Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a equacionar a nossa caminhada pela história à luz da
certeza de que “o Senhor vem”. Apresenta-nos também indicações concretas acerca
da forma devem viver esse tempo de espera.
A
primeira leitura é um apelo dramático a Javé, o Deus que é “pai” e “redentor”,
no sentido de vir mais uma vez ao encontro de Israel para o libertar do pecado
e para recriar um Povo de coração novo. O profeta não tem dúvidas: a essência
de Deus é amor e misericórdia; essas “qualidades” de Deus são a garantia da sua
intervenção salvadora em cada passo da caminhada histórica do Povo de Deus.
O
nosso texto convida-nos também a reconhecer que só Deus é fonte de salvação e
de redenção. Nós, por nós próprios, somos incapazes de superar essa rotina de
indiferença, de egoísmo, de violência, de mentira, de injustiça que tantas
vezes caracteriza a nossa caminhada pela vida. Deus, o nosso “Pai” e o nosso
“redentor”, é sempre fiel às suas “obrigações” de amor e de justiça e está
sempre disposto a oferecer-nos, gratuita e incondicionalmente, a salvação. A
nós, resta-nos acolher o dom de Deus com humildade e com um coração agradecido.
Assim, a ação de Deus, o seu papel de “redentor” concretiza-se através de Jesus
e das propostas que Ele veio fazer aos homens e mulheres e ao mundo.
A
segunda leitura mostra como Deus Se faz presente na história e na vida de uma
comunidade crente, através dos dons e carismas que gratuitamente derrama sobre
o seu Povo. Sugere também aos crentes que se mantenham atentos e vigilantes, a
fim de acolherem os dons de Deus.
O
nosso texto deixa claro que a comunidade cristã é uma realidade continuamente
enriquecida pela vida de Deus. Através dos seus dons, Deus vem continuamente ao
encontro dos homens e manifesta-lhes o seu amor. Os que creem devem viver numa
permanente atitude de escuta e de acolhimento desses dons. A comunidade de que
faço parte está consciente de que Deus vem continuamente ao nosso encontro através
dos dons que Ele oferece? Acolhe os dons de Deus como sinais vivos do seu amor?
Qual
o objetivo dos dons de Deus? Segundo Paulo, é “tornar firme nos que creem o
testemunho de Cristo”. Os dons de Deus destinam-se a promover a fidelidade das
pessoas e das comunidades ao Evangelho, de forma a que todos nos identifiquemos
cada vez mais com Cristo. Os dons que Deus me concedeu destinam-se sempre a
potenciar a minha fidelidade e a fidelidade dos meus irmãos e irmãs às
propostas de Jesus.
O
Evangelho convida os discípulos a enfrentar a história com coragem,
determinação e esperança, animados pela certeza de que “o Senhor vem”. Ensina,
ainda, que esse tempo de espera deve ser um tempo de “vigilância” – isto é, um
tempo de compromisso ativo e efetivo com a construção do Reino.
O
nosso texto está integrado na terceira parte do discurso escatológico.
Refere-se diretamente ao final dos tempos e à atitude que os discípulos devem
ter face a esse encontro último e definitivo com Jesus. O seu objetivo não é
transmitir informação objetiva acerca do “como” e do “quando”, mas formar os
discípulos e torná-los capazes de enfrentar a história com determinação e
esperança.
O trecho deste domingo começa com uma parábola, a parábola do homem que partiu
em viagem, distribuiu tarefas aos seus servos e mandou ao porteiro que vigiasse
e termina com uma admoestação aos discípulos acerca da atitude correta para esperar
o Senhor. Primitivamente, a parábola contada por Jesus seria dirigida aos discípulos
e teria como objetivo recordar-lhes o dever de guardar e fazer frutificar os
tesouros desse Reino que Jesus lhes confiou antes de partir para o Pai.
O
“dono da casa” da parábola é, evidentemente, Jesus. Ao deixar este mundo para
voltar para junto do Pai, Ele confiou aos discípulos a tarefa de construir o
“Reino” e de tornar realidade um mundo construído de acordo com os valores do
Reino. Os discípulos de Jesus não podem, portanto, cruzar os braços, à espera
que o Senhor venha; eles têm uma missão, uma missão que lhes foi confiada pelo
próprio Jesus e que eles devem concretizar, mesmo em condições adversas. É
necessário não esquecer isto: esta espera, vivida no tempo da história, não é
uma espera passiva, de quem se limita a deixar passar o tempo até que chegue um
final anunciado; mas é uma espera ativa, que implica um compromisso efetivo com
a construção de um mundo mais humano, mais fraterno, mais justo, mais
evangélico.
Quem
é o “porteiro”, com uma tarefa especial de vigilância? Na perspectiva de
Marcos, o “porteiro” parece ser todo aquele que tem uma responsabilidade
especial na comunidade cristã… A sua missão é impedir que a comunidade seja
invadida por valores estranhos ao Evangelho e à dinâmica do Reino. A figura do
“porteiro” adequa-se, especialmente, aos responsáveis da comunidade cristã, a
quem foi confiada a missão da vigilância e da animação da comunidade. Eles
devem ajudar a comunidade a discernir permanentemente, diante dos valores do
mundo, aquilo que a comunidade pode ou não aceitar para viver na fidelidade ativa
a Jesus e às suas propostas.
Todos
– “porteiro” e demais servos do “senhor” – devem estar ativos e vigilantes. A
palavra-chave do Evangelho deste dia é esta: “vigilância”. Contudo,
“vigilância” não significará, para os discípulos, o viver à margem da história,
numa postura alienante, evitando comprometer-se para não se sujar com as
realidades do mundo e procurando manter a “alminha” pura e sem mancha para que
o Senhor, quando chegar, os encontre sem pecados graves; mas será o viver dia a
dia comprometido com a construção do Reino, realizando fielmente as tarefas que
o Senhor lhes confiou. Essas tarefas passam pelo compromisso efetivo com a
construção de um mundo novo, um mundo que viva cada vez mais de acordo com os
projetos de Deus.
O
nosso texto assegura aos discípulos, em caminhada pelo mundo, que o objetivo
final da história humana é o encontro definitivo e libertador com Jesus. “O
Senhor vem” – garante-lhes o próprio Jesus; e esta certeza deve animar e dar
esperança aos discípulos, sobretudo nos momentos de crise e de confusão. Mesmo
que tudo pareça ruir à sua volta, os discípulos são chamados a não perder a
esperança e a ver, para além das estruturas velhas que vão caindo, a realidade
do mundo novo a nascer.
Que
devem os discípulos fazer, enquanto esperam que irrompa definitivamente esse
mundo novo prometido? Devem, com coragem e perseverança, dar o seu contributo
para a edificação do “Reino”, sendo testemunhas e arautos da paz, da justiça,
do amor, do perdão, da fraternidade, cumprindo dessa forma a missão que Jesus
lhes confiou.
Desta
forma, o Evangelho deste domingo coloca-nos diante de uma certeza fundamental:
“o Senhor vem”. A nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao
encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria ao encontro do Senhor que
vem. Não se trata de uma vaga esperança, mas de uma certeza baseada na palavra
infalível de Jesus. E o Tempo de Advento recorda-nos a realidade de um Senhor
que vem ao nosso encontro e que, no final da nossa caminhada por esta terra,
nos oferecerá a vida definitiva, a felicidade sem fim. Assim, o tempo do
Advento é, também, o tempo da espera do Senhor. O Evangelho deste domingo
diz-nos como deve ser essa espera… A palavra mágica é “vigilância”: o
verdadeiro discípulo deve estar sempre “vigilante”, cumprindo com coragem e
determinação a missão que Deus lhe confiou. Portanto, estar “vigilante” significa
viver sempre ativo, empenhado, comprometido na construção de um mundo de vida,
de amor e de paz. Significa cumprir, com coerência e sem meias tintas, os compromissos
assumidos no dia do batismo e ser um sinal vivo do amor e da bondade de Deus no
mundo. Estar “vigilante” é ser uma voz ativa e questionante no meio de homens e
mulheres, levando-os a confrontarem-se com os valores do Reino. Assim seja!
Amém.
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