domingo, 11 de novembro de 2012

Ofereceu a Deus, tudo o que possuía para viver



Neste Santo Domingo, somo convidados ao verdadeiro culto, do culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos, mas uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projetos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para doarmos a nossa vida em benefício aos nossos irmãos e irmãs.

A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de uma mulher pobre de Sarepta, que, apesar da sua pobreza e necessidade, está disponível para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus.
Elias chega a Sarepta e, correspondendo à indicação de Javé, dirige-se a uma viúva da cidade. Pede-lhe água para beber e um pedaço de pão para comer. Nesse tempo dramático de fome e de seca, a mulher apenas tem um punhado de farinha e um pouco de azeite, que se prepara para comer com o filho, antes de se deitar à espera da morte; mas prepara o pão para Elias… E, por ação de Deus, durante todo o tempo que Elias permaneceu, nem a farinha se acabou na panela, nem o azeite faltou.  O pão e o azeite que a mulher reparte com o profeta multiplicam-se milagrosamente.
O fato mostra que, quando alguém é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A história dessa viúva que reparte com o profeta os poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.

A segunda leitura oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projeto de salvação que Ele tem para homens e mulheres e para o mundo.
No final da sua caminhada terrena, Cristo, o sacerdote perfeito, entrou no verdadeiro santuário que é o céu – a própria realidade de Deus, a comunhão com Deus. Vivendo em comunhão com o Pai, Ele continua a interceder e a dispor o coração do Pai em favor de homens e mulheres. E quando Cristo voltar a manifestar-Se, no final dos tempos - parusia, não será nem para oferecer um novo sacrifício, nem para condenar o homem; mas será para oferecer a salvação definitiva àqueles que Ele, com o seu sacrifício, libertou do pecado.

No Evangelho, Marcos mostra através do exemplo de outra mulher pobre, de outra viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos: que eles sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza humilde e generosa, que é sempre fecunda, num despojamento de si que brota de um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto verdadeiro que Ele espera.
Assim, o relato de Marcos compõe-se, de duas partes. Na primeira parte, Jesus faz incidir a atenção dos seus discípulos sobre o grupo dos doutores da Lei. Aparentemente, os doutores da Lei são figuras intocáveis da comunidade, com uma atitude religiosa irrepreensível. São estimados, admirados e adulados pelo povo, que os tem em alto conceito.
Contudo, o olhar avaliador de Jesus não se detém nas aparências, mas penetra na realidade das coisas… Uma análise mais cuidadosa mostra que esses doutores da Lei são hipócritas e incoerentes: fazem as coisas, não por convicção, mas para serem considerados e admirados pelo povo; procuram os primeiros lugares, preocupam-se em afirmar a sua superioridade diante dos outros, exibem uma devoção de fachada, fazem do cumprimento dos ritos e regras da Lei um espetáculo para os outros aplaudirem. A sua vida é, portanto, um imenso repertório de mentira, de incoerência, de hipocrisia… Como se isso não bastasse, estes doutores da Lei aproveitam-se, frequentemente, da sua posição e da confiança que inspiram – como intérpretes autorizados da Lei de Deus – para explorar os mais pobres, aqueles que são os preferidos de Deus; servem-se da religião para satisfazer a sua avareza, não têm escrúpulos em aproveitar-se boa-fé das pessoas para aumentar os seus proveitos; exploram as viúvas, que lhes confiam a administração dos próprios bens, alinham em esquemas de corrupção e de exploração…
Os doutores da Lei, com os seus comportamentos hipócritas, mostram que os ritos externos, os gestos teatrais, o cumprimento das regras religiosamente corretas não chegam para aproximar-nos de Deus e da santidade de Deus. Ao olhar para a atitude dos doutores da Lei, os discípulos de Jesus têm de estar conscientes de que este não é o comportamento que Deus pede àqueles que querem fazer parte da sua família.
Na segunda parte do relato, Jesus convida os discípulos a perceber a essência do verdadeiro culto, da verdadeira atitude religiosa. Em profundo contraste com o quadro dos doutores da Lei, Jesus aponta aos discípulos a figura de uma pobre viúva, que se aproxima de um dos treze recipientes situados no átrio do Templo, onde se depositavam as ofertas para o tesouro do Templo. A mulher deposita duas simples moedas – eram as menores e insignificantes das moedas judaicas; contudo, aquela quantia insignificante era tudo o que a mulher possuía.
Ninguém, exceto Jesus, repara nela ou manifesta admiração pelo seu gesto. Apenas Jesus – que lê os fatos com os olhos de Deus e sabe ver para além das aparências – percebe naquelas duas insignificantes moedas oferecidas a marca de um dom total, de um completo despojamento, de uma entrega radical e sem medida.
O encontro com Deus, o culto que Deus quer passa por gestos simples e humildes, que podem passar completamente despercebidos, mas que são sinceros, verdadeiros, e expressam a entrega generosa e o compromisso total.
O verdadeiro cristão não é o que cultiva gestos teatrais, que impressionam as multidões e que são aplaudidos; mas é o que aceita despojar-se de tudo, prescindir dos seus interesses e projetos pessoais, para se entregar completa e gratuitamente nas mãos de Deus, com humildade, generosidade, total confiança, amor verdadeiro. É este o exemplo que os discípulos de Jesus devem imitar; é esse o culto verdadeiro que devemos prestar a Deus, oferecendo tudo o que o temos a Deus, assim como a pobre viúva – que deu tudo o que possuía para viver. Assim seja! Amém.

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