domingo, 11 de maio de 2014

Escutar a voz do Bom Pastor


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo, o quarto Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe hoje à nossa reflexão.

A primeira leitura mostra-nos de forma bastante completa, o percurso que Cristo, “o Pastor”, desafia-nos a percorrer, é preciso converter-se, isto é, deixar os esquemas de escravidão, ser batizado, aderir a Jesus e segui-l’O e receber o Espírito Santo, acolher no coração a vida de Deus e deixar-se recriar, vivificar e transformar por ela.
A adesão a Jesus traduz-se num gesto: o “receber o batismo”. “Pedir o batismo” é reconhecer que Jesus tem uma proposta de salvação e vida nova, optar por essa vida nova que Jesus propõe e incorporar-se à comunidade dos que seguem Jesus. Assim, receber o batismo significa receber o Espírito Santo; ao optar por Cristo, aquele que crê acolhe no seu coração a vida de Deus e a sua existência passa a ser animada por um dinamismo divino que, continuamente, implica o acolher Jesus como o salvador e segui-l’O, no caminho do amor, da entrega, do dom da vida.

A segunda leitura apresenta-nos Cristo como “o Pastor” que guarda e conduz as suas ovelhas. No contexto concreto em que a leitura nos coloca, seguir “o Pastor” é responder à injustiça com o amor, ao mal com o bem.
No centro da leitura que aqui nos é proposta está o exemplo de Cristo: Ele sofreu sem ter feito mal nenhum; maltratado pelos inimigos, não respondeu com agressão e vingança; pelo dom da sua vida, eliminou o pecado que afastava os homens de Deus e uns dos outros; por isso, Ele é o Pastor que conduz e guarda os que creem. Do exemplo de Cristo, o autor da carta tira as consequências para a vida dos cristãos, como Cristo, somos chamados a responder às ofensas e injustiças com bondade e mansidão. Isto é “uma graça aos olhos de Deus”, quer dizer, é uma atitude agradável a Deus e é uma atitude que resulta da graça de Deus. É nessa atitude de bondade e de mansidão que se manifesta a graça de Deus.

O Evangelho apresenta Cristo como “o Bom Pastor”, cuja missão é libertar o rebanho de Deus do domínio da escravidão e levá-lo ao encontro das pastagens verdejantes onde há vida em plenitude, ao contrário dos falsos pastores, cujo objetivo é só aproveitar-se do rebanho em benefício próprio. Jesus vai cumprir com amor essa missão, no respeito absoluto pela identidade, individualidade e liberdade das ovelhas. Então, a catequese que o Evangelho nos oferece sobre o “Bom Pastor” sugere que a promessa de Deus, veiculada por Ezequiel, se cumpre em Jesus. E o texto do Evangelho, que hoje nos é proposto, está dividido em duas partes, ou em duas parábolas.
Na primeira parábola, Jesus apresenta-se preferencialmente como “o Pastor”, cuja ação se contrapõe a esses dirigentes judeus que se arrogam o direito de pastorear o “rebanho” do Povo de Deus, mas sem serem “pastores”. Jesus não usa meias palavras, os dirigentes judeus são ladrões e bandidos, que se servem das suas prerrogativas para explorar o Povo e usam a violência para o manter sob a sua escravidão. Aproximam-se do Povo de Deus de forma abusiva e ilegítima, porque Deus não lhes confiou essa missão, “não entram pela porta”, foram eles que a usurparam. O seu objetivo não é o bem das “ovelhas”, mas o seu próprio interesse.
Ao contrário, Jesus é “o Pastor” que entra pela porta, ele tem um mandato de Deus e a sua missão foi-Lhe confiada pelo Pai. Em Ezequiel, o papel do “pastor” correspondia, em primeiro lugar, a Deus e ao futuro enviado de Deus, o “Messias” descendente de David. Ao apresentar-se como Aquele “que entra pela porta”, com autoridade legítima, Jesus declara-Se, implicitamente, o “Messias” enviado por Deus para conduzir o seu Povo e para o guiar para as pastagens onde há vida em plenitude. Ele entra no redil das “ovelhas” para cuidar delas, não para as explorar. A sua missão é libertá-las das trevas em que os dirigentes as trazem e conduzi-las ao encontro da luz libertadora.
Como é que Jesus exercerá a sua missão de “pastor”? Em primeiro lugar, irá chamar as “ovelhas”. “Chama-as pelo seu nome”, porque conhece cada uma e com cada uma quer ter uma relação pessoal de amor, de proximidade, de comunhão: para Jesus, não há “massas”, mas pessoas concretas, com a sua identidade própria, com a sua riqueza, com a sua dignidade. Não obrigará ninguém a responder-Lhe; mas os que responderem ao seu chamamento farão parte do seu “rebanho”. A esses, Jesus conduzi-los-á “para fora”, Jesus não veio instalar-Se na antiga instituição judaica, geradora de opressão e de escravidão; mas veio criar uma comunidade humana nova, a comunidade do novo Povo de Deus. Depois, o “pastor” caminhará “diante das ovelhas” e estas segui-l’O-ão. Ele indica-lhes o caminho, pois Ele próprio é “o caminho” que leva à vida plena. As “ovelhas” seguem-n’O, “seguir” traduz a atitude do discípulo, convidado a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida, a fazer d’Ele a sua referência fundamental, a aderir a Ele de todo o coração. As “ovelhas” “escutam a sua voz”, porque sabem que só a voz de Jesus as conduz, com segurança, ao encontro da vida definitiva.
Na segunda parábola, Jesus apresenta-Se como “a porta”. Aqui, Ele já não é o pastor legítimo que passa pela porta, mas “a porta”. A imagem da porta pode aplicar-se aos líderes que pretendem ter acesso ao “rebanho”, ou pode aplicar-se às próprias “ovelhas”. No que diz respeito aos líderes, significa que ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver um mandato de Jesus, se não tiver sido convidado por Jesus; e significa também que ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver os mesmos sentimentos, a mesma atitude de Jesus, que não é a de explorar as “ovelhas”, mas a de dar-lhes vida.
No que diz respeito às “ovelhas”, significa que Jesus é o único lugar de acesso para que as “ovelhas” possam encontrar as pastagens que dão vida. “Passar pela porta” que é Jesus significa aderir a Ele, segui-l’O, acolher as suas propostas. As “ovelhas” que passam pela porta que é Jesus, isto é, que aderem a Ele, podem passar para a terra da liberdade, onde não mandam os dirigentes que exploram e roubam, onde encontrarão “pastos”, vida em plenitude.
O nosso texto termina com a reafirmação do contraste entre Jesus e os dirigentes, os líderes religiosos judaicos utilizam o “rebanho” para satisfazer os seus próprios interesses egoístas, despojam e exploram o povo; mas Jesus só procura que o seu “rebanho” encontre vida em plenitude. Assim, ao propor-nos a figura bíblica do “Bom Pastor”, o Evangelho convida-nos a refletir sobre o serviço da autoridade… Propõe como modelo ou de “Pastor” uma figura que oferece a vida, que serve, que respeita a liberdade das pessoas, que se dedica totalmente, que ama gratuitamente.
Para os cristãos, “o Pastor” por excelência é Cristo, Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o “rebanho” de Deus das trevas para a luz, da escravidão para a liberdade, da morte para a vida. Para que distingamos a “voz” de Jesus de outros apelos, de propostas enganadoras, de “cantos de sereia” que não conduzem à vida plena, é preciso um permanente diálogo íntimo com “o Pastor”, um confronto permanente com a sua Palavra e a participação ativa nos sacramentos onde se nos comunica essa vida que “o Pastor” nos oferece. As “ovelhas” do rebanho de Jesus têm de “escutar a voz” do “Pastor” e segui-l’O.  Isso significa, concretamente, tornar-se discípulo, aderir a Jesus, percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu, na entrega total aos projetos de Deus e na doação total aos irmãos.

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