Irmãos
e irmãs,
A
Festa da Ascensão de Jesus, que hoje celebramos, sugere que, no final do
caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, a comunhão com
Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus
seguidores, que devemos continuar a realizar o projeto libertador de Deus para
os homens e mulheres de todo o mundo.
Na
primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa, Jesus, depois de
ter apresentado ao mundo o projeto do Pai, entrou na vida definitiva da
comunhão com Deus; a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo
“caminho” que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos, eles não podem ficar a
olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio do povo,
continuar o projeto de Jesus. As palavras de despedida de Jesus sublinham dois
aspectos: a vinda do Espírito e o testemunho que os discípulos vão ser chamados
a dar “até aos confins do mundo”.
Temos,
em primeiro lugar, a elevação de Jesus ao céu. Não estamos a falar de uma
pessoa que, literalmente, descola da terra e começa a elevar-se; estamos a
falar de um sentido teológico, a ascensão é uma forma de expressar,
simbolicamente, que a exaltação de Jesus é total e atinge dimensões supra
terrenas; é o culminar de uma vida vivida para Deus, que agora reentra na
glória da comunhão com o Pai.
Temos,
depois, a nuvem que subtrai Jesus aos olhos dos discípulos. Pairando a meio
caminho entre o céu e a terra a nuvem é, no Antigo Testamento, um símbolo
privilegiado para exprimir a presença do divino. Ao mesmo tempo, simultaneamente,
esconde e manifesta, sugere o mistério do Deus escondido e presente, cujo rosto
o Povo não pode ver, mas cuja presença adivinha nos acidentes da caminhada. Céu
e terra, presença e ausência, luz e sombra, divino e humano, são dimensões aqui
sugeridas a propósito de Cristo ressuscitado, elevado à glória do Pai, mas que
continua a caminhar com os discípulos.
Temos,
ainda, os discípulos a olhar para o céu. Significa a expectativa dessa
comunidade que espera ansiosamente a segunda vinda de Cristo, a fim de levar ao
seu termo o projeto de libertação. E finalmente, os dois homens vestidos de
branco. O branco sugere o mundo de Deus, que indica que o seu testemunho vem de
Deus. Eles convidam os discípulos a continuar no mundo, animados pelo Espírito,
a obra libertadora de Jesus; agora, é a comunidade dos discípulos que tem de
continuar na história a obra de Jesus, embora com a esperança posta na segunda
e definitiva vinda do Senhor.
A
segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que
foram chamados, a vida plena de comunhão com Deus. Devem caminhar ao encontro
dessa “esperança” de mãos dadas com os irmãos, membros do mesmo “corpo” e em
comunhão com Cristo, a “cabeça” desse “corpo”.
Cristo
é a “cabeça” da Igreja, formando uma comunidade indissolúvel e que há entre os
dois uma comunhão total de vida e de destino; significa, também, que Cristo é o
centro à volta do qual o “corpo” se articula, a partir do qual e em direção ao
qual o “corpo” cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse “corpo”.
Na
Igreja reside a “plenitude”, a “totalidade” de Cristo. Ela é o receptáculo, a
habitação, onde Cristo Se torna presente no mundo; é através desse “corpo” onde
reside que Cristo continua todos os dias a realizar o seu projeto de salvação
em favor da humanidade. Presente nesse “corpo”, Cristo enche o mundo e atrai a
Si o universo inteiro, até que o próprio Cristo “seja tudo em todos”.
Na
nossa peregrinação pelo mundo, convém termos sempre presente “a esperança a que
fomos chamados”. A ressurreição/ascensão/glorificação de Jesus é a garantia da
nossa própria ressurreição/glorificação. Formamos com Ele um “corpo” destinado
à vida plena. Esta perspectiva tem de dar-nos a força de enfrentar a história e
de avançar, apesar das dificuldades, nesse “caminho” do amor e da entrega total
que Cristo percorreu.
O
Evangelho apresenta o encontro final de Jesus ressuscitado com os seus
discípulos, num monte da Galileia. A comunidade dos discípulos, reunida à volta
de Jesus ressuscitado, reconhece-O como o seu Senhor, adora-O e recebe d’Ele a
missão de continuar no mundo o testemunho do “Reino”.
O
texto que descreve o encontro final entre Jesus e os discípulos divide-se em
duas partes. Na primeira, descreve-se o encontro. Jesus, vivo e ressuscitado,
revela-Se aos discípulos; e os discípulos reconhecem-n’O como “o Senhor” e
adoram-n’O. Ao reconhecimento e à adoração dos discípulos, segue-se uma
manifestação do mistério de Jesus, que reflete a fé da comunidade de Mateus: Jesus
é o que possui todo o poder sobre o mundo e sobre a história; Jesus “o mestre”,
cujo ensinamento será sempre uma referência para os discípulos; Jesus é o
“Deus-conosco”, que acompanhará, a par e passo, a caminhada dos discípulos pela
história.
Na
segunda parte, Mateus descreve o envio dos discípulos em missão pelo mundo. A
Igreja de Jesus é, essencialmente, uma comunidade missionária, cuja missão é
testemunhar no mundo a proposta de salvação e de libertação que Jesus veio
trazer aos homens e que deixou nas mãos e no coração dos discípulos. A primeira
nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da universalidade… A
missão dos discípulos destina-se a “todas as nações”. A segunda nota dá conta
das duas fases da iniciação cristã, conhecidas da comunidade de Mateus, o ensino
e o batismo. Começava-se pela catequese, cujo conteúdo eram as palavras e os
gestos de Jesus, o discípulo começava sempre pelo catecumenato, que lhe dava as
bases da proposta de Jesus. Quando os discípulos estavam informados da proposta
de Jesus, vinha o batismo, que selava a íntima vinculação do discípulo com o Pai,
o Filho e o Espírito Santo, que era a adesão à proposta anteriormente feita. A
última nota, Jesus estará sempre com os discípulos, “até ao fim dos tempos”.
Esta afirmação expressa a convicção, de todos que creem possuíam, de que Jesus ressuscitado
estará sempre com a sua Igreja, acompanhando a comunidade dos discípulos na sua
marcha pela história, ajudando-a a superar as crises e as dificuldades da
caminhada.
Jesus
foi ao encontro do Pai, depois de uma vida a serviço do “Reino”; deixou aos
seus discípulos a missão de anunciar o “Reino” e de torná-lo uma proposta capaz
de renovar e de transformar o mundo. Assim, celebrar a ascensão de Jesus
significa, antes de mais, tomar consciência da missão que foi confiada aos
discípulos e sentir-se responsável pela presença do “Reino” na vida dos homens.
A
missão que Jesus confiou aos discípulos é uma missão universal, as fronteiras,
as raças, a diversidade de culturas, não podem ser obstáculos para a presença
da proposta libertadora de Jesus no mundo. É relativamente frequente ouvirmos dizer que
os seguidores de Jesus gostam mais de olhar para o céu do que comprometerem-se
na transformação da terra. Contudo, tornar-se discípulo é, em primeiro lugar,
aprender os ensinamentos de Jesus, a partir das suas palavras, dos seus gestos,
da sua vida oferecida por amor; os discípulos, formados na escola de Jesus,
são convidados a ler os desafios que hoje o mundo coloca, à luz dos
ensinamentos de Jesus. No dia em que fui batizado, comprometi-me com Jesus e
vinculei-me com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
O
sentido fundamental da ascensão não é que fiquemos a admirar a elevação de
Jesus; mas é convidar-nos a seguir o “caminho” de Jesus, olhando para o futuro
e entregando-nos à realização do seu projeto de salvação no meio do mundo. A
ressurreição/ascensão de Jesus garante-nos, antes de mais, que uma vida, vivida
na fidelidade aos projetos do Pai, é uma vida destinada à glorificação, à
comunhão definitiva com Deus. Quem percorre o mesmo “caminho” de Jesus subirá,
como Ele, à vida plena. A ascensão de Jesus recorda-nos, sobretudo, que Ele foi
elevado para junto do Pai e nos encarregou de continuar a tornar realidade o
seu projeto libertador no meio dos nossos irmãos e irmãs. Convém, recordar as
palavras de Jesus: “Eu estarei convosco até ao fim dos tempos”. Esta certeza
deve alimentar a coragem com que testemunhamos aquilo em que acreditamos... a
ascensão de Jesus, acenda o nosso testemunho. Assim seja! Amém.
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