domingo, 10 de novembro de 2013

Deus dos Vivos


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo propõe-nos uma reflexão sobre os horizontes últimos do homem e garante-nos a vida que não acaba para aqueles que vivem dignamente e ressuscitarem em Cristo.

Na primeira leitura, temos o testemunho de sete irmãos que deram a vida pela sua fé, durante a perseguição movida contra os judeus. Aquilo que motivou os sete irmãos mártires, que lhes deu força para enfrentar a tortura e a morte foi, precisamente, a certeza de que Deus reserva a vida eterna àqueles que, neste mundo, percorrem, com fidelidade, os seus caminhos.
O que é que “faz correr” estes jovens? O que é que lhes dá a coragem para enfrentar as exigências dos seus algozes? És a fé na ressurreição ou, literalmente, na revivificação eterna de vida que os motiva. Os sete irmãos tiveram a coragem de defender a sua fé até à morte, porque acreditavam que Deus lhes devolveria outra vez a vida, uma vida semelhante àquela que lhes ia ser tirada. O Deus criador tem o poder de ressuscitar os mártires para a vida eterna…

Na segunda leitura temos um convite a manter o diálogo e a comunhão com Deus, enquanto esperamos que chegue a segunda vinda de Cristo e a vida nova que Deus nos reserva. Só com a oração será possível mantermos fiéis ao Evangelho e ter a coragem de anunciar a todos os homens a Boa Nova da salvação. Assim, a oração de uns pelos outros é uma forma preciosa de solidariedade cristã.
Mais uma vez fica claro que, no processo de salvação, há dois planos: o dom de Deus e o esforço de fidelidade da pessoa. É preciso, no entanto, deixar claro que, sem a graça de Deus, o nosso esforço seria inútil. E os cristãos que já receberam a Palavra transformadora e libertadora de Jesus devem solicitar a ajuda divina para que a proposta de salvação que Cristo veio trazer, e que a Igreja ficou encarregada de testemunhar, chegue a toda as pessoas.

No Evangelho, Jesus garante que a ressurreição é a realidade que nos espera. No entanto, não vale a pena estar a julgar e a imaginar essa realidade à luz das categorias que marcam a nossa existência finita e limitada neste mundo; a nossa existência de ressuscitados será uma existência plena, total, nova. A forma como isso acontecerá é um mistério; mas a ressurreição é uma certeza absoluta no horizonte do cristão.
A questão principal do Evangelho gira em torno da ressurreição, um tema que não significava nada para os saduceus. Percebendo que, quanto a essa questão, a perspectiva de Jesus estava próxima da dos fariseus, os saduceus apresentaram uma hipótese com o objetivo de ridicularizar a crença na ressurreição: uma mulher casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei - segundo a qual, o irmão de um defunto que morreu sem filhos devia casar com a viúva, a fim de dar descendência ao falecido e impedir que os bens da família fossem parar a mãos estranhas. Quando ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?
A primeira parte da resposta de Jesus afirma que a ressurreição não é como pensavam os fariseus do tempo, uma simples continuação da vida que vivemos neste mundo - na linha de uma revivificação – ideia apresentada na primeira leitura, mas uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude que dificilmente podemos entender a partir das nossas realidades cotidianas. A questão do casamento não se porá, então, a expressão “são semelhantes aos anjos”; não é uma expressão de depreciação do matrimônio, mas a afirmação de que, nessa vida nova, a única preocupação será servir e louvar a Deus. O poder de Deus, que chama a todos, da morte à vida, transforma e assume a totalidade do ser humano, de forma que nascemos para uma vida totalmente nova e em que as nossas potencialidades serão elevadas à plenitude. A nossa capacidade de compreensão deste mistério é limitada, pois, estamos a contemplar as coisas e a classificá-las à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição que nos espera ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena.

A segunda parte da resposta de Jesus é uma afirmação da certeza da ressurreição. Como não podia apoiar-se nos textos recentes da Escritura, que sugeriam a fé na ressurreição, pois, esses textos não tinham qualquer valor para os saduceus, Jesus cita-lhes o episódio da sarça-ardente, Javé revelou-Se a Moisés como “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”… Ora, se Deus Se apresenta dessa forma – muitos anos depois de Abraão, Isaac e Jacob terem desaparecido deste mundo – isso quer dizer que os patriarcas não estão mortos - um homem “morto” – ou seja, um homem reduzido ao estado de uma sombra inconsciente e privada de vida, segundo a ideia corrente – tinha perdido a proteção de Deus, pois, já não existia como ser vivo e consciente. Na perspectiva de Jesus, portanto, os patriarcas não estão reduzidos ao estado de sombras na obscuridade absoluta, mas vivem atualmente em Deus. Portanto, se Abraão, Isaac e Jacob estão vivos, podemos falar em ressurreição. Nosso Deus é o Deus dos vivos. Desta forma, na luta pela vida, Deus tem a última palavra. Descobrir, com a comunidade, o novo rosto de Deus que se manifesta a partir das lutas do povo por liberdade e vida – eis a nossa missão, para em plenitude vivermos na casa do Pai. 

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