Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a refletir nas nossas prioridades, nos valores sobre
os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão
deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus.
A
primeira leitura apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. O texto
mostra que Salomão não concebeu o seu papel como um privilégio pessoal que
podia ser usado em benefício próprio, mas sim como um ministério que lhe foi
confiado por Deus. Salomão tinha consciência de que a autoridade é um serviço
que deve ser exercido com “sabedoria” e que o objetivo final desse serviço é a
realização do bem comum.
O
nosso texto deixa claro que, em Israel, o rei é o “instrumento de Deus”, o
intermediário entre Deus e o seu Povo. É através da pessoa do rei que Deus
governa, que intervém na vida do seu Povo e o conduz pela história. Finalmente,
os autores sublinham a “qualidade” da resposta de Salomão: ele não pede riqueza
nem glória, mas pede as aptidões necessárias e a capacidade para cumprir bem a
missão que Deus lhe confiou.
Assim,
Salomão aparece aqui como o modelo do homem que sabe escolher as coisas
importantes e que não se deixa distrair por valores efêmeros. E a figura de
Salomão interpela também todos aqueles que detêm responsabilidades na
comunidade, seja em termos civis, seja em termos religiosos. Convida-os a uma
verdadeira atitude de serviço, o seu objetivo não deve nunca ser a realização
dos próprios esquemas pessoais, mas sim o benefício de toda a comunidade, a
concretização do bem comum.
A
segunda leitura convida-nos a seguir o caminho e a proposta de Jesus. Este é o valor
mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas. Este
projeto não é um acontecimento casual, mas algo que, desde sempre, está
previsto nos planos de Deus. E aos que aderem a esse projeto, Deus chama-os a
identificarem-se com o seu filho Jesus, liberta-os do egoísmo e do pecado e com
Jesus, chegar à vida nova e plena.
Assim,
o projeto salvador de Deus está aberto a todos aqueles que querem acolhê-l’O. O
que Paulo sublinha aqui é que se trata de um dom gratuito de Deus e que esse dom
está previsto desde toda a eternidade. Portanto, somos convocados a testemunhar,
com palavras, com ações, com a vida, no meio dos irmãos que dia a dia percorrem
conosco o caminho da vida, o amor e o projeto de salvação que Deus tem.
No
Evangelho, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus
seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os
outros valores e interesses devem passar para segundo plano, face a esse
“tesouro” supremo que é o Reino. O texto do Evangelho deste domingo pode ser
dividido em três partes. Em cada uma delas, há aspectos e questões que convém
destacar. Na primeira parte, temos duas parábolas, a parábola do tesouro
escondido no campo e a parábola da pérola preciosa. Ambas desenvolvem o mesmo
tema e apresentam ensinamentos semelhantes.
A
questão principal abordada nesta primeira parte é a da descoberta do valor e da
importância do Reino. Quer a parábola do tesouro escondido, quer a parábola da
pérola preciosa, sugerem que o Reino proposto por Jesus, este mundo de paz, de
amor, de fraternidade, de serviço, de reconciliação que Jesus veio anunciar e
oferecer, é um “tesouro” precioso, que os seguidores de Jesus devem abraçar,
antes de qualquer outro valor ou proposta. Os cristãos são, antes de mais,
aqueles que encontraram algo de único, de fundamental, de decisivo: o Reino.
Ora, quando alguém encontra um “tesouro” como esse, deve elegê-lo como a
riqueza mais preciosa, o fim último da própria existência, o valor fundamental
pelo qual se renuncia a tudo o resto e pelo qual se está disposto a pagar
qualquer preço. Provavelmente, Mateus está a sugerir a esses cristãos a quem o
seu Evangelho se destina, adormecidos numa fé morna, inconsequente, pouco exigente,
que é preciso redescobrir e optar decisivamente por esse valor mais alto, que deve
dar sentido às suas vidas, o Reino.
Na
segunda parte, Mateus apresenta o Reino na imagem de uma rede que, lançada ao
mar, apanha diversos tipos de peixes. A parábola apresenta um ensinamento
semelhante ao da parábola do trigo e do joio: o Reino não é um condomínio
fechado, onde só há gente escolhida e santa, mas é uma realidade onde o mal e o
bem crescem simultaneamente. Deus não tem pressa de condenar e destruir. Ele
não quer a morte do pecador; por isso, dá a homens e mulheres o tempo
necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e para fazer as suas
escolhas.
A
referência que Mateus faz, mais uma vez, ao juízo final é uma forma de exortar
os irmãos da sua comunidade no sentido de escolherem decididamente o Reino e
porem em prática as propostas de Jesus.
Na
terceira parte do Evangelho que nos é proposto, Mateus apresenta um breve
diálogo entre Jesus e os discípulos. Neste diálogo temos uma espécie de
conclusão de todo o capítulo. Mateus sugere que o verdadeiro discípulo de Jesus
é aquele que “compreende”. Ora, “compreender”, na teologia de Mateus, significa
“prestar atenção” e comprometer-se com o ensinamento proposto. Os cristãos são,
pois, convidados a descobrir a realidade do Reino, a entender as suas
exigências, a comprometerem-se com os seus valores. A referência ao “escriba”
que “tira do seu tesouro coisas novas e velhas” pode referir-se aos judeus,
conhecedores profundos do Antigo Testamento, o “velho”, convidados agora a
refletirem essas velhas promessas à luz das propostas de Jesus, o “novo”.
Para
Mateus, não há qualquer dúvida: ser cristão é ter como prioridade, como objetivo
mais importante, como valor fundamental, o Reino. O cristão vive no meio do
mundo e é todos os dias desafiado pelos esquemas e valores do mundo; mas não
pode deixar que a procura dos bens seja o objetivo número um da sua vida, pois
o Reino é partilha. O cristão está permanentemente mergulhado num ambiente em
que a força e o poder aparecem como o grande ideal; mas ele não pode deixar que
o poder seja o seu objetivo fundamental, porque o Reino é serviço. O cristão é
todos os dias convencido de que o êxito profissional, a fama a qualquer preço
são condições essenciais para triunfar e para deixar a sua marca na história;
mas ele não pode deixar-se seduzir por esses esquemas, pois a realidade do
Reino vive-se na humildade e na simplicidade.
Desta
forma, o cristão é confrontado, a par e passo, com muitos valores e opções; mas
deve aperceber-se de que o valor mais importante é o Reino. É nesta dialética sempre exigente e questionante que
o verdadeiro discípulo encontra o caminho para o Reino; e, depois de encontrar
esse caminho, deve comprometer-se com ele de forma decisiva, exigente,
empenhada na construção do “reino novo e mais irmão”. Assim seja! Amém.
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