domingo, 17 de novembro de 2013

Tempo de esperança e testemunho


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo orienta-nos sobre o sentido da história da salvação e diz-nos que a meta final para onde Deus nos conduz é o novo céu e a nova terra da felicidade plena, da vida definitiva.

Na primeira leitura, um “mensageiro de Deus” anuncia a uma comunidade desanimada, que Javé não abandonou o seu Povo. O Deus libertador vai intervir no mundo, vai derrotar o que oprime e rouba a vida e vai fazer com que nasça esse “sol da justiça” que traz a salvação. O nosso texto refere-se ao “dia do julgamento” – isto é, ao dia em que Javé vai intervir na história, no sentido de destruir o mal, a injustiça, a opressão, o pecado e fazer triunfar o bem, a justiça, a verdade.
Diante do fogo do Senhor que purifica e renova, “serão como palha os soberbos e malfeitores” e o Senhor “não lhes deixará nem raiz nem ramos”; em contrapartida, para os que se mantêm nos caminhos da aliança e dos mandamentos, “nascerá o sol da justiça, trazendo nos seus raios a salvação”. Para os cristãos, esta profecia compreende-se à luz da intervenção libertadora de Jesus: Ele é o “sol de justiça” que brilha no mundo e que insere os homens na dinâmica de um mundo novo – a dinâmica do “Reino”.

A segunda leitura reforça a ideia de que, enquanto esperamos a vida definitiva, não temos o direito de nos instalarmos no comodismo, alheando-nos das grandes questões do mundo e evitando dar o nosso contributo na construção do Reino. O autor rejeita totalmente esta concepção e a atitude daqueles que – com a desculpa da iminência da vinda do Senhor – vivem ocupados com futilidades e não fazem nada de útil. Assim, propõe que todos ponham ao serviço dos irmãos os próprios dons e contribuam para a construção, para o equilíbrio e para a harmonia comunitárias e, por consequência para a realização do Reino.

O Evangelho oferece-nos uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a percorrer, até à segunda vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada na história é comprometer-se na transformação do mundo, de forma a que a velha realidade desapareça e nasça o Reino. Esse “caminho” será percorrido no meio de dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força de Deus.
Desta forma, Lucas nos traz três momentos da história da salvação: a destruição de Jerusalém, o tempo da missão da Igreja e a vinda do Filho do Homem, que porá fim ao “tempo da Igreja” e trará a plenitude do “Reino de Deus”.
O texto começa com o anúncio da destruição de Jerusalém. Na perspectiva profética, Jerusalém é o lugar onde deve irromper a salvação de Deus e para onde convergirão todos os povos empenhados em ter acesso a essa salvação. No entanto, Jerusalém recusou a oferta de salvação que Jesus veio trazer. A destruição da cidade e do Templo significa que Jerusalém deixou de ser o lugar exclusivo e definitivo da salvação. A Boa Nova de Jesus vai, portanto, deixar Jerusalém e partir ao encontro de todos os povos. Começa, assim, uma outra fase da história da salvação: começa o “tempo da Igreja” – o tempo em que a comunidade dos discípulos, caminhando na história, testemunhará a salvação a todos os povos da terra.
Vem, depois, uma reflexão sobre o “tempo da Igreja”, que culminará com a segunda vinda de Jesus. Como será esse tempo? Como vivê-lo?
Em primeiro lugar, Jesus sugere que, após a destruição de Jerusalém, surgirão falsos messias e visionários que anunciarão o fim. Jesus avisa: “não sigais atrás deles”; e esclarece: “não será logo o fim”. A destruição de Jerusalém pelas tropas de Tito deve ter parecido aos cristãos o prenúncio da segunda vinda de Jesus e alguns pregadores populares deviam alimentar essas ilusões… Mas Lucas está disposto em eliminar essa febre escatológica que crescia em certos sectores cristãos: em lugar de viverem obcecados com o fim, os cristãos devem preocupar-se em viver uma vida cristã cada vez mais comprometida com a transformação “deste” mundo.
Em segundo lugar, Jesus diz aos cristãos o que acontecerá nesse “tempo de espera”: paulatinamente, irá surgindo um mundo novo. Para dizer isto cita: “há de erguer-se povo contra povo e reino contra reino”; “haverá grandes terramotos e, em diversos lugares, fome e epidemias; haverá fenômenos espantosos e grandes sinais no céu”. Então, haverá a queda do mundo velho – o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração – e do surgimento de um mundo novo.
A questão é, portanto, no tempo situado entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o “Reino de Deus” ir-se-á manifestando; o mundo velho desaparecerá e nascerá um mundo novo e, os discípulos não devem esperá-lo de braços cruzados, à espera que Deus faça tudo, mas devem empenhar-se na sua construção. É claro que a libertação plena e definitiva só acontecerá com a segunda vinda de Jesus.
Em terceiro lugar, Jesus avisa aos cristãos de sobreaviso para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo fora, até à Sua segunda vinda. Jesus lembra-lhes, contudo, que não estarão sós, pois, Deus estará sempre presente; será com a força de Deus que eles enfrentarão os adversários e que resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de Deus que eles poderão, até, resistir à dor de ser atraiçoados pelos próprios familiares e amigos. Os cristãos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.
Desta forma, é na experiência de uma Igreja que caminha e luta na história para tornar realidade o “Reino” e que, nessa luta, conhece os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição e o martírio; que Deus está presente e não abandona os seus filhos, portanto, a missão da Igreja na história, dos cristãos, até à segunda vinda de Jesus é: dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Este quadro que deve ser o horizonte que os nossos olhos contemplam em cada dia da nossa caminhada neste mundo, fazendo nascer em nós a esperança; e da esperança, brota a coragem e o testemunho para enfrentar a adversidade e para lutar pelo advento do Reino. Assim seja! Amém. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Palavra em mim agradece, pois seu comentário é muito importante para a nossa caminhada dialógica.
Obrigado!