Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos
irmãos que nos rodeiam. Afirma, claramente, que ninguém pode ficar indiferente
diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos
responsáveis uns pelos outros.
A
primeira leitura fala-nos do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a
vigiar a cidade dos homens. Atento aos projetos de Deus e à realidade do mundo,
o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a
impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a
comunidade para os perigos que a ameaçam. Pelo batismo, todos nós fomos
constituídos profetas. Recebemos do nosso Deus a missão de dizer aos nossos
irmãos que certos valores que o mundo cultiva e endeusa são responsáveis por
muitos dos dramas que afligem homens e mulheres.
O
profeta/sentinela é um sinal vivo, dom do amor de Javé pelo seu Povo. É Deus
que o chama, que o envia em missão, que lhe dá a coragem de testemunhar, que o
apoia nos momentos de crise, de desilusão e de solidão… O profeta/sentinela é a
prova de que Deus, cada dia, continua a oferecer ao seu Povo caminhos de
salvação e de vida. O profeta/sentinela demonstra, sem margem para dúvidas, que
Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Na
segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Roma e de todos os lugares e
tempos, a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se
de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará
completamente saldada. O cristão nunca poderá cruzar os braços e dizer que já
ama o suficiente ou que já amou tudo: ele tem uma dívida eterna de amor para
com os seus irmãos. O amor está no centro de toda a nossa experiência
religiosa. No mandamento do amor, resume-se toda a Lei e todos os preceitos. Os
diversos mandamentos não passam, aliás, de especificações da exigência do amor.
Na
última ceia, despedindo-se dos discípulos, Jesus resumiu desta forma a proposta
que veio apresentar aos homens: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.
Este não é “mais um mandamento”, mas é “o mandamento” de Jesus.
O
Evangelho deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar
consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do
amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correto para atingir esse objetivo
não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo
fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do
amor.
Mateus
apresenta-nos uma parte da catequese de Jesus sobre a experiência de caminhada
em comunidade. Ele desenha, assim, um “modelo” de comunidade para os cristãos
de todos os tempos: a comunidade de Jesus tem de ser uma família de irmãos, que
vive em harmonia, que dá atenção aos pequenos e aos débeis, que escuta os
apelos e os conselhos do Pai e que vive no amor.
E
o fragmento do que nos é hoje proposto refere-se, especialmente, ao modo de
proceder para com o irmão que errou e que provocou conflitos no seio da
comunidade. Como é que os irmãos da comunidade devem proceder, nessa situação?
Devem condenar, sem mais, e marginalizar o infrator?
Neste
quadro, as decisões radicais e fundamentalistas raramente são cristãs. É
preciso tratar o problema com bom senso, com maturidade, com equilíbrio, com
tolerância e, acima de tudo, com amor. Mateus propõe um caminho em várias
etapas…
Em
primeiro lugar, Mateus propõe um encontro com esse irmão, em privado, e que se
fale com ele cara a cara sobre o problema. O caminho correto não passa,
decididamente, por dizer mal “por trás”, por publicitar a falta, por criticar
publicamente. O caminho correto passa pelo confronto pessoal, leal, honesto,
sereno, compreensivo e tolerante com o irmão em causa.
Se
esse encontro não resultar, Mateus propõe uma segunda tentativa. Esta nova
tentativa implica o recurso a outros irmãos, “toma contigo uma ou duas
pessoas”, diz Mateus, que com serenidade, sensibilidade e bom senso, sejam
capazes de fazer o infrator perceber o sem sentido do seu comportamento.
Se
também essa tentativa falhar, resta o recurso à comunidade. A comunidade será
então chamada a confrontar o infrator, a recordar-lhe as exigências do caminho
cristão e a pedir-lhe uma decisão. No caso de o infrator se obstinar no seu
comportamento errado, a comunidade terá que reconhecer, com dor, a situação em
que esse irmão se colocou a si próprio; e terá de aceitar que esse
comportamento o colocou à margem da comunidade. Mateus não sugere aqui, com
certeza, que a Igreja possa excluir da comunhão qualquer irmão que errou. Na
realidade, a Igreja é uma realidade divina e humana, onde coexistem a santidade
e o pecado. O que Mateus aqui sugere é que a Igreja tem de tomar posição quando
algum dos seus membros, de forma consciente e obstinada, recusa a proposta do
Reino e realiza atos que estão frontalmente contra as propostas que Cristo veio
trazer.
Depois
desta instrução sobre a correção fraterna, Mateus acrescenta três “ditos” de
Jesus. O primeiro refere-se ao poder, conferido à comunidade, de “ligar” e
“desligar”. Entre os judeus, a expressão designava o poder para interpretar a
Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido e para excluir ou
reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus; aqui, significa que a
comunidade; algum tempo antes, Jesus dissera estas mesmas palavras a Pedro; mas
aí Pedro representava a totalidade da comunidade dos discípulos, tem o poder
para interpretar as palavras de Jesus, para acolher aqueles que aceitam as suas
propostas e para excluir aqueles que não estão dispostos a seguir o caminho que
Jesus propôs. O segundo sugere que as decisões graves para a vida da comunidade
devem ser tomadas em clima de oração. Assegura aos discípulos, reunidos em
oração, que o Pai os escutará. O terceiro garante aos discípulos a presença de
Jesus “no meio” da comunidade, pois, “onde estão dois ou três reunidos em meu
nome, Eu estou no meio deles”.
O
Evangelho deste domingo sugere a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão e
irmã a tomar consciência dos seus erros. Convida-nos a respeitar ao nosso
irmão e irmã, mas a não pactuar com as atitudes erradas que ele possa assumir. Amar
alguém é não ficar indiferente quando ele está a fazer mal a si próprio; por
isso, amar significa, muitas vezes, corrigir, admoestar, questionar, discordar,
interpelar… É preciso amar muito e respeitar muito o outro, para correr o risco
de não concordar com ele, de lhe fazer observações que o vão magoar; no
entanto, trata-se de uma exigência que resulta do mandamento do amor…É por isso
que o Evangelho de hoje convida a ir ao encontro do outro, a quem se ama, a
quem se acolhe e a quem se dá sempre outra oportunidade de acolher as propostas
de Jesus e de integrar a comunidade do Reino, numa Igreja de irmãos e irmãs em
Cristo Jesus, pois, no amor acolhe-se o outro sempre. Assim seja! Amém.
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