
insistência, temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David e que
era a Belém que estava ligada a família de David. Afirmar que Jesus nasceu em
Belém é ligá-l’O a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o
descendente de David que havia de nascer em Belém e restaurar o reino ideal de
seu pai. Com esta nota, Mateus quer aquietar aqueles que pensavam que Jesus
tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo para o reconhecerem como
o Messias libertador.
Notemos,
em segundo lugar, a referência a uma estrela “especial” que apareceu no céu por
esta altura e que conduziu os “magos” para Belém. A interpretação desta
referência como histórica levou alguém a cálculos astronômicos complicados para
concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de planetas explicaria o fenômeno
luminoso da estrela refulgente mencionada por Mateus; outros andaram à procura
de um cometa que, por esta época, devia ter sulcado os céus do antigo Médio
Oriente… Na realidade, é inútil procurar nos céus a estrela ou cometa em causa,
pois, Mateus não está a narrar fatos históricos. Segundo a crença popular da
época, o nascimento de uma personagem importante era acompanhado da aparição de
uma nova estrela. Então, Mateus está, sobretudo, interessado em fornecer aos
cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles que negavam
que Jesus era esse Messias esperado.
Temos
ainda as figuras dos “magos”. Aqui,
poderia designar astrólogos mesopotâmios, em contato com o messianismo judaico.
Seja como for, esses “magos” representam, na catequese de Mateus, esses povos
estrangeiros de que falava a primeira leitura, que se põem a caminho de Jerusalém
com as suas riquezas, ouro e incenso, para encontrar a luz salvadora de Deus
que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, na opinião de Mateus e da catequese
da Igreja primitiva, essa “luz”.
Além
de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas
atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o Povo de Israel
rejeita Jesus, enquanto que os “magos” do oriente, que são pagãos, O adoram;
Herodes e Jerusalém “ficam perturbados” diante da notícia do nascimento do
menino e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria
e reconhecem em Jesus o seu salvador.
Mateus
anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo; mas vai ser
acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do novo Povo de Deus. O
itinerário seguido pelos “magos” reflete a caminhada que os pagãos percorreram
para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais, estrela, percebem que Jesus é a
luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para O encontrar,
perguntam aos judeus, que conhecem as Escrituras, o que fazer, encontram Jesus
e adoram-n’O como “o Senhor”. É muito possível que um grande número de
pagano-cristãos da comunidade de Mateus descobrisse neste relato as etapas do
seu próprio caminho em direção a Jesus.
O
Evangelho faz-nos meditar sobre as atitudes das várias personagens...Diante de
Jesus, o libertador enviado por Deus, estes distintos personagens assumem
atitudes diversas, que vão desde a adoração, os “magos”, até à rejeição total,
Herodes, passando pela indiferença, os sacerdotes e os escribas; nenhum deles
se preocupou em ir ao encontro deste Messias que eles conheciam bem dos textos
sagrados. Identificamo-nos com algum destes grupos?
Os
“magos” são apresentados como os “homens dos sinais”, que sabem ver na “estrela”
o sinal da chegada da libertação… Somos pessoas atentas aos “sinais”, isto é,
somos capazes de ler os acontecimentos da nossa história e da nossa vida à luz
de Deus? Procuramos perceber nos “sinais” que aparecem no nosso caminho a
vontade de Deus?
Ainda
no relato de Mateus, chama atenção a “desinstalação” dos “magos”: viram a
“estrela”, deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos
capazes da mesma atitude de não acomodação, ou estamos demasiado agarrados ao
nosso sofá, à nossa televisão, à nossa aparelhagem, ao nosso computador? Somos
capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos
irmãos e irmãos?
No
Evangelho, os “magos” representam os homens e mulheres de todo o mundo que vão
ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se
prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja, esta família de irmãos e irmãs,
constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O
reconhecem como o seu Senhor e se alegram com a Sua presença. Desta
forma, sigamos o caminho da estrela… Pôr-se a caminho… Erguer os olhos... é o
convite que nos é feito hoje. Nesta Festa da salvação de todos os povos, a
Epifania convida as comunidades cristãs ao acolhimento e à abertura, na alegria, sempre com a presença de Jesus. Assim
seja! Amém.
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