domingo, 11 de agosto de 2013

Na espera, acolhendo os Dons de Deus


Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, a Palavra de Deus propõe e convida-nos à vigilância: o verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, numa existência de comodismo e resignação, mas está sempre atento e disponível para acolher o Senhor, para escutar os seus apelos e para construir o “Reino”.

A primeira leitura apresenta-nos que só a atenção aos valores de Deus gera vida e felicidade. A comunidade israelita – confrontada com um mundo pagão e imoral, que questiona os valores sobre os quais se constrói a comunidade do Povo de Deus – deve, portanto, ser uma comunidade “vigilante”, que consegue discernir entre os valores efêmeros e os valores duradouros.
Desta forma, confrontado com a atuação de Deus em favor do seu Povo, Israel encontrou forma de responder a Javé e de Lhe manifestar o seu louvor e agradecimento. Assim, os sacrifícios, a solidariedade, o cântico de hinos a resposta do Povo à ação de Deus e, os israelitas – fiéis a Javé e à Lei, que sempre louvaram Deus e Lhe agradeceram seus dons e benefícios – viram Deus a atuar em seu favor e encontraram a liberdade e a paz.

A segunda leitura apresenta Abraão e Sara, modelos de fé para os cristãos de todas as épocas. Atentos aos apelos de Deus, empenhados em responder aos seus desafios, conseguiram descobrir os bens futuros nas limitações e na caducidade da vida presente. É essa atitude que o autor da Carta aos Hebreus recomenda-nos, de maneira geral.
Em concreto, o nosso texto apresenta-nos as figuras de Abraão e de Sara. Pela fé, Abraão acolheu o chamamento de Deus, deixou a sua casa e partiu ao encontro do desconhecido e do incômodo; pela fé, Abraão aceitou estabelecer-se numa terra estranha e aí habitar; pela fé, Sara pôde conceber e dar à luz Isaac, apesar da sua avançada idade; pela fé, Abraão não duvidou quando Deus o mandou sacrificar, no alto de um monte, o filho Isaac, o herdeiro das promessas e o continuador da descendência… Abraão não viu concretizar-se a promessa da posse da terra, nem a promessa de um povo numeroso; mas, pela fé, ele contemplou antecipadamente a realização das promessas de Deus, “saudando-as de longe”. Assim, Abraão assumiu a sua condição de peregrino e estrangeiro, ansiando constantemente pela cidade futura, e caminhando ao encontro do céu, a sua pátria definitiva. É precisamente esse exemplo que o autor da carta quer propor a esses cristãos perseguidos e desanimados: vivam na fé, esperando a concretização dos dons futuros que Deus vos reserva e caminhem pela vida como peregrinos, sem desanimar, de olhos postos na pátria definitiva.

O Evangelho apresenta uma catequese sobre a vigilância. Propõe aos discípulos de todas as épocas uma atitude de espera serena e atenta do Senhor, que vem ao nosso encontro para nos libertar e para nos inserir numa dinâmica de comunhão com Deus.
O nosso texto começa com uma referência ao “verdadeiro tesouro” que os discípulos devem procurar e que não está nos bens deste mundo: trata-se do “Reino” e dos seus valores. A questão fundamental é: como descobrir e guardar esse “tesouro”? A resposta é dada em “parábolas”, que apelam à vigilância.
Assim, somos convidados a ter os rins cingidos e as lâmpadas acesas, como pessoas que esperam o senhor que volta da sua festa de casamento. Assim, somos convidados a estarmos preparados para acolher a libertação que Jesus veio trazer e que os levará da terra da escravidão para a terra da liberdade; e são também convidados a acolherem “o noivo” – Jesus - que veio propor à “noiva” – a humanidade -  a comunhão plena com Deus.
Há uma incerteza da hora em que o Senhor virá. Haverá um dia em que Deus vai pôr ordem em tudo e entregar a quem merece o prêmio prometido. Este dia, no entanto, não tem data revelada. Não se sabe nem a data nem a hora. A imagem do ladrão que chega a qualquer hora, sem ser esperado, é uma imagem estranha para falar de Deus; mas é uma imagem sugestiva para mostrar que o discípulo fiel é aquele que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem.
Contudo, isto não impede de esperá-lo com fé em Deus e esperança no cumprimento desta promessa. Só é necessário permanecer com esta fé e esta esperança acesas. Jesus dá exemplo desta fé e esperança acesas contando a parábola do homem que foi à festa de casamento e voltou tarde da noite. Seus empregados deviam esperá-los acordados. Entretanto, nem todos estariam acordados quando o patrão voltasse.
Jesus diz, a esta altura: Felizes os empregados que o Senhor encontrar acordados quando chegar. Passando entre eles, os servirá.  Perguntemos: o que será servido pelo Senhor – representado na parábola pelo patrão que volta da festa de casamento – no momento em que encontrar quem estiver acordado? Podemos supor que o Senhor servirá o que os empregados tivessem preparado para a refeição Dele. Contudo, não é lógico. O Senhor terá voltado saciado de uma festa.  É lógico pensar que o Senhor servirá seus empregados com o que Ele tiver trazido consigo da festa de onde voltou. Será bem melhor do que aquilo que seus empregados prepararam. Será, em primeiro lugar, uma recompensa aos empregados que permaneceram fiéis à espera do Senhor. Será um alimento que somente Ele pode trazer, mesmo que não fique claro na parábola. Entretanto, clara é a certeza de sua volta, claro é o dever dos empregados de esperá-Lo acordados, não dormindo. O suspense se desfaz quando sabemos que Jesus ensina aos seus discípulos sobre o Dia de Sua vinda gloriosa no fim dos tempos. Este dia será o da festa do Salvador com os que Ele salvou. Mais do que tudo, o que vai ser dado aos que se mantiverem acordados será a Vida Eterna, a participação na Vida do próprio Jesus Ressuscitado.
A longa espera do Senhor poderia ter como efeito, no coração do discípulo, a lassidão. E, com ela, o risco de agir em total desconformidade com o projeto do Reino. Daí a importância da exortação de Jesus. A maneira conveniente de esperar o Senhor consiste em desapegar-se dos bens deste mundo, buscando apenas o tesouro inesgotável no céu, que está a salvo da ação dos ladrões e das traças. A maneira prática de desfazer-se das coisas desnecessárias, às quais o coração se apega, resume-se em vendê-las e dá-las aos pobres.

O Evangelho alerta para o risco da posse avarenta de bens. Agindo assim, o discípulo desloca o centro de seus interesses do Reino para os bens materiais. E, com isso, torna-se despreparado para o encontro com o Senhor. Seu coração não estará no Reino, e sim nos bens acumulados. É atitude insensata de quem desconhece a hora em que virá o Senhor. O discípulo que permanece de prontidão predispõe-se para encontrar o Senhor, qualquer que seja a hora em que ele chegue. Quem age assim, é chamado de "bem-aventurado", pois, experimentará a alegria de ser acolhido pelo Senhor que vem. Por conseguinte, nada de se deixar seduzir pelas riquezas, a ponto de se esquecer desse encontro com ele, estejamos acordados para o momento em que Jesus vier no fim dos tempos, para nos entregar os tesouros reunidos no céu, mais a Vida Eterna. Assim, o verdadeiro discípulo é aquele que está sempre preparado para acolher os dons de Deus, para responder aos seus apelos e para se empenhar na construção do “Reino”. Assim seja! Amém.

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