Irmãos
e irmãs,
Este
Santo Domingo convida-nos a descobrir a presença discreta, mas eficaz e
tranquilizadora, de Deus na caminhada histórica da Igreja e, das comunidades e das pessoas que buscam estar em comunhão com o Pai.
A
primeira leitura mostra exatamente a comunidade cristã a dar testemunho da Boa
Nova de Jesus e a ser uma presença libertadora e salvadora na vida dos homens.
Avisa, no entanto, que o Espírito só se manifestará e só atuará quando a
comunidade aceitar viver a sua fé integrada numa família universal de irmãos,
reunidos à volta do Pai e de Jesus.
Uma
comunidade cristã é uma comunidade onde se manifesta a comunhão com Jesus e a
comunhão com todos os outros irmãos que partilham a mesma fé. É na comunhão com
os irmãos, é na aceitação da Palavra e no amor partilhado, é na consciência de
que fazemos parte de uma imensa família que caminha animada pela mesma fé, que
se manifesta a vida do Espírito. Cada pessoa e cada comunidade precisa de
desenvolver a consciência de que não é um caso isolado, independente, autônomo
e sem ligações, mas uma parcela de uma Igreja Universal; afirmações como “eu
tenho a minha fé” não fazem sentido, se traduzem a vontade de percorrer um
caminho à margem da comunidade, sem aceitar confrontar-se com os irmãos e irmãs…
Então, somos chamados a viver na comunhão, na partilha, na solidariedade com
todos irmãos que, em qualquer canto do mundo, partilham a mesma fé.
A
segunda leitura exorta aos que creem, confrontados com a hostilidade do mundo, a
terem confiança, a darem um testemunho sereno da sua fé, a mostrarem o seu amor
a todos os homens, mesmo aos perseguidores. Cristo, que fez da sua vida um dom
de amor a todos, deve ser o modelo que os cristãos têm sempre diante dos olhos.
Assim,
os cristãos devem, antes de mais, reconhecer nos seus corações a “santidade” de
Cristo, que é “o Senhor”. Desse reconhecimento da santidade e da soberania
absoluta de Cristo, brota a confiança e a esperança; e, dessa forma, nada
temerão e poderão enfrentar a injustiça e a perseguição. Os cristãos devem,
também, estar sempre dispostos a apresentar as razões da sua fé e da sua esperança,
isto é, a dar testemunho daquilo em que acreditam. No entanto, devem fazê-lo
sem agressividade, com delicadeza, com modéstia, com respeito, com boa
consciência, mostrando o seu amor por todos, mesmo pelos seus perseguidores.
Dessa forma, os perseguidores ficarão desarmados e sem argumentos; e todos
perceberão mais facilmente de que lado está a verdade e a justiça. Os cristãos
devem, ainda, em qualquer circunstância, mesmo diante do ódio e da hostilidade
dos perseguidores, preferir fazer o bem do que fazer o mal.
O
Evangelho apresenta-nos parte do “testamento” de Jesus, na ceia de despedida. Aos
discípulos, inquietos e assustados, Jesus promete o “Paráclito”, Ele conduzirá
a comunidade cristã em direção à verdade; e levá-la-á a uma comunhão cada vez
mais íntima com Jesus e com o Pai. Dessa forma, a comunidade será a “morada de
Deus” no mundo e dará testemunho da salvação que Deus quer oferecer aos homens.
Continuamos no mesmo contexto em que nos colocava o Evangelho do passado
domingo. A decisão de matar Jesus já está tomada pelas autoridades judaicas e
Jesus sabe-o. A morte na cruz é mais do que uma possibilidade, é o cenário
imediato.
Assim,
nessa noite, na véspera da sua morte na cruz, Jesus reuniu-Se com os seus
discípulos numa “ceia”. No decurso da “ceia”, Jesus despediu-Se dos discípulos
e fez-lhes as últimas recomendações. As palavras de Jesus soam a “testamento
final”: Ele sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos vão continuar no
mundo. Jesus fala-lhes, então, do caminho que percorreu e que ainda tem de
percorrer, até à consumação da sua missão e até chegar ao Pai; e convida os
discípulos a seguir o mesmo caminho de entrega a Deus e de amor radical aos
irmãos. É seguindo esse “caminho” que eles se tornarão Homens Novos e que
chegarão a ser “família de Deus”.
Os
discípulos, no entanto, estão inquietos e desconcertados. Será possível
percorrer esse “caminho” se Jesus não caminhar ao lado deles? Como é que eles
manterão a comunhão com Jesus e como receberão d’Ele a força para doar, dia a
dia, a própria vida?
Jesus
garante aos discípulos que não os deixará sós no mundo. Ele vai para o Pai; mas
vai encontrar forma de continuar presente e de acompanhar, a caminhada dos seus
discípulos. Contudo, é preciso, que os discípulos continuem a seguir Jesus, a
manifestar a sua adesão a Ele, a amá-l’O, o amor será o culminar dessa
caminhada de adesão e de seguimento. A consequência desse amor é o cumprir os
mandamentos que Jesus deixou. Nesse caso, os mandamentos deixam de ser normas
externas que é preciso cumprir, para se tornarem a expressão clara do amor dos
discípulos e da sua sintonia com Jesus.
Jesus
fala no envio do “Paráclito”, que estará sempre com os discípulos, como
“consolador” e “intercessor”. O “Paráclito” que Jesus vai enviar é o Espírito
Santo, apresentado aqui como o “Espírito da Verdade”. Enquanto esteve com os
discípulos, Jesus ensinou-os, protegeu-os, defendeu-os; mas, a partir de agora,
será o Espírito que ensinará e cuidará da comunidade de Jesus. O Espírito
desempenhará, neste contexto, um duplo papel: em termos internos, conservará a
memória da pessoa e dos ensinamentos de Jesus, ajudando os discípulos a
interpretar esses ensinamentos à luz dos novos desafios; por outro, dará segurança
aos discípulos, guiá-los-á e defendê-los-á quando eles tiverem de enfrentar a
oposição e a hostilidade do mundo. Em qualquer dos casos, o Espírito conduzirá
essa comunidade em marcha pela história, ao encontro da verdade, da liberdade
plena, da vida definitiva.
Depois
de garantir aos discípulos o envio do “Paráclito”, Jesus reafirma aos
discípulos que não os deixará “órfãos” no mundo. Jesus é claro, os seus
discípulos não vão ficar indefesos, pois Ele vai estar ao lado deles. É verdade
que Ele vai deixar o mundo, vai para o Pai. O “mundo” deixará de vê-l’O, pois,
Ele não estará fisicamente presente. No entanto, os discípulos poderão
“vê-l’O”, “contemplá-l’O”; eles continuarão em comunhão de vida com Jesus e
receberão o Espírito que lhes transmitirá, dia a dia, a vida de Jesus
ressuscitado.
Nesse
dia, o dia em que Jesus for para o Pai e os discípulos receberem o Espírito, a
comunidade descobrirá, por ação do Espírito, que faz parte da família de Deus.
Jesus identifica-Se com o Pai, por ter o mesmo Espírito; os discípulos identificam-se
com Jesus, por ação do Espírito. A comunidade cristã está unida com o Pai,
através de Jesus, numa experiência de unidade e de comunhão de vida entre Deus
e a humanidade. Nesse dia, a comunidade será a presença de Deus no mundo, ela e
cada membro dela convertem-se em morada de Deus, o espaço onde Deus vem ao
encontro das pessoas.
A
paixão de Jesus continua a acontecer, todos os dias, na vida de cada um de nós
e na vida de tantos irmãos nossos. Sentimo-nos impotentes face à guerra e ao
terrorismo; não conseguimos prever e evitar as catástrofes naturais; sofremos
por causa da injustiça e da opressão; vemos o mundo construir-se de acordo com
critérios de egoísmo e de materialismo; não podemos evitar a doença e a morte…
Acreditamos no “Reino de Deus”, mas ele parece nunca mais chegar, e caminhamos,
desanimados e frustrados, para um futuro que não sabemos aonde conduzirá a
humanidade. No entanto, nós que cremos temos razões para ter esperança, Jesus
garantiu-nos que não nos deixaria órfãos e que estaria sempre a nosso lado.
O
“caminho” que Jesus propõe aos seus discípulos, o “caminho” do amor, do
serviço, do dom da vida, parece, à luz dos critérios com que a maior parte das
pessoas do nosso tempo avaliam estas coisas, um caminho de fracasso, que não
conduz nem à riqueza, nem ao poder, nem ao êxito social, nem ao bem estar
material; afinal, tudo o que parece dar verdadeiro sabor à vida do nosso tempo.
Contudo, Jesus garantiu-nos que é no caminho do amor e da entrega que
encontraríamos a vida nova e definitiva. Portanto, é na comunidade de irmãos e irmãs e através dela, que realiza-se a ação salvadora de Deus no mundo.
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