domingo, 4 de agosto de 2013

Rico para Deus


Irmãos e irmãs,
A liturgia deste domingo questiona-nos acerca da atitude que assumimos face aos bens deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida; e convida-nos a descobrir e a amar esses outros bens que dão verdadeiro sentido à nossa existência e que nos garantem a vida em plenitude.

Na primeira leitura, temos uma reflexão sobre o sem sentido de uma vida voltada para o acumular bens, constituindo um patamar para partirmos à descoberta de Deus e dos seus valores e para encontramos o sentido último da nossa existência. Em concreto, o texto proclama a inutilidade de qualquer esforço humano, pois, os esforços desenvolvidos pelo homem ao longo da sua vida não servem para nada. Que adianta trabalhar, esforçar-se, preocupar-se em construir algo se teremos, no final, de deixar tudo a outro que nada fez? Resume-me a sua frustração e o seu desencanto nesse refrão: “tudo é vaidade”.
A grande lição que nos deixa é a demonstração da incapacidade que temos, por si só, encontrar uma saída, um sentido para a sua vida. Constatando que em si próprio e apenas por si próprio não conseguimos encontrar o sentido da vida, a reflexão deste livro força-nos a olhar para o mais além. Para onde? Iluminados pela fé, já podemos concluir: para Deus. Só em Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da vida e preencher a nossa existência.

A segunda leitura convida-nos à identificação com Cristo: isso significa deixarmos os “deuses” que nos escravizam e renascermos continuamente, até que em nós se manifeste o Um Novo Ser, que é “imagem de Deus”. Paulo apresenta, como ponto de partida e chegada, como base sólida da vida cristã, a união com Cristo ressuscitado. Os cristãos, pelo batismo, identificaram-se com Cristo ressuscitado; dessa forma, morreram para o pecado e renasceram para uma vida nova. Essa vida deve crescer progressivamente, mas manifestar-se-á em plenitude, quando Cristo “aparecer”.
Paulo descreve ainda as exigências práticas dessa identificação com Cristo ressuscitado. O cristão deve fazer morrer em si a imoralidade, a impureza, as paixões, os maus desejos, numa palavra, todos esses falsos deuses que enchem a vida do velho ser; e, por outro lado, deve revestir-se do Homem/Mulher Novo (a) – ou seja, deve renovar-se continuamente até que nele se manifeste a “imagem de Deus” - “sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai do céu”. Quando isso acontecer, desaparecerão as velhas diferenças de povo, de raça, de religião e todos serão iguais, isto é, “imagem de Deus”. Foi isso que Cristo veio fazer: criar uma comunidade de novos homens e novas mulheres, que sejam no mundo a “imagem de Deus”. A identificação com Cristo ressuscitado – que resulta do Batismo – é, portanto, um renascimento contínuo que deve levar-nos a parecer-nos cada vez mais com Deus.

No Evangelho, através da “parábola do rico insensato”, Jesus denuncia a falência de uma vida voltada apenas para os bens materiais: o homem que assim procede é um “louco”, que esqueceu aquilo que, verdadeiramente, dá sentido à existência.
Jesus recusa-Se, delicadamente, a envolver-Se em questões de direito familiar e a tomar posição por um irmão contra outro - “amigo, quem me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?”. O que estava em causa na questão era a cobiça, a luta pelos bens, o apego excessivo ao dinheiro. A conclusão que Jesus explica porque é que Ele não aceita meter-Se na questão: o dinheiro não é a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens, o desejo insaciável de ter, é idolatria: não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas do homem, não conduz a um autêntico amadurecimento da pessoa. A lógica do “Reino” não é a lógica de quem vive para os bens materiais; quem quiser viver na dinâmica do Reino deverá ter isto presente.
A parábola que Jesus vai apresentar na sequência ilustra a atitude do homem voltado para os bens perecíveis, mas que se esquece do essencial – aquilo que dá a vida em plenitude. Apresenta-nos um homem previdente, responsável, trabalhador, que até podíamos admirar e louvar; mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive apenas para os bens que lhe asseguram tranquilidade e bem-estar material e nisso, já não o podemos louvar e admirar. Esse homem representa, aqui, todos aqueles cuja vida é apenas um acumular sempre mais, esquecendo tudo o resto – inclusive Deus, a família e os outros; representa todos aqueles que vivem uma relação de “circuito fechado” com os bens materiais, que fizeram deles o seu deus pessoal e que esqueceram que não é onde está o sentido mais fundamental da existência.
A referência à ação de Deus, que põe repentinamente um ponto final nesta existência egoísta e sem significado, serve, apenas, para mostrar que uma vida vivida desse jeito não tem sentido e que quem vive para acumular mais e mais bens é, aos olhos de Deus, um “insensato”.
O que é que Jesus pretende, ao contar esta história? Convidar os seus discípulos a despojar-se de todos os bens? Ensinar aos seus seguidores que não devem preocupar-se com o futuro? Propor aos que aderem ao Reino uma existência de miséria, sem o necessário para uma vida minimamente digna e humana? Não.
O que Jesus pretende é dizer-nos que não podemos viver na escravatura do dinheiro e dos bens materiais, como se eles fossem a coisa mais importante da nossa vida. Desta forma, esta parábola não se destina apenas àqueles que têm muitos bens; mas destina-se a todos aqueles que tendo muito ou pouco vivem obcecados com os bens, orientam a sua vida no sentido do “ter” e fazem dos bens materiais os deuses que condicionam a sua vida e o seu agir.
Portanto, a preocupação excessiva com os bens, a busca obsessiva dos bens, constitui uma experiência de egoísmo, de fechamento, de desumanização, que centra o homem em si próprio e o impede de estar disponível e de ter espaço na sua vida para os valores verdadeiramente importantes - os valores do Reino. Quando o coração está cheio de cobiça, de avareza, de egoísmo, quando a vida se torna um combate obsessivo pelo “ter”, quando o verdadeiro motor da vida é a ânsia de acumular, o homem torna-se insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e autossuficiente, incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à margem do Reino.

Neste mês vocacional, rezemos com fé pelo nosso Papa,  Bispo Diocesano, Pároco e por todo o clero. É Missão da Igreja assumir o papel educador das vocações. Assim, sejamos generosos em rezar pelas vocações e vamos usar os bens que Deus nos concede, colocando-os em benefício do próximo, na partilha e na solidariedade, numa atitude de respeito e de liberdade diante dos bens, sem a eles se escravizar e partilhando-os com o próximo, fazendo o bem, sendo rico para Deus.  

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