domingo, 31 de agosto de 2014

Amar é seguir Jesus e tomar a cruz...


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo convida-nos a descobrir a “loucura da cruz”, o acesso a essa vida verdadeira e plena que Deus nos quer oferecer passa pelo caminho do amor e do dom da vida, a cruz.  Celebramos, pois, o Dia do Catequista, que a exemplo do mestre Jesus, anuncia a Boa Nova.

Na primeira leitura, um profeta de Israel – Jeremias - descreve a sua experiência de “cruz”. Seduzido por Javé, Jeremias colocou toda a sua vida ao serviço de Deus e dos seus projetos. Neste “caminho”, ele teve que enfrentar os poderosos e pôr em causa a lógica do mundo; por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição… É esta a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Javé no seu coração e vivem em coerência com os valores de Deus.
Assim, o amor por Deus e pela sua Palavra está tão vivo no coração do profeta que é inútil resistir: “procurava contê-lo, mas não podia”. A Palavra de Deus é um fogo devorador, que consome o coração do profeta e que não o deixa demitir-se da missão e esconder-se numa vida cômoda e instalada. Ao profeta, cabe, portanto, continuar ao serviço da Palavra, enfrentando o seu destino de solidão e de sofrimento, na esperança de, ao longo da caminhada, reencontrar esse amor de Deus que um dia o seduziu e ao qual o profeta nunca saberá renunciar, descobrindo que, sem Deus e sem o seu amor, a nossa vida não faz sentido.

A segunda leitura convida os cristãos a oferecerem toda a sua existência de cada dia a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere. O que é que significa oferecer a Deus toda a existência? Significa, de acordo com Paulo, não nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver em consequência.
Na perspectiva de Paulo, o que é que significa o homem oferecer inteiramente significa, em primeiro lugar, não se conformar com “este mundo”, isto é, manter uma distância crítica em relação aos esquemas do mundo e aos valores sobre os quais este mundo de egoísmo e de pecado se constrói. Significa, em segundo lugar, uma mudança de coração, de mentalidade e de inteligência, que possibilite ao homem discernir qual é a vontade de Deus, a fim de poder percorrer, com fidelidade, os seus caminhos. O “culto espiritual” de que Paulo fala é, portanto, a entrega a Deus da totalidade da vida.

No Evangelho, Jesus avisa aos discípulos de que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas passa pelo amor e pelo dom da vida, até à morte, se for necessário. Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
O nosso texto pode, claramente, dividir-se em duas partes. Na primeira, Jesus anuncia aos discípulos a sua paixão; na segunda, Jesus apresenta uma instrução sobre o significado e as exigências de ser seu discípulo.
A primeira parte começa com o anúncio de Jesus de que o caminho para a ressurreição passa pelo sofrimento e pela morte na cruz. Jesus tem consciência da missão do Reino e anuncia que pretende continuar a apresentar, até ao fim, os planos do Pai.
Pedro não está de acordo com este final e opõe-se, decididamente, a que Jesus caminhe em direção ao seu destino de cruz. A oposição de Pedro e dos discípulos, pois, Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade, significa que a sua compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “Messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro, que é a lógica do mundo, a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Jesus dirige-Se a Pedro com alguma dureza, pois, é preciso que os discípulos corrijam a sua perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio; mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas consequências, de que a cruz é a expressão mais radical. Ao pedir a Jesus que não embarque nos projetos do Pai, Pedro está a repetir essas tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério; por isso, Mateus coloca na boca de Jesus a mesma resposta que, então, Ele deu ao diabo: “Retira-te, Satanás”. As palavras de Pedro pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que O impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projetos de Deus.
Na segunda parte, Jesus apresenta uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo. Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no seu caminho de amor, de entrega e de dom da vida.
O que é que significa, exatamente, renunciar a si mesmo? Significa renunciar ao seu egoísmo e autossuficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projetos de riqueza, de segurança, de bem-estar, de domínio, de êxito, de triunfo… O cristão deve fazer da sua vida um dom generoso a Deus e aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino.
O que é que significa “tomar a cruz” de Jesus e segui-l’O? A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida, de forma total e completa, por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
No final desta instrução, Jesus explica aos discípulos as razões pelas quais eles devem abraçar a “lógica da cruz”. Em primeiro lugar, Jesus convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos não fracassou; mas ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas. Em segundo lugar, os discípulos são convidados a perceber que a vida que gozam neste mundo não é a vida definitiva. Não devem, pois, preocupar-se em preservá-la a qualquer custo, devem é procurar encontrar, já nesta terra, essa vida definitiva que passa pelo amor total e pelo dom a Deus e aos outros. É esta a grande meta que todos devem procurar alcançar. Em terceiro lugar, os discípulos devem pensar no seu encontro final com Deus: nessa altura, Deus dar-lhes-á a recompensa pelas opções que fizeram.
Desta forma, a identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de vida… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus; vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. É amar até às últimas consequências, pois, “se alguém quiser seguir-me, tome a sua cruz…”. Assim seja! Amém. 

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