Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a descobrir a “loucura da cruz”, o acesso a essa vida
verdadeira e plena que Deus nos quer oferecer passa pelo caminho do amor e do
dom da vida, a cruz. Celebramos, pois, o Dia do Catequista, que a exemplo do mestre Jesus, anuncia a Boa Nova.
Na
primeira leitura, um profeta de Israel – Jeremias - descreve a sua experiência
de “cruz”. Seduzido por Javé, Jeremias colocou toda a sua vida ao serviço de
Deus e dos seus projetos. Neste “caminho”, ele teve que enfrentar os poderosos
e pôr em causa a lógica do mundo; por isso, conheceu o sofrimento, a solidão, a
perseguição… É esta a experiência de todos aqueles que acolhem a Palavra de Javé
no seu coração e vivem em coerência com os valores de Deus.
Assim,
o amor por Deus e pela sua Palavra está tão vivo no coração do profeta que é
inútil resistir: “procurava contê-lo, mas não podia”. A Palavra de Deus é um
fogo devorador, que consome o coração do profeta e que não o deixa demitir-se
da missão e esconder-se numa vida cômoda e instalada. Ao profeta, cabe,
portanto, continuar ao serviço da Palavra, enfrentando o seu destino de solidão
e de sofrimento, na esperança de, ao longo da caminhada, reencontrar esse amor
de Deus que um dia o seduziu e ao qual o profeta nunca saberá renunciar,
descobrindo que, sem Deus e sem o seu amor, a nossa vida não faz sentido.
A
segunda leitura convida os cristãos a oferecerem toda a sua existência de cada
dia a Deus. Paulo garante que é esse o sacrifício que Deus prefere. O que é que
significa oferecer a Deus toda a existência? Significa, de acordo com Paulo,
não nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos
de Deus e a viver em consequência.
Na
perspectiva de Paulo, o que é que significa o homem oferecer inteiramente significa,
em primeiro lugar, não se conformar com “este mundo”, isto é, manter uma
distância crítica em relação aos esquemas do mundo e aos valores sobre os quais
este mundo de egoísmo e de pecado se constrói. Significa, em segundo lugar, uma
mudança de coração, de mentalidade e de inteligência, que possibilite ao homem
discernir qual é a vontade de Deus, a fim de poder percorrer, com fidelidade,
os seus caminhos. O “culto espiritual” de que Paulo fala é, portanto, a entrega
a Deus da totalidade da vida.
No
Evangelho, Jesus avisa aos discípulos de que o caminho da vida verdadeira não
passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas passa pelo amor e pelo dom da vida,
até à morte, se for necessário. Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser
ser seu discípulo tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
O
nosso texto pode, claramente, dividir-se em duas partes. Na primeira, Jesus
anuncia aos discípulos a sua paixão; na segunda, Jesus apresenta uma instrução
sobre o significado e as exigências de ser seu discípulo.
A
primeira parte começa com o anúncio de Jesus de que o caminho para a ressurreição
passa pelo sofrimento e pela morte na cruz. Jesus tem consciência da missão do
Reino e anuncia que pretende continuar a apresentar, até ao fim, os planos do
Pai.
Pedro
não está de acordo com este final e opõe-se, decididamente, a que Jesus caminhe
em direção ao seu destino de cruz. A oposição de Pedro e dos discípulos, pois,
Pedro continua a ser o porta-voz da comunidade, significa que a sua compreensão
do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “Messias,
Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro, que é
a lógica do mundo, a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Jesus
dirige-Se a Pedro com alguma dureza, pois, é preciso que os discípulos corrijam
a sua perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de
Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio;
mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas
consequências, de que a cruz é a expressão mais radical. Ao pedir a Jesus que
não embarque nos projetos do Pai, Pedro está a repetir essas tentações que
Jesus experimentou no início do seu ministério; por isso, Mateus coloca na boca
de Jesus a mesma resposta que, então, Ele deu ao diabo: “Retira-te, Satanás”.
As palavras de Pedro pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai;
e Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que O impeça de
concretizar, com amor e fidelidade, os projetos de Deus.
Na
segunda parte, Jesus apresenta uma instrução sobre as atitudes próprias do
discípulo. Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”,
“tomar a cruz” e seguir Jesus no seu caminho de amor, de entrega e de dom da
vida.
O
que é que significa, exatamente, renunciar a si mesmo? Significa renunciar ao
seu egoísmo e autossuficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros.
O cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em
concretizar os seus sonhos pessoais, os seus projetos de riqueza, de segurança,
de bem-estar, de domínio, de êxito, de triunfo… O cristão deve fazer da sua
vida um dom generoso a Deus e aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulo de
Jesus e integrar a comunidade do Reino.
O
que é que significa “tomar a cruz” de Jesus e segui-l’O? A cruz é a expressão
de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da
própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida, de forma
total e completa, por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
No
final desta instrução, Jesus explica aos discípulos as razões pelas quais eles
devem abraçar a “lógica da cruz”. Em primeiro lugar, Jesus convida-os a
entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é
capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos não fracassou; mas ganhou a vida
eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas
propostas. Em segundo lugar, os discípulos são convidados a perceber que a vida
que gozam neste mundo não é a vida definitiva. Não devem, pois, preocupar-se em
preservá-la a qualquer custo, devem é procurar encontrar, já nesta terra, essa
vida definitiva que passa pelo amor total e pelo dom a Deus e aos outros. É esta
a grande meta que todos devem procurar alcançar. Em terceiro lugar, os
discípulos devem pensar no seu encontro final com Deus: nessa altura, Deus
dar-lhes-á a recompensa pelas opções que fizeram.
Desta
forma, a identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de
vida… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom
da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta
da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que
toma a mesma cruz de Jesus; vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no
serviço aos irmãos. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida
para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. É amar até às últimas
consequências, pois, “se alguém quiser seguir-me, tome a sua cruz…”. Assim
seja! Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!