Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo ensina-nos onde encontrar Deus. Garante-nos que Deus não Se
revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na
humildade, na pobreza, na pequenez.
A
primeira leitura apresenta-nos um enviado de Deus que vem ao encontro na pobreza,
na humildade, na simplicidade; e é dessa forma que elimina os instrumentos de
guerra e de morte e instaura a paz definitiva.
Uma
certa visão “americanizada” do mundo e da vida defende a necessidade de armar
exércitos formidáveis, de gastar uma considerável fatia do orçamento das nações
em instrumentos de morte cada vez mais sofisticados, para impor, pela força e
pelo medo, a paz e a segurança do mundo. Zacarias diz-nos que a lógica de Deus
é outra: Ele chega desarmado, pacífico, humilde, sem arrogância e é, dessa
forma, que Ele salva e liberta. Para mim, qual faz mais sentido: a lógica
desarmada de Deus ou a lógica musculada dos senhores do mundo?
Assim,
a história da salvação mostrou, muitas vezes, que é através dos pequenos, dos
humildes, dos pobres, dos insignificantes que Deus atua no mundo e o
transforma. Deus está mais na viúva que lança no tesouro do Templo umas pobres
moedas do que no capitalista que preenche um cheque para pagar os vitrais da
nova igreja da paróquia; Deus está mais no olhar límpido de uma criança do que
na palavra poderosa de um pregador inflamado que “sabe tudo” sobre Deus…
Na
segunda leitura, Paulo convida aos que creem comprometidos com Jesus desde o
dia do Batismo, a viverem “segundo o Espírito” e não “segundo a carne”. A vida
“segundo a carne” é a vida daqueles que se instalam no egoísmo, orgulho e autossuficiência;
a vida “segundo o Espírito” é a vida daqueles que aceitam acolher as propostas
de Deus.
Jesus,
o Deus/Homem, gastou a vida a cumprir o projeto do Pai de dar vida ao homem. A
sua ação acabou por chocar com os interesses dos senhores do mundo, e Ele foi
morto na cruz. No entanto, essa morte na cruz não foi o “fim da linha”: o
Espírito de Deus, sempre presente em Jesus, ressuscitou-O, pois, no projeto de
Deus, o oferecer a vida para concretizar o plano do Pai não pode gerar morte,
mas vida plena e definitiva. Ora, Jesus ofereceu aos seus discípulos o mesmo
Espírito. Os discípulos têm de estar conscientes de que, se viverem como Jesus
e se fizerem da vida um dom a Deus e aos irmãos, receberão essa mesma vida nova
e definitiva que o Espírito deu a Jesus. Assim, Paulo convida aos cristãos a
tirarem as conclusões práticas desta realidade: se viverem “segundo a carne”,
morrerão, isto é, não encontrarão a vida definitiva; mas se viverem segundo o
Espírito, ressuscitarão para a vida nova.
No
Evangelho, Jesus louva o Pai porque a proposta de salvação que Deus faz a
humanidade e que foi rejeitada pelos “sábios e inteligentes”, encontrou
acolhimento no coração dos “pequeninos”. Os “grandes”, instalados no seu
orgulho e autossuficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios
de Deus; mas os “pequenos”, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre
disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus
No Evangelho Jesus apresenta-nos algumas sentenças: a primeira é uma oração de louvor
que Jesus dirige ao Pai, porque Ele escondeu “estas coisas” aos “sábios e
inteligentes” e as revelou aos “pequeninos”.
Os
“sábios e inteligentes” são certamente esses “fariseus” e “doutores da Lei”,
que absolutizavam a Lei, que se consideravam justos e dignos de salvação porque
cumpriam escrupulosamente a Lei, que não estavam dispostos a deixar pôr em
causa esse sistema religioso em que se tinham instalado e que, na sua
perspectiva, lhes garantia automaticamente a salvação. Os “pequeninos” são os
discípulos, os primeiros a responder positivamente à oferta do “Reino”; e são
também esses pobres e marginalizados, que Jesus encontrava todos os dias pelos
caminhos da Galileia, considerados malditos pela Lei, mas que acolhiam, com
alegria e entusiasmo, a proposta libertadora de Jesus.
A
segunda sentença relaciona-se com a anterior e explica o que é que foi
escondido aos “sábios e inteligentes” e revelado aos “pequeninos”. Trata-se,
nem mais nem menos, do “conhecimento”, quer dizer, uma “experiência profunda e
íntima” de Deus. Os “sábios e inteligentes” (fariseus e doutores da Lei)
estavam convencidos de que o conhecimento da Lei lhes dava o conhecimento de
Deus. A Lei era uma espécie de “linha direta” para Deus, através da qual eles
ficavam a conhecer Deus, a sua vontade, os seus projetos para o mundo; por
isso, apresentavam-se como detentores da verdade, representantes legítimos de
Deus, capazes de interpretar a vontade e os planos divinos.
Jesus
deixa claro que quem quiser fazer uma experiência profunda e íntima de Deus tem
de aceitar Jesus e segui-l’O. Ele é “o Filho” e só Ele tem uma experiência
profunda de intimidade e de comunhão com o Pai. Quem rejeitar Jesus não poderá
“conhecer” Deus: quando muito, encontrará imagens distorcidas de Deus e
aplicá-las-á depois para julgar o mundo e as pessoas. Mas quem aceitar Jesus e
O seguir, aprenderá a viver em comunhão com Deus, na obediência total aos seus
projetos e na aceitação incondicional dos seus planos.
A
terceira sentença é um convite a ir ao encontro de Jesus e a aceitar a sua
proposta: “vinde a Mim”; “tomai sobre vós o meu jugo…”. Entre os fariseus do
tempo de Jesus, a imagem do “jugo” era aplicada à Lei de Deus, a suprema norma
de vida. Para os fariseus, por exemplo, a Lei não era um “jugo” pesado, mas um
“jugo” glorioso, que devia ser carregado com alegria. Na realidade, tratava-se
de um “jugo” pesadíssimo. A impossibilidade de cumprir, no dia a dia, os
mandamentos da Lei escrita e oral, criava consciências pesadas e atormentadas.
Os crentes, incapazes de estar em regra com a Lei, sentiam-se condenados e
malditos, afastados de Deus e indignos da salvação. A Lei aprisionava em lugar
de libertar e afastava os homens de Deus em lugar de os conduzir para a
comunhão com Deus.
Jesus
veio libertar-nos da escravidão da Lei. A sua proposta de libertação plena
dirige-se aos pecadores, ao povo simples do país, que, pela dureza da vida que
levava, não podia cumprir escrupulosamente todos os ritos da Lei, a todos
aqueles que a Lei exclui e amaldiçoa. Jesus garante-lhes que Deus não os exclui
nem amaldiçoa e convida-os a integrar o mundo novo do “Reino”. É nessa nova
dinâmica proposta por Jesus que eles encontrarão a alegria e a felicidade que a
Lei recusa dar-lhes.
A
proposta do “Reino” destina-se a todos os homens e mulheres, sem exceção… No
entanto, são os pobres e débeis aqueles que já desesperaram do socorro humano,
que têm o coração mais disponível para acolher a proposta de Jesus. Os outros, os
ricos, os poderosos estão demasiado cheios de si próprios, dos seus interesses,
dos seus esquemas organizados, para aceitar arriscar na novidade de Deus.
Assim, acolhendo a proposta de Jesus e seguindo-O, os pobres e oprimidos
encontrarão o Pai, tornar-se-ão “filhos de Deus” e descobrirão a vida plena, a
salvação definitiva, a felicidade total. Cristo oferece aos pobres, aos
marginalizados, aos pequenos, a todos aqueles que a Lei escravizava e oprimia,
a libertação e a esperança.
O
Evangelho diz que: “conhecemos” Deus através de Jesus. Jesus é “o Filho” que
“conhece” o Pai; só quem segue Jesus e procura viver como Ele, no cumprimento
total dos planos de Deus, pode chegar à comunhão com o Pai. Há crentes que, por
terem feito catequese, por irem à missa ao domingo e por fazerem parte do
conselho pastoral da paróquia, acham que conhecem Deus, isto é, que têm com Ele
uma relação estreita de intimidade e comunhão… Atentamos, só “conhece” Deus
quem é simples e humilde e está disposto a seguir Jesus no caminho da entrega a
Deus e da doação da vida. É no seguimento de Jesus, e só aí, que nos tornamos
“filhos” de Deus. Portanto, aceitamos o chamado: “Vinde a mim”. Assim seja!
Amém.
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