Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a descobrir o Deus paciente e cheio de misericórdia,
a quem não interessa a marginalização do pecador, mas a sua integração na
comunidade do “Reino”; e convida-nos, sobretudo, a interiorizar essa “lógica”
de Deus, deixando que ela marque o olhar que lançamos sobre o mundo e sobre
homens e mulheres.
A
primeira leitura fala-nos de um Deus que, apesar da sua força e omnipotência, é
indulgente e misericordioso para com homens e mulheres, mesmo quando eles
praticam o mal. Agindo dessa forma, Deus convida os seus filhos (as) a serem
“humanos”, isto é, a terem um coração tão misericordioso e tão indulgente como
o coração de Deus.
Ora,
a essência de Deus é amor, bondade e misericórdia; por isso, ser justo
equivale, para Deus, a revelar amor, benevolência e bondade na sua atitude para
com as pessoas. Deus não quer a morte do pecador, mas sim que ele se converta e
viva; por isso, “fecha os olhos” diante do pecado, a fim de o convidar ao
arrependimento. A lógica de Deus é uma lógica de perdão e de misericórdia, o
Povo de Deus deve adaptar a mesma lógica e assumir atitudes de bondade, de amor,
de misericórdia, de tolerância, nas suas relações comunitárias. Mais: a bondade
e a compreensão não devem ser reservadas para aqueles que são bons, mas também
para aqueles que fazem insistentemente o mal, esta é a Pedagogia do Pai-Amor.
A
segunda leitura sublinha, doutra forma, a bondade e a misericórdia de Deus.
Afirma que o Espírito Santo, dom de Deus, vem em auxílio da nossa fragilidade,
guiando-nos no caminho para a vida plena. É Deus que nos dá a força de viver
“segundo o Espírito”. No entanto, devemos continuamente pedir a Deus, nosso
Pai, essa graça.
O
Espírito de Deus, vivo e atuante na história do mundo e na vida de cada homem
ou mulher é a “prova provada” do amor de Deus por nós. O Espírito oferece-nos
cada dia a vida de Deus, leva-nos ao encontro de Deus, faz com que a nossa voz
chegue ao coração de Deus. É preciso, no entanto, disponibilidade para o
acolher e atenção aos sinais através dos quais Ele nos conduz ao encontro de
Deus. Acolher o Espírito é sair do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência e
procurar descobrir, com humildade e simplicidade, os caminhos de Deus, os desafios
de Deus. É preciso encontrar tempo e espaço para refletir, para redefinir o
sentido da nossa existência, para perceber se estamos a conduzir a nossa vida
“segundo a carne” ou “segundo o Espírito”. Pois, o verdadeiro cristão, o que
vive em comunhão com Deus. Não prescinde desses momentos de diálogo, de
partilha, de escuta, de louvor a que chamamos oração. É no diálogo intenso,
verdadeiro, diário que o cristão, através do Espírito, intui a lógica de Deus,
a sua verdade, o projeto que Ele tem para cada homem/mulher e para o mundo.
O
Evangelho garante a presença irreversível no mundo do “Reino de Deus”. Esse
“Reino” não é um clube exclusivo de “bons” e de “santos”: nele todos os homens
e mulheres, bons e maus, encontram a possibilidade de crescer, de amadurecer as
suas escolhas, de serem tocados pela graça, até ao momento final da opção
definitiva.
A
primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio. Trata-se
de um quadro da vida quotidiana: há um “senhor” que semeia boa semente no seu
campo, um “inimigo” que semeia o joio e “servos” dedicados, preocupados com o
futuro da colheita. Tudo parece normal; o anormal é a reação do “senhor” à “crise”:
dá ordens para que deixem crescer trigo e joio lado a lado e que só na altura
da ceifa seja feita a seleção do bom e do mal, do que é para queimar e do que é
para guardar nos celeiros.
Jesus
quis dizer a todos esses que a religião oficial excluía, que Deus os amava e
que os convidava a fazer parte da sua família, a integrar a comunidade da
salvação, a serem membros de pleno direito da comunidade do “Reino”.
Nesta
parábola, Jesus pretende dar-nos uma lição sobre a “lógica” de Deus. Sugere que
a “lógica” de Deus não é uma “lógica” de destruição, de segregação, de
exclusão, mas é uma “lógica” de amor, de misericórdia, de tolerância. O Deus de
Jesus Cristo é um Deus paciente e misericordioso, lento para a ira e rico de
misericórdia, que dá sempre todas as oportunidades para refazer a existência e
para integrar plenamente a comunidade do “Reino”. Ele tem um plano de salvação
e de graça que oferece gratuitamente a todos, bons e maus; depois, no tempo
oportuno, ver-se-á quem são os maus e quem são os bons. De resto, não é muito
fácil separar o bom e o mau, porque as duas realidades coexistem em todos os
“campos”, em todos os corações.
Assim,
o “senhor” da parábola é esse Deus paciente, que dá ao homem todas as
oportunidades, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Os “servos” com excesso de zelo são os creem, que trabalham no campo do
“senhor”, rígidos e intolerantes, incapazes de olhar o mundo e o coração dos
homens/mulheres com a bondade, a serenidade e a paciência de Deus.
O
“campo” é o mundo e a história, onde coexistem o trigo, os sinais de esperança,
de vida, de amor que tornam este mundo mais belo e mais feliz e o joio, os
sinais, de morte, responsáveis pelo sofrimento, pela opressão, pela escravidão.
É também o coração de cada homem e de cada mulher, capaz de opções de vida e
capazes de opções de morte.
Jesus
garante os métodos de Deus não passam pelo castigo imediato, pela intolerância
face às opções de homens e mulheres, pela incompreensão dos erros dos seus
filhos; os métodos de Deus passam por deixar-nos crescer em liberdade,
integrando a comunidade dos filhos de Deus.
O
Evangelho deste domingo propõe-nos ainda duas outras parábolas: a parábola do
grão de mostarda e a parábola do fermento. São duas parábolas muito
semelhantes, quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma.
Numa
e noutra, o quadro é o mesmo: sublinha-se a desproporção entre o início e o
resultado final. O grão de mostarda é uma semente muito pequena, que no entanto
pode dar origem a um arbusto de razoáveis dimensões; o fermento apresenta um
aspecto perfeitamente insignificante, mas tem a capacidade de fermentar uma
grande quantidade de massa. Estas duas comparações servem para apresentar o
dinamismo do “Reino”. O “Reino” anunciado por Jesus compara-se ao grão de
mostarda e ao fermento: parece algo insignificante, que tem inícios muito modestos
e humildes, mas contém potencialidades para encher o mundo, para o transformar
e renovar. Trata-se de um dinamismo de vida nova que começa como uma pequena
semente lançada à terra numa província obscura e insignificante do império
romano, mas que vai lançar as suas raízes, invadir história e potenciar o
aparecimento de um mundo novo.
Desta
forma, a Palavra de Deus convida-nos, contudo, a não perder a confiança e a
esperança. Apesar das aparências, o dinamismo do “Reino” está presente, minando
positivamente a história e a vida de homens e mulheres. Assim, falar do “Reino”
é falar de uma realidade em processo de construção, onde cada homem e cada
mulher têm o direito de crescer ao seu ritmo, de fazer as suas escolhas, de
acolher ou não o dom de Deus, até à opção final e definitiva. É falarmos de uma
realidade onde o amor de Deus, vivo e atuante, vai introduzindo no coração do
homem um dinamismo de conversão, de transformação, de renascimento, de vida
nova. O Deus de Jesus Cristo é um Deus de amor e de misericórdia, sem pressa
para castigar, que dá ao homem “todo o tempo do mundo” para crescer, para
descobrir o dom de Deus e para fazer as suas escolhas. Saibamos olhar para o
mundo, para os grupos, para as pessoas sem preconceitos, com a mesma bondade, compreensão
e tolerância que Deus manifesta face a cada homem e a cada mulher,
independentemente das suas escolhas e do seu ritmo de caminhada. Jesus garante-nos
que o “Reino” é uma realidade irreversível, que veio para ficar e para
transformar o mundo, capaz de levar a um compromisso mais sério e mais exigente
com o “Reino”. É urgente escolher o campo do Senhor e Ser semente e Fermento da
Boa Nova. Assim seja! Amém.
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