domingo, 9 de novembro de 2014

Cristãos, pedras vivas, deste novo Tempo-Jesus


Irmãos e irmãs.
A Basílica de São João de Latrão, cuja “dedicação” ou consagração aconteceu no ano de 320, é a catedral do Papa, enquanto Bispo de Roma. Ela é a “mãe de todas as igrejas”, o símbolo das Igrejas de todo o mundo, unidas à volta do sucessor de Pedro. A Festa da Dedicação da Basílica de Latrão convida-nos a tomar consciência de que a Igreja de Deus - que a Basílica de Latrão simboliza e representa -  é hoje, no meio do mundo, a “morada de Deus”, o testemunho vivo da presença de Deus na caminhada histórica dos homens.

Na primeira leitura, o profeta Ezequiel, dirigindo-se ao Povo de Deus exilado na Babilônia, anuncia a chegada de um tempo de salvação e de graça, em que Deus vai estabelecer a sua morada no meio dos homens e vai derramar sobre a humanidade sofredora vida em abundância.
A questão central no texto deste dia nos propõe como primeira leitura é a da presença de Deus no meio do povo. O nosso texto garante-nos que Deus nunca desiste de Se fazer uma presença amiga e reconfortante em nossa caminhada e de derramar sobre a humanidade sofredora vida em abundância. Trata-se de uma “boa nova” que devemos ter continuamente presente. Contudo, para nós, que cremos, a certeza de que Deus reside em nosso meio e derrama continuamente sobre eles vida em abundância é um convite à serenidade, à confiança e à esperança. O mundo não caminha para um beco sem saída, pois Deus está presente em cada passo da caminhada histórica da humanidade. Nós, temos de dar testemunho, diante dos nossos contemporâneos, desta certeza que nos anima.
Assim, para que a presença de Deus na nossa história tenha um impacto real na forma como, dia a dia, se constrói o nosso mundo, é necessário que a humanidade abandone os caminhos do orgulho e da autossuficiência e aprenda a escutar, com humildade e simplicidade, as propostas e os desafios de Deus.

Na segunda leitura, Paulo recorda aos cristãos de Corinto e aos cristãos de todos os tempos e lugares, que são, no mundo, o Templo de Deus onde reside o Espírito. Animados pelo Espírito, os cristãos são chamados a viver numa dinâmica nova, seguindo Jesus no caminho do amor, da partilha, do serviço, da obediência a Deus e da entrega aos irmãos; vivendo dessa forma, eles tornam Deus presente e atuante no meio da cidade de homens e mulheres.
É a ação de Deus que se deve a constituição da comunidade cristã de Corinto. Paulo que esteve no início histórico da comunidade colocou o alicerce e outros ajudaram a erguer o edifício; mas, por detrás da ação dos homens, de Paulo ou de qualquer outro, está Deus e o seu projeto de salvação para os Coríntios. Portanto, a comunidade cristã de Corinto deve ter consciência de que é um edifício de Deus.
Desta forma, animados pelo Espírito, os cristãos são chamados a viver numa dinâmica nova, seguindo Jesus no caminho do amor, da partilha, do serviço, da obediência a Deus e da entrega aos irmãos, sendo sinal vivo de Deus e as testemunhas de sua salvação diante de homens e mulheres e nosso tempo. O Templo de Deus que é a comunidade cristã é santo. Trata-se de uma comunidade que deve marcar a sua diferença em relação ao mundo, aos valores do mundo, aos esquemas do mundo, à sabedoria do mundo, a fim de se consagrar inteiramente a Deus.

No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o Novo Templo, o “lugar” onde Deus reside no mundo e onde os homens podem fazer a experiência do encontro com Deus. É através de Jesus que o Pai oferece-nos o seu amor e a sua vida.
O Santo Evangelho relata-nos o gesto de Jesus que pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, deita por terra os trocos dos banqueiros e derruba as mesas dos cambistas, está a revelar-Se como “o Messias” e a anunciar que chegaram os novos tempos, os tempos messiânicos.
No entanto, Jesus vai bem mais longe do que os antigos profetas. Ao expulsar do Templo também as ovelhas e os bois que serviam para os ritos sacrificiais que Israel oferecia a Javé, João é o único dos evangelistas a referir este pormenor, Jesus mostra que não propõe apenas uma reforma, mas a abolição do próprio culto. O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém era, antes de mais, algo sem sentido: ao transformar a casa de Deus num mercado, os líderes judaicos tinham suprimido a presença de Deus… Mas, além disso, o culto celebrado no Templo era algo de nefasto: em nome de Deus, este culto criava exploração, miséria, injustiça e, por isso, em lugar de potenciar a relação com Deus, afastava de Deus. Jesus, o Filho, com a autoridade que Lhe vem do Pai, diz um claro “basta” a uma mentira com a qual Deus não pode continuar a pactuar: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio”.
Os líderes judaicos ficam indignados. Quais são as credenciais de Jesus para assumir uma atitude tão radical e grave? Com que legitimidade é que Ele se arroga o direito de abolir o culto oficial prestado a Javé?
A resposta de Jesus é, à primeira vista, estranha: “destruí este Templo e Eu o reconstruirei em três dias”. Recorrendo à figura literária do “mal-entendido” propõe-se uma afirmação; os interlocutores entendem-na de forma errada; aparece, então, a explicação final, que dá o significado exato do que se quer afirmar, João deixa claro que Jesus não Se referia ao Templo de pedra onde Israel celebrava os seus ritos litúrgicos, mas a um outro “Templo” que é o próprio Jesus, “Jesus, porém, falava do Templo do seu corpo”. O que é que isto significa? Jesus desafia os líderes que O questionaram, a suprimir o Templo que é Ele próprio; mas deixa claro que, três dias depois, esse Templo estará outra vez erigido no meio do povo. Jesus alude, evidentemente, à sua ressurreição. A prova de que Jesus tem autoridade para “proceder deste modo” é que os líderes não conseguirão suprimi-lo. A ressurreição garante que Jesus vem de Deus e que a sua atuação tem o selo de garantia de Deus.
No entanto, o mais notável, aqui, é que Jesus Se apresenta como o “novo Templo”. O Templo representava, no universo religioso judaico, a residência de Deus, o lugar onde Deus Se revelava e onde Se tornava presente no meio do seu Povo. Jesus é, agora, o lugar onde Deus reside, onde Se encontra com os homens e onde Se manifesta ao mundo. É através de Jesus que o Pai oferece-nos o seu amor e a sua vida. Aquilo que a antiga Lei já não conseguia fazer, estabelecer relação entre Deus e os homens/mulheres, é Jesus que, a partir de agora, o faz.
Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se e manifesta-lhes o seu amor, oferece a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada e aponta-lhes caminhos de salvação. Somos, assim, convidados a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho”, aquela proposta de vida e de salvação que Deus nunca desistiu de nos apresentar.
Portanto, os cristãos são aqueles que aderiram a Cristo, que aceitaram integrar a sua comunidade, que comeram a sua carne e beberam o seu sangue, que se identificaram com Ele. Membros do Corpo de Cristo, os cristãos são pedras vivas deste novo Templo onde Deus Se manifesta ao mundo e vem ao nosso encontro para oferecer a vida e a salvação. Esta realidade supõe naturalmente, para os que creem, uma grande responsabilidade… Os homens e mulheres do nosso tempo têm de ver no rosto dos cristãos o rosto bondoso e terno de Deus; têm de experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade, de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova de Deus; têm de encontrar, na preocupação dos cristãos com a justiça e com a paz o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos (as), contemplando e reconhecendo Jesus, o Templo Vivo, que é vida nova e plena. Assim seja! Amém.


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