Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo convida-nos a refletir sobre a
Igreja, a comunidade que nasce de Jesus e cujos membros continuam o “caminho”
de Jesus, dando testemunho do projeto de Deus no mundo, na entrega a Deus e no
amor aos irmãos e irmãs.
A primeira leitura apresenta-nos alguns traços que
caracterizam a Igreja, “família de Deus”, é uma comunidade santa, embora
formada por pecadores; estruturada hierarquicamente, mas onde o serviço da
autoridade é exercido no diálogo com os irmãos; é uma comunidade de servidores,
que recebem dons de Deus e que põem esses dons ao serviço dos irmãos; animada
pelo Espírito, que vive do Espírito e que recebe do Espírito a força de ser
testemunha de Jesus na história.
A Igreja não é uma comunidade de homens e mulheres
perfeitos; mas é uma comunidade que está ou tem de estar, em contínuo processo
de conversão, ao longo de cada passo da sua caminhada na história. Assim, é preciso redescobrir o valor do
diálogo e da participação, na Igreja; trata-se de potenciar mecanismos de
escuta, de diálogo e de participação, a fim de que a Igreja seja uma família,
onde todos participam na descoberta dos caminhos do Espírito.
A comunidade cristã é uma realidade que tem no centro
da sua dinâmica o serviço, seja o serviço da Palavra ou o serviço de
assistência aos irmãos mais pobres. É impensável uma comunidade cristã onde não
esteja bem viva estas dimensões. Desta forma, os membros da comunidade cristã
são convidados a seguir Jesus, que fez da sua vida uma entrega total ao serviço
de Deus, ao serviço do Reino e ao serviço dos irmãos e irmãs.
A segunda leitura também se refere à Igreja,
chama-lhe “templo espiritual”, do qual Cristo é a “pedra angular” e os cristãos
“pedras vivas”. Essa Igreja é formada por um “povo sacerdotal”, cuja missão é
oferecer a Deus o verdadeiro culto, uma vida vivida na obediência aos planos do
Pai e no amor incondicional aos irmãos e irmãs.
Os cristãos são convidados a aproximar-se de
Cristo, isto é, a aderir à sua proposta, a segui-l’O no caminho do dom da vida,
em comunhão com Ele e a entrar na construção do edifício de Cristo, um edifício
espiritual, cujo fim é “oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus”, que
vive em união com Jesus Cristo, que comunga do seu destino, que assume
totalmente o seu projeto; cuja missão é
viver uma vida coerente com os compromissos assumidos no dia do Batismo, viver
como Cristo, na entrega a Deus e no amor pleno ao próximo.
O Evangelho define a Igreja, como uma comunidade
dos discípulos que seguem o “caminho” de Jesus, “caminho” de obediência ao Pai
e de dom da vida aos irmãos. Os que acolhem esta proposta e aceitam viver nesta
dinâmica tornam-se Pessoas Novas, que possuem a vida em plenitude e que
integram a família de Deus, a família do Pai, do Filho e do Espírito.
O diálogo de Jesus com os discípulos no Evangelho,
trata-se de uma catequese sobre “o caminho”, o “caminho” que Jesus percorreu e
que é o mesmo “caminho” que os discípulos são convidados a percorrer. Assim, o plano de salvação de Deus passa por
estabelecer uma relação de comunhão, de familiaridade, de amor. Por isso, Jesus
veio ao mundo, para tornar-nos “filhos de Deus”. Para isso, Ele “montou a sua
tenda no meio dos homens” e ofereceu-nos um “caminho” de vida em plenitude,
mostrou-nos, na sua própria pessoa, como é que podemos ser Pessoas Novas, isto
é, que vivem na obediência total aos planos do Pai e no amor aos irmãos e
irmãos. Viver desse jeito é viver numa dinâmica divina, entrar na intimidade do
Pai, tornar-se “filho de Deus”.
No nosso texto, Jesus sente que está a começar o
último ato da missão que o Pai lhe confiou, criar o “Homem Novo”. Falta
oferecer aos discípulos a última lição, a lição do amor que se dá até à morte;
falta também o dom do Espírito, que capacitará as pessoas para viverem como
Jesus, na obediência a Deus e na entrega. Para que esse último ato se cumpra,
Jesus tem de passar pela morte, tem de “ir para o Pai”. Ao dizer “vou preparar-vos
um lugar”, Jesus sugere que tem de ir ao encontro do Pai, para que possamos, pela
lição do amor e pelo dom do Espírito, fazer parte da família de Deus. Nessa
família, há lugar para todos, “na casa de meu Pai há muitas moradas”, basta que
sigam “o caminho” de Jesus, escutem as suas propostas e que aceitem viver como Pessoas
Novas, no amor e no dom da vida. A “casa do Pai” é a comunidade dos seguidores
de Jesus, a Igreja.
Qual é o “caminho” para chegar a fazer parte dessa
família de Deus? – perguntam os discípulos; eles foram testemunhas da vida que
Jesus levou e, portanto, conhecem de cor o “mapa” desse “caminho”; mas
continuam a recusar-se, acreditar que o dom da vida seja um caminho obrigatório
para fazer parte da família de Deus. A resposta é simples… O “caminho” é Jesus,
é a sua vida, os seus gestos de amor e de bondade, a sua morte, dom da vida por
amor, que mostram a todos, o itinerário que devem percorrer. Ao aceitarem
percorrer esse “caminho” de identificação com Jesus, estão a ir ao encontro da
verdade e da vida em plenitude. Quem aceita percorrer esse “caminho” de amor,
de entrega, de dom da vida, chega até ao Pai e torna-se, como Jesus, “filho de
Deus”.
Então, ao identificarem-se com Jesus, os discípulos
estabelecem uma relação íntima e familiar com o Pai, porque o Pai e Jesus são um
só. O Pai está presente em Jesus. Quem adere a Jesus e estabelece com Ele laços
de amor, já faz parte da família do Pai, porque Jesus é o Deus que veio ao
encontro da humanidade, as obras de Jesus são as obras do Pai; o seu amor é o
amor do Pai; a vida que Ele oferece é a vida que o Pai dá a homens e mulheres.
Portanto, os discípulo de Jesus têm de percorrer um
“caminho”, até chegarem a ser família de Deus. Esse “caminho” foi traçado por
Jesus, na obediência a Deus e no amor. É no final desse “caminho” que os
discípulos, tornados “Homens Novos”, encontrarão o Pai e serão integrados na
família de Deus.
No entanto, Jesus não é somente o modelo do
“caminho”; ao mesmo tempo, Ele é a Verdade e Vida; E oferece como dom a força,
a energia, o Espírito, para que possamos percorrer “o caminho”. É o Espírito do
Senhor ressuscitado que renova e transforma, no sentido de, a cada dia, a
tornar-se “Homem Novo”, que vive na obediência a Deus e no amor aos irmãos.
Desta dinâmica, nasce a comunidade de Pessoas Novas, a família de Deus, a
Igreja.
Desta forma, falar do “caminho” de Jesus é falar de
uma vida dada a Deus e em favor dos irmãos, numa doação total e radical, até à
morte. Os discípulos são convidados a percorrer, com Jesus, esse mesmo
“caminho”; a comunhão com Jesus e com o Pai estabelecem-se percorrendo o
caminho do amor e da entrega, em doação total a Deus. Quem quiser encontrar-se
com Jesus e com o Pai, tem de sair do egoísmo e a fazer da sua vida um dom de
amor a Deus e aos irmãos e irmãs. Dar um passo… “a fé começa pelos pés!”. De fato,
a fé é uma resposta e uma caminhada. Somos todos convidados a dar um passo,
para o Senhor e para os nossos irmãos. Sejamos cristãos a caminho do Pai. Assim seja!
Amém.
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