Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo recorda a cada cristão, a grave responsabilidade de ser, no tempo
histórico em que vivemos, testemunha consciente, ativa e comprometida desse
projeto de salvação/libertação que Deus Pai tem para homens e mulheres.
A
primeira leitura apresenta, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores
que asseguram a felicidade, o êxito, a realização. O “sábio” autor do texto
propõe, sobretudo, os valores do trabalho, do compromisso, da generosidade, do
“temor de Deus”. Não são só valores da mulher virtuosa: são valores de que deve
revestir-se o discípulo que quer viver na fidelidade aos projetos de Deus e
corresponder à missão que Deus lhe confiou.
E
assim, perguntamos: Quais são as prioridades da nossa vida? Quais são os
valores em que apostamos a nossa existência? Os nossos valores fundamentais são
valores que nos trazem felicidade duradoura?
Desta
forma, o nosso texto sugere uma reflexão sobre as nossas prioridades… Da mulher
virtuosa diz-se que não se preocupa com os valores efêmeros (a aparência), mas
que se preocupa com os valores eternos (o “temor de Deus”). São estes valores,
na opinião do autor, que nos asseguram uma vida feliz, tranquila e próspera.
Na
segunda leitura, Paulo deixa claro que o importante não é saber quando virá o
Senhor pela segunda vez; mas é estar atento e vigilante, vivendo de acordo com
os ensinamentos de Jesus, testemunhando os seus projetos, empenhando-se ativamente
na construção do Reino.
A
questão fundamental que os cristãos devem pôr, a propósito da segunda vinda do
Senhor, não é a questão da data, mas é a questão de como esperar e preparar
esse momento. Paulo deixa claro que o que é preciso é estar vigilante. “Estar
vigilante” não significa ficar a olhar para o céu à espera do Senhor,
esquecendo e negligenciando as questões do mundo e os problemas; mas significa
viver, no dia a dia, de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-se na
transformação do mundo e na construção do Reino, abertos ao futuro – um futuro
a conquistar, já nesta terra, com fé e com amor, mas sobretudo um futuro a
esperar, como dom de Deus.
O
Evangelho apresenta-nos dois exemplos opostos de como esperar e preparar a
última vinda de Jesus. Louva o discípulo que se empenha em fazer frutificar os
“bens” que Deus lhe confia; e condena o discípulo que se instala no medo e na
apatia e não põe a render os “bens” que Deus lhe entrega, desta forma, ele está
a desperdiçar os dons de Deus e a privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos
a que têm direito.
A
“parábola dos talentos” conta que um “senhor” partiu em viagem e deixou a sua
fortuna nas mãos dos seus servos. A um, deixou cinco talentos, a outro, dois e
a outro, um. Quando voltou, chamou os servos e pediu-lhes contas da sua gestão.
Os dois primeiros tinham duplicado a soma recebida; mas o terceiro tinha
escondido cuidadosamente o talento que lhe fora confiado, pois, conhecia a
exigência do “senhor” e tinha medo. Os dois primeiros servos foram louvados
pelo “senhor”, ao passo que o terceiro foi severamente criticado e condenado.
Provavelmente
a parábola, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino”. O Senhor
exigente seria Deus, que reclama para Si uma lealdade a toda a prova e que não
aceita situações de acomodação e de preguiça. Os servos a quem Ele confia os
valores do Reino devem acolher os seus dons e pô-los a render, a fim de que o
Reino seja uma realidade. No Reino, ou se está completamente comprometido, ou
não se está.
Depois,
Mateus pegou a mesma parábola e situou-a num outro contexto: o da vinda do
Senhor Jesus, no final dos tempos… Nesta versão da parábola, o “senhor” é Jesus
que, antes de deixar este mundo, entregou bens consideráveis aos seus “servos”,
os discípulos. Os “bens”, são os dons que Deus, através de Jesus, ofereceu a
todos (as) – a Palavra de Deus, os valores do Evangelho, o amor que se faz
serviço aos irmãos e que se dá até à morte, a partilha e o serviço, a
misericórdia e a fraternidade, os carismas e ministérios que ajudam a construir
a comunidade do Reino… Os discípulos de Jesus são os depositários desses
“bens”. A questão é: como devem ser utilizados estes “bens”? Eles devem dar
frutos, ou devem ser conservados cuidadosamente enterrados? Os discípulos de
Jesus podem – por medo, por comodismo, por desinteresse – deixar que esses
“bens” fiquem infrutíferos?
Na
perspectiva da nossa parábola, os “bens” que Jesus deixou aos seus discípulos
têm de dar frutos. A parábola apresenta como modelos os dois servos que mexeram
com os “bens”, que demonstraram interesse, que se preocuparam em não deixar
parados os dons do “senhor”, que fizeram investimentos, que não se acomodaram
nem se deixaram paralisar pela preguiça, pela rotina, ou pelo medo. Por outro
lado, a parábola condena veementemente o servo que entregou intactos os bens
que recebeu. Ele teve medo e, por isso, não correu riscos; mas não só não tirou
desses bens qualquer fruto, como também impediu que os bens do “senhor” fossem
criadores de vida nova.
Através
desta parábola, Mateus exorta a sua comunidade no sentido de estar alerta e
vigilante, sem se deixar vencer pelo comodismo e pela rotina. Esquecer os
compromissos assumidos com Jesus e com o Reino, demitir-se das suas
responsabilidades, deixar na gaveta os dons de Deus, aceitar passivamente que o
mundo se construa de acordo com valores que não são os de Jesus; instalar-se na
passividade, é privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm
direito. O discípulo de Jesus não pode esperar o Senhor de mãos erguidas e de
olhos postos no céu, alheio aos problemas do mundo… O discípulo de Jesus espera
o Senhor profundamente envolvido e empenhado no mundo, ocupado em distribuir a
todos, seus irmãos e irmãs, os “bens” de Deus e em construir o Reino.
Desta
forma, é preciso ter presente que nós, os cristãos, somos agora no mundo as testemunhas
de Cristo e do projeto de salvação/libertação que o Pai tem para homens e
mulheres. É com o nosso coração que Jesus continua a amar os publicanos e os
pecadores do nosso tempo; é com as nossas palavras que Jesus continua a
consolar os que estão tristes e desanimados; é com os nossos braços abertos que
Jesus continua a acolher os imigrantes que fogem da miséria e da degradação; é
com as nossas mãos que Jesus continua a quebrar as cadeias que prendem os
escravizados e oprimidos; é com os nossos pés que Jesus continua a ir ao
encontro de cada irmão que está sozinho e abandonado; é com a nossa solidariedade
que Jesus continua a alimentar as multidões famintas do mundo e cultura àqueles
que nada têm… Nós, cristãos, membros do “corpo de Cristo”, que nos
identificamos com Cristo, temos a grave responsabilidade de O testemunhar e de
deixar que, através de nós, Ele continue a amar os homens e as mulheres que
caminham ao nosso lado pelos caminhos do mundo.
O
servo que escondeu os “bens” que o Senhor lhe confiou mostra como não devemos
agir, enquanto caminhamos pelo mundo à espera da segunda vinda de Jesus. Este
servo contentou-se com o que já tinha e não teve a ousadia de querer mais;
entregou-se sem luta, deixou-se dominar pelo comodismo e pela apatia… Não lutou,
não arriscou, não ganhou. Todos os dias há cristãos que desistem por medo e se
demitem do seu papel na construção de um mundo melhor. Limitam-se a cumprir as
regras, ou a refugiar-se no seu cantinho cômodo, sem coragem de ir mais além.
Não falham, não correm riscos; limitam-se a repetir sempre os mesmos gestos,
sem inovar, sem purificar, sem nada transformar; não fazem, nem deixam fazer e
limitam-se a criticar asperamente aqueles que se esforçam por mudar as coisas…
Não põem a render os “bens” que Deus lhes confiou e deixam-nos secar sem dar
frutos.
Os
dois “servos” da parábola que, talvez correndo riscos, fizeram frutificar os
“bens” que o “senhor” lhes deixou, mostram como devemos proceder, enquanto
caminhamos pelo mundo à espera da segunda vinda de Jesus. Eles tiveram a
ousadia de não se contentar com o que já tinham; não se deixaram dominar pelo comodismo
e pela apatia… Lutaram, esforçaram-se, arriscaram, ganharam. Todos os dias, há
cristãos que têm a coragem de arriscar. Não aceitam a injustiça e lutam contra
ela; não pactuam com o egoísmo, a prepotência e propõem, em troca, os valores
do Evangelho; não aceitam que os grandes e poderosos decidam os destinos do
mundo e têm a coragem de lutar objetivamente contra os projetos desumanos que
desfeiam esta terra; não aceitam que a Igreja se identifique com a riqueza, com
o poder, com os grandes e esforçam-se por torná-la mais pobre, mais simples,
mais humana, mais evangélica; não aceitam que a liturgia tenha de ser sempre
tão solene que assuste os mais simples, nem tão etérea que não tenha nada a ver
com a vida do dia a dia… Muitas vezes, são perseguidos, condenados,
desautorizados, reduzidos ao silêncio, incompreendidos; muitas vezes, no seu
excesso de zelo, cometem erros de avaliação, fazem opções erradas, Contudo, colocam-se através da Palavra a Serviço do Reino… E Jesus diz-lhes: “muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas
pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu Senhor”. Assim seja! Amém.
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