domingo, 12 de outubro de 2014

Maria é modelo para toda comunidade que crê


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo apresenta a imagem do casamento como imagem que exprime de forma privilegiada a relação de amor que Deus estabeleceu com o seu Povo. A questão fundamental é, portanto, a revelação do amor de Deus. Celebramos ainda, a Solenidade da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Maria é apresentada como a Serva do Senhor que diz “sim” à sua Palavra, como a cheia de graça, que si mesmo nada é, mas que tudo por bondade de Deus.

Temos neste trecho do Livro de Ester o desfecho de um episódio que por pouco não se transformou em massacre do povo eleito, exilado e cativo na Pérsia. Ester substituía a rainha, destronada por ter caído na desgraça do Rei Xerxes. O primeiro ministro do rei, odiava os judeus e conseguiu que ele consentisse o extermínio do povo de Deus. Ester sendo judia e sabendo da trama, intercede em favor de seu povo e alcança o benefício do rei. Ester é figura de Maria enquanto intercede pela salvação do povo.

No Livro do Apocalipse a mulher adornada de todo seu esplendor – o sol, a lua e as doze estrelas, imagens tradicionais – simbolizam o povo de Deus: antes de tudo, o antigo Israel, do qual nasceu Jesus segundo a carne; depois o novo Israel, a Igreja, Corpo de Cristo. Um e outro são vítimas das perseguições do dragão, isto é, de satanás, aqui descrito como os símbolos do domínio. O menino, dado à luz pela mulher, é evidentemente o messias, visto tanto em sua realidade histórica como misticamente nos cristãos.

O Evangelho apresenta, no contexto de um casamento - cenário da “aliança”, um “sinal” que aponta para o essencial do “programa” de Jesus: apresentar a humanidade o Pai que os ama, e que com o seu amor os convoca para a alegria e a felicidade plenas. Revela-nos que Jesus veio ao mundo para trazer a Boa Nova do Reino de Deus e firmar a Nova e eterna Aliança entre Deus e os homens através do mistério pascal. Assim, a água da purificação dos judeus, sinal do Antigo Testamento que está para terminar, será substituída pelo vinho da Nova Aliança que alegra os nossos corações e nos traz a salvação. E isso acontece numa festa de casamento, sinal das núpcias do Cordeiro e prefiguração da Igreja como esposa de Cristo.
Assim, o relato conta-nos que ”Houve uma festa de casamento”. Jesus foi convidado: “Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos”.  Eis agora o drama: “Faltou vinho”. No rito do casamento, o momento alto era quando os esposos bebiam no mesmo copo de vinho; o vinho é o símbolo do amor. Então, neste casamento, que é símbolo da aliança entre Deus e o seu povo, falta a elemento mais importante: falta o amor. “Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: ‘Eles não têm vinho! ”. A mãe não diz, como estamos acostumados a ler nas velhas traduções “Não tem mais vinho”. O vinho nunca esteve. E tampouco diz: “Não temos vinho”, porque o Israel fiel sempre conservou com Deus este relacionamento de amor. Portanto sempre existiu o vinho do amor. A mãe de Jesus se preocupa com a massa do povo “Não têm vinho” e portanto chama a atenção de Jesus sobre a situação do povo.
“Jesus respondeu: "Mulher, que existe entre nós? Quer dizer o que importa isso para mim e para você?  Jesus se dirige com esta expressão para declarar o papel dela de esposa da aliança. “Minha hora ainda não chegou", a hora da aliança de Jesus será quando derramará o seu sangue na cruz. A nova aliança não será como a antiga, feita de sangue de touros, mas com o próprio sangue de Jesus, quer dizer do próprio filho de Deus. “A mãe de Jesus” – pela terceira vez aparece este termo – o número três na simbologia hebraica significa o que é completo, o que está cheio – “disse aos que estavam servindo”: e aqui o evangelista usa o termo “diáconos” que significa não aqueles que devem servir, mas aqueles que servem livremente por amor e se colocam voluntariamente a serviço dos outros. "Façam o que ele mandar." As palavras da mãe de Jesus, a sua ordem, repetem aquilo que o povo disse a Moisés depois da aliança” Tudo o que o Senhor mandar fazer nós o faremos”.
“Haviam seis potes de pedra”, o número sete indica a totalidade, o número seis indica a imperfeição. Portanto, há algo de imperfeito. Estes potes pois, são de pedra e não de barro, portanto pesados, imóveis. Para que deviam servir estes potes? “Para os ritos de purificação dos judeus”. No texto original não existe a palavra ‘rito’. Fala-se simplesmente de “purificação dos judeus”. Eis aqui, no centro do episódio, o evangelista aponta o motivo pelo qual falta o amor. Porque falta o amor? Porque um relacionamento com Deus alicerçado só sobre a observância da lei fazia sentir o povo sempre indigno, sempre culpado... E sabemos quando nos sentimos sempre culpados, não podemos experimentar o amor de Deus. Eis o problema que existe neste casamento onde falta o vinho, falta o amor: é a purificação quer dizer uma religião, uma lei que fazia sempre sentir as pessoas indignas e sempre culpadas. Além do mais, o evangelista afirma que deviam conter seiscentos litros ou mais e portanto sempre esta capa pesada da purificação.
E agora a intervenção de Jesus: “Encham de água esses potes”. Os potes não vão conter nunca a água da purificação. Será o próprio Jesus que irá fornecer a verdadeira água da purificação. "Agora tirem e levem ao mestre-sala". Aparece pela primeira vez um personagem importante que é o mestre-sala. Nestes almoços que podiam ter a duração de uns dias, havia um encarregado que devia vigiar o desenrolar da festa e, sobretudo devia ficar atento às provisões. No entanto este personagem importante não percebe que está faltando vinho.
Os chefes não se dão conta da situação do povo, que está sem amor. Para eles não interessa. No entanto Jesus diz: ”Agora tirem e levem ao mestre-sala". E eles levaram. “Este provou a água transformada em vinho”; os odres não conterão nunca vinho, símbolo do Espírito que Jesus vai efundir, mas a água se torna vinho quando é haurida dos potes. De fato o texto diz: “ Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água”, portanto nos odres tem água, mas quando sai se transforma em vinho, porque o vinho é o dom de Jesus. É a nova aliança alicerçada sobre o amor.
“Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha e exclama: “Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora."
O episódio de Caná marca o início dos sinais de Jesus, que têm como finalidade levar a nova humanidade à maturidade da fé e a posse da vida. Assim, a comunidade cristã, entregando-se total e definitivamente ao esposo da humanidade, participa da Nova Criação, o mundo novo. Vivemos tempos de plenitude, tempos de vinho novo. Os que caminham com Jesus na construção do reino de Deus são pessoas novas. Portanto, anuncia o programa de Jesus: trazer à relação entre Deus e a humanidade o vinho da alegria, do amor e da festa. Este programa – que Jesus vai cumprir paulatinamente ao longo de toda a sua vida – realizar-se-á em plenitude no momento da “Hora” – da doação total por amor.  E o início de tudo foi a ação de Maria, que pede o milagre a Jesus, mas que com sua adesão ao projeto de Deus, abriu caminho para o início do Novo Testamento.

Desta forma, Maria indica-nos com clareza qual é o segredo da eficácia, qual é o caminho da salvação, como chegaremos à verdadeira felicidade: que façamos o que nos diz o Seu Filho, que cumpramos fielmente e com amor os Mandamentos da lei de Deus, que a penitência que hoje agrada a Deus é aquela que vai unida ao cumprimento fiel dos nossos deveres de todos os dias. Nossa Senhora é modelo e exemplo maravilhoso de fé, pois, acreditou, desde o primeiro momento, que havia de cumprir-se tudo o que lhe foi dito da parte do Senhor. Confiemo-nos à sua poderosa proteção, pois, Maria é modelo para toda a comunidade que crê. Assim seja! Amém.

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