Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo, a Festa da Exaltação da Santa Cruz, convida-nos a contemplar a
cruz de Jesus. Ela é a expressão suprema do amor de um Deus que veio ao nosso
encontro, que aceitou partilhar a nossa humanidade, que quis fazer-se servo dos
homens, que se deixou matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos.
Oferecendo a sua vida na cruz, em dom de amor, Jesus indicou-nos o caminho para
chegar à vida plena.
A
primeira leitura fala-nos de um Deus que nunca abandona o seu Povo em caminhada
e que está sempre lá, ajudando-o a perceber o sem sentido das suas opções
erradas e convidando-o continuamente a nunca parar nessa busca da vida e da
verdadeira liberdade. A serpente de bronze levantada sobre um poste, através da
qual Deus dá vida ao seu Povo e o protege das forças destruidoras que ele
enfrenta ao longo da sua peregrinação pelo deserto, traduz a vontade de Deus em
dar vida; e é, por outro lado, um símbolo dessa força salvífica que se derrama
da cruz de Cristo, o homem levantado ao alto para dar vida a todo o mundo. Deus
ama-nos e vem todos os dias ao nosso encontro para nos oferecer o seu amor e a
sua vida. Assim, precisamos estar permanentemente atentos a este Deus que nos
desafia, que nos educa, que nos indica o caminho.
Na
segunda leitura, Paulo apresenta aos crentes de Filipos uma leitura da encarnação
de Cristo. Jesus, o Filho amado de Deus, prescindiu do orgulho e da arrogância,
para escolher o caminho da obediência ao Pai e do serviço, até ao dom da vida. A
cruz é a expressão máxima deste caminho e desta opção. É este mesmo caminho de
vida que os que creem de todas as épocas e lugares são convidados a acolher e a
percorrer.
Paulo
tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil;
mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é
pedido, neste dia em que somos convidados a contemplar a cruz de Cristo, um
passo em frente no difícil caminho da humildade, do serviço, do amor... O
exemplo de Cristo garante-nos que o caminho da cruz, da entrega, do dom da vida
não é um caminho de "perdedores" e de fracassados, o caminho do dom
da vida, conduz ao sepulcro vazio da manhã de Páscoa, à ressurreição. É um
caminho que garante a vitória e a vida plena.
No
Evangelho, João recorda-nos que Deus nos amou de tal forma, que enviou o seu
Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna. Convida-nos a
olhar para a cruz de Jesus, a aprender com ele a lição do amor total, a
percorrer com ele o caminho da entrega e do dom da vida. É este o caminho da
salvação, da vida em abundância.
No
texto que nos é proposto, Jesus começa por explicar a Nicodemos que o messias
tem de "ser levantado ao alto", como "Moisés levantou a
serpente" no deserto. A imagem do "levantamento" de Jesus refere-se,
naturalmente, à cruz, passo necessário para chegar à exaltação, à vida definitiva.
É aí que Jesus manifesta o teu amor e que indica a homens e mulheres o caminho
que eles devem percorrer para alcançar a salvação, a vida plena.
Assim,
é sugerido a todos (as) que acreditem no "Filho do Homem" levantado
na cruz, para que não pereçam mas tenham a vida eterna. "Acreditar"
no "Filho do Homem", significa aderir a ele e à sua proposta de vida;
significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus, dom total da própria
vida a Deus e aos irmãos. É desta forma que se chega à "vida eterna".
Depois
destas afirmações gerais, o autor do Quarto Evangelho vai entrar em afirmações
mais detalhadas. O que é que significa, exatamente, a cruz de Jesus? Como é que
a cruz gera vida definitiva para o homem?
Jesus,
o "Filho único" enviado pelo Pai ao encontro da humanidade para
trazer a vida definitiva, é o grande dom do amor de Deus. A expressão
"Filho único" evoca, provavelmente, o "sacrifício de Isaac":
Deus comporta-se como Abraão, que foi capaz de desprender-se do próprio filho
por amor, no caso de Abraão, amor a Deus; no caso de Deus, amor aos homens...
Jesus, o "Filho único" de Deus, veio ao mundo para cumprir os planos
do Pai em favor de homens e mulheres. Para isto, encarnou na nossa história
humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa
humanidade; e, como consequência de uma vida “gasta” a lutar contra as forças
das trevas e da morte que nos escravizam, foi preso, torturado e morto numa
cruz. A cruz é o último ato de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega.
A cruz é, portanto, a expressão suprema do amor de Deus. Ela dá-nos a dimensão
do incomensurável amor de Deus por essa humanidade a quem ele quer oferecer a
salvação. Ao
enviar ao mundo o seu "Filho único", o messias não veio com uma
missão judicial, nem veio excluir ninguém da salvação. Pelo contrário, ele veio
oferecer a todos (as) a vida definitiva, ensinando-os a amar sem medida e
dando-lhes o Espírito que os transforma.
Reparemos
neste fato notável, Deus não enviou o seu Filho único ao encontro de pessoas
perfeitas e santas; mas enviou o seu Filho único ao encontro de pecadores, a
fim de lhes apresentar uma nova proposta de vida... E foi o amor de Jesus, bem
como, o Espírito que Jesus deixou, que transformou estas pessoas e os inseriu
numa dinâmica de vida nova e plena. Portanto, porque amava a humanidade, Deus
enviou o seu Filho único ao mundo com uma proposta de salvação. Esta oferta
nunca foi retirada; continua aberta e à espera de resposta. Diante da oferta de
Deus, podemos escolher a vida eterna, ou pode excluir-se da salvação.
Desta
forma, o Evangelho deste Domingo convida-nos a contemplar, com João, esta
incrível história de amor pleno e incondicional, de Deus para com a humanidade,
o amor de Deus traduz-se na oferta de vida plena e definitiva. E neste texto,
João define claramente o caminho que devemos seguir para chegar à vida eterna:
trata-se de "acreditar" em Jesus. "Acreditar" em Jesus, não
é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé; mas é escutar
Jesus, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-lo nesse difícil caminho
do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos. Passa pelo ser capaz de ultrapassar a
indiferença, o comodismo, os projetos pessoais e pelo empenho em concretizar,
no dia a dia da vida, os apelos e os desafios de Deus; passa por despir o
egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, os preconceitos, para realizar gestos
concretos de dom, de entrega, de serviço que tragam alegria, vida e esperança
aos irmãos que caminham lado a lado conosco. Assim, a liturgia da Festa da
Exaltação da Santa Cruz convida-nos a percorrer, com Jesus, esse caminho de
amor, de dom, de entrega total que ele percorre, pois, celebrar a Santa Cruz é um convite a ressuscitar e viver no amor. Assim seja! Amém.
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