Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo deixa claro que Deus chama todos os homens e mulheres a
empenhar-se na construção desse mundo novo de justiça e de paz que Deus sonhou
e que quer propor a todos (as). Assim, a Palavra de Deus exorta-nos a um
compromisso sério e coerente com Deus, um compromisso que signifique um
empenho real e exigente na construção de um mundo novo, de justiça, de
fraternidade, de paz.
Na
primeira leitura, o profeta Ezequiel convida os israelitas exilados na
Babilônia a comprometerem-se de forma séria e consequente com Deus, sem
rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios. Cada pessoa deve tomar consciência das
consequências do seu compromisso com Deus e viver, com coerência, as
implicações práticas da sua adesão a Javé e à Aliança.
Está
aberto o caminho para uma Nova Aliança: uma Aliança que não é feita
genericamente com uma comunidade, mas uma Aliança pessoal e interior, feita com
cada um. Então, somos convidados a tomar consciência de que um compromisso com
Deus é algo que nos implica profundamente e que devemos sentir pessoalmente, com
verdade e coerência, a nossa responsabilidade e nossa opção por aqueles que
mais necessitam.
A
segunda leitura apresenta aos cristãos de Filipos, e aos cristãos de todos os
tempos e lugares, o exemplo de Cristo: apesar de ser Filho de Deus, Cristo não
afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas assumiu a realidade
da fragilidade humana, fazendo-se servidor, para nos ensinar a suprema lição do
amor e serviço, entrega total da vida por amor. Os cristãos são chamados por
Deus a seguir Jesus e a viver do mesmo jeito, na entrega total ao Pai e aos
seus projetos.
Paulo
tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil;
mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido
um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço e do amor.
O
Evangelho diz como se concretiza o compromisso dos que creem com Deus… O “sim”
que Deus nos pede não é uma declaração teórica de boas intenções, sem
implicações práticas; mas é um compromisso firme, coerente, sério e exigente
com o Reino, com os seus valores, com o seguimento de Jesus Cristo. O
verdadeiro cristão não é aquele que “dá boa impressão”, que finge respeitar as
regras e que tem um comportamento irrepreensível do ponto de vista das
convenções sociais; mas é aquele que cumpre na realidade da vida a vontade de
Deus.
A
parábola dos dois filhos ilustra duas atitudes diversas diante dos desafios e
das propostas de Deus.
O
primeiro filho foi convidado pelo pai a trabalhar “na vinha”. A sua primeira
resposta foi negativa: “não quero”. No entanto, este primeiro filho acabou por
reconsiderar e por ir trabalhar na vinha. O segundo filho, diante do mesmo
convite, respondeu: “vou, sim, senhor”. Deu ao pai uma resposta satisfatória,
que não punha em causa a sua autoridade e a sua “honra”. Ficou bem visto diante
de todos e todos o consideraram um filho exemplar. No entanto, acabou por não ir
trabalhar na vinha.
A
questão posta, em seguida, por Jesus, é: “qual dos dois fez a vontade do pai? ”
A resposta é tão óbvia que os próprios interlocutores de Jesus não têm qualquer
coisa a falar: “o primeiro”.
A
parábola ensina que, na perspectiva de Deus, o importante não é quem se
comportou bem e não escandalizou os outros; mas, de acordo com a lógica de
Deus, o importante é cumprir, realmente, a vontade do pai. Na perspectiva de
Deus, não bastam palavras bonitas ou declarações de boas intenções; mas é
preciso uma resposta adequada e coerente aos desafios e às propostas de Deus
Pai.
É
certo que os fariseus, os sacerdotes, os anciãos do Povo, disseram “sim” a Deus
ao aceitar a Lei de Moisés… A sua atitude, como a do filho que disse “sim” e
depois não foi trabalhar para a vinha, foi irrepreensível do ponto de vista das
convenções sociais; mas, do ponto de vista do cumprimento da vontade de Deus, a
sua atitude foi uma mentira, pois, recusaram-se a acolher o convite de João à
conversão. Em contrapartida, aqueles que, de acordo com o “política e
religiosamente correto” disseram “não”, por exemplo, os cobradores de impostos
e as prostitutas, cumpriram a vontade do Pai: acolheram o convite de João à
conversão e acolheram a proposta do Reino que Jesus veio apresentar.
Desta
forma, a parábola dos dois filhos chamados para trabalhar “na vinha” do pai
sugere que, na perspectiva de Deus, todos os seus filhos são iguais e têm a
mesma responsabilidade na construção do Reino. Deus tem um projeto para o mundo
e quer ver todos os seus filhos, sem distinção de raça, de cor, de estatuto social,
de formação intelectual, implicados na concretização desse projeto. Ninguém
está dispensado de colaborar com Deus na construção de um mundo mais humano,
mais justo, mais verdadeiro, mais fraterno. Tenho consciência de que também eu
sou chamado a trabalhar na vinha de Deus?
Diante
do chamamento de Deus, há dois tipos de resposta… Há aqueles que escutam o
chamamento de Deus, mas não são capazes de vencer o imobilismo, a preguiça, o
comodismo, o egoísmo, a autossuficiência e não vão trabalhar para a vinha, mesmo
que tenham dito “sim” a Deus e tenham sido batizados; e há aqueles que acolhem
o chamamento de Deus e que lhe respondem de forma generosa.
O
que é que significa, exatamente, dizer “sim” a Deus? É ser batizado ou
crismado? É fazer parte de uma confraria qualquer da paróquia? É fazer parte da
equipe que gere a Igreja? É ir todos os dias à missa e rezar diariamente a
Liturgia das Horas?
Na
parábola apresentada por Jesus, não chega dizer um “sim” inicial a Deus; mas é
preciso que esse “sim” inicial se confirme, depois, num verdadeiro empenho na
“vinha” do Senhor. Ou seja: não bastam palavras e declarações de boas
intenções; é preciso viver, dia a dia, os valores do Evangelho, seguir Jesus
nesse caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, construir, com gestos
concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de
paz. Como me situo face a isto: sou um cristão “de registo”, que tem o nome nos
livros da paróquia, ou sou um cristão “de fato”, que dia a dia procura acolher
a novidade de Deus, perceber os seus desafios, responder aos seus apelos e
colaborar com Ele na construção de uma nova terra, de justiça, paz,
fraternidade e felicidade para todos (as). Portanto, o essencial é que tenha
acolhido o chamamento de Deus e que tenha aceitado trabalhar “na vinha”. Assim
seja! Amém.
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