Irmãos e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a tomar consciência da importância da Palavra de Deus
e da centralidade que ela deve assumir em nossa vida.
A
primeira leitura garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda e
criadora de vida. Ela dá-nos esperança, indica-nos os caminhos que devemos
percorrer e dá-nos o ânimo para intervirmos no mundo. É sempre eficaz e produz
sempre efeito, embora não atue sempre de acordo com os nossos interesses e
critérios.
Para
expressar a ideia da eficácia da Palavra de Deus, o profeta utiliza o exemplo
da chuva e da neve: assim como a chuva e a neve que descem do céu fecundam a
terra e multiplicam a vida nos campos, assim a Palavra de Javé não deixará de
se concretizar e de criar vida plena para o Povo de Deus. A Palavra de Deus é
como essa água bendita caída do céu que, inevitavelmente, gera essa vida que
alimenta o Povo de Deus. A Palavra de Deus é eficaz, transformadora, geradora
de vida; revela-nos os projetos de Deus para o mundo e para homens e mulheres,
convida-nos ao compromisso com a transformação e a renovação do mundo.
A
segunda leitura apresenta uma temática, a solidariedade entre o homem e o resto
da criação. E a Palavra de Deus é que fornece os critérios para que possamos
viver “segundo o Espírito” e para que ele possa construir o “novo céu e a nova
terra” com que sonhamos.
Assim,
aconteça o que acontecer, somos convidados a olhar para o futuro do mundo e da
humanidade com os óculos da esperança. Não caminhamos para o holocausto, para a
destruição, para o nada, mas para o “novo céu e a nova terra”, que já estão em
gérmen presentes na nossa história e que, cada dia, se manifestam um pouco
mais. E este “novo céu e nova terra” não podem ser projetados para um futuro
ideal, no céu… Eles estão já a construir-se na terra, na nossa história, sempre
que os seguidores de Jesus aceitam o seu convite e se dispõem a viver “segundo
o Espírito”.
O
Evangelho propõe-nos, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a forma como
acolhemos a Palavra e exorta-nos a ser uma “boa terra”, disponível para escutar
as propostas de Jesus, para as acolher e para deixar que elas deem abundantes
frutos na nossa vida de cada dia. Garante-nos também que o “Reino” proposto por
Jesus será uma realidade imparável, onde se manifestará em todo o seu esplendor
e fecundidade a vida de Deus.
A
parábola que hoje nos é proposta, a do semeador e da semente, é uma das mais
conhecidas e emblemáticas das parábolas de Jesus. No entanto, o texto do
Evangelho de hoje vai um pouco mais além da parábola em si… Apresenta três
partes: a parábola, um conjunto de “ditos” sobre a função das parábolas e a
explicação da parábola.
Na
primeira parte temos, pois, a parábola propriamente dita. O quadro apresentado
supõe as técnicas agrícolas usadas na época: primeiro, o agricultor lançava a
semente à terra; depois, é que passava a arar o terreno. Assim compreende-se
porque é que uma parte da semente pode cair “à beira do caminho”, outra em
“sítios pedregosos onde não havia muita terra” e outra “entre os espinhos”.
Evidentemente,
as diferenças do terreno significam, nesta “comparação”, as diferentes formas
como é acolhida a semente. No entanto, nem sequer é isso que é mais
significativo: o que aqui é verdadeiramente significativo é a quantidade
espantosa de frutos que a semente lançada na “boa terra” produz… Tendo em conta
que, na época, uma colheita de sete por um era considerada farta, os cem,
sessenta e trinta por um deviam parecer aos ouvintes de Jesus algo de
surpreendente, de exagerado, de milagroso…Com esta parábola, Jesus diz aos
discípulos desiludidos: “coragem! Não desanimeis, pois, apesar do aparente
fracasso, o ‘Reino’ é uma realidade imparável; e o resultado final será algo de
surpreendente, de maravilhoso, de inimaginável”.
Na
segunda parte temos uma reflexão sobre a função das parábolas. O ponto de partida
é uma questão posta pelos discípulos: porque é que Jesus fala em parábolas? Mateus
vê nas parábolas a ocasião para que apareçam, com nitidez, o acolhimento e a
recusa da mensagem proposta por Jesus. Que quer isto dizer? As parábolas
apresentam a proposta do “Reino” numa linguagem sugestiva, rica, clara,
concreta, questionante, interpeladora… Tornam tudo claro e evidente para os
ouvintes; por isso, após escutar a mensagem apresentada nas parábolas, só não
aceita a mensagem quem tiver o coração endurecido e não estiver mesmo
interessado na proposta. As parábolas são, portanto, o fator decisivo: propõem
clara e inequivocamente a realidade do “Reino”. Quem acolher essa mensagem,
receberá mais e “terá em abundância”, quer dizer, irá entrando, cada vez mais,
na dinâmica do “Reino”; mas quem não a acolher, apesar da clareza e da
acessibilidade da mensagem, está a rejeitar o “Reino” e a possibilidade de
integrar a comunidade da salvação. Nos que rejeitam a proposta de Jesus, cumpre-se
a profecia de Isaías: o profeta fala de um povo de coração endurecido, que
quanto mais ouve a pregação profética, mais se irrita, agravando cada vez mais
a sua culpa.
Assim,
os discípulos são aqueles que escutam a proposta do “Reino” e estão dispostos a
acolhê-la. Eles compreendem, portanto, as parábolas e aceitam a realidade que
elas propõem. Eles são “felizes”, porque abriram o coração às propostas de
Jesus, escutaram as suas palavras, viram e entenderam os seus gestos e sinais;
são “felizes” porque ao contrário daqueles que endureceram o coração e fecharam
os ouvidos à proposta de Jesus já integram o “Reino”.
Na
terceira parte, temos a explicação da parábola. Nesta explicação, a parábola
deixa de ser uma apresentação da forma grandiosa como o “Reino” se vai
manifestar, para passar a ser uma reflexão sobre as diversas atitudes com que a
comunidade acolhe a Palavra de Jesus, na verdade, é esta a grande preocupação
das comunidades cristãs.
Na
perspectiva dos catequistas que prepararam esta aplicação da parábola, o
acolhimento do Evangelho não depende, nem da semente, nem de quem semeia; mas
depende da qualidade da terra. Diante
da Palavra de Jesus, há várias atitudes… Há aqueles que têm um coração duro
como o chão de terra batida dos caminhos: a Palavra de Jesus não poderá
penetrar nessa terra e dar fruto. Há aqueles que têm um coração inconstante,
capaz de se entusiasmar instantaneamente, mas também de desanimar perante as
primeiras dificuldades: a Palavra de Jesus não pode aí criar raízes. Há aqueles
que têm um coração materialista, que dá sempre prioridade à riqueza e aos bens
deste mundo: a Palavra de Jesus é aí facilmente sufocada por esses outros
interesses dominantes. Há também aqueles que têm um coração disponível e bom,
aberto aos desafios de Deus: a Palavra de Jesus é aí acolhida e dá muito fruto.
Os verdadeiros discípulos, a “boa terra”, identificam-se com aqueles que
escutam as parábolas, as entendem e acolhem a proposta do “Reino”. Desta forma,
que a Palavra possa enraizar-se em nós para lhe permitir produzir fruto em
abundância. Assim seja! Amém.
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