sábado, 12 de novembro de 2011

O Senhor esteja convosco

Na Liturgia manifesta-se a Igreja, a Igreja como povo de Deus, como família do Pai do céu, como corpo de Cristo. Não podemos definir a Igreja sem nos referir a Deus, a Jesus Cristo e ao Espírito Santo. Ela é uma realidade humana e divina. Em geral, a vida e a atividade da Igreja aparecem como algo humano, às vezes, humano demais. É, sobretudo na Liturgia, na assembleia dos fiéis reunidos, que ela se manifesta em suas duas dimensões. Aí se vê que a comunidade eclesial tem alguém que a preside, mesmo que seja mais de uma pessoa, um casal ou até um grupinho de três. Eles representam a cabeça deste corpo, que é Jesus Cristo, além de garantir a realização orgânica da assembleia.
Também quando eles falam, esta organicidade da Igreja, do corpo de Cristo, aparece. O sacerdote que preside a missa diz como representante de Cristo: “O Senhor esteja convosco”. Ele lembra assim o que Jesus falou antes da sua ascensão: “Estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
Do mesmo modo, como Jesus, antes de subir ao céu, estendeu suas mãos sobre os discípulos, abençoou-os e os enviou ao mundo, assim quem preside a missa ou outra celebração diz no fim da mesma: “Abençoe-vos Deus todo-poderoso...” e, para lembrar mais uma vez que o Senhor está conosco não apenas quando estamos reunidos na Igreja, mas também quando lutamos na vida dispersos pelo mundo afora: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!”.
Não é preciso mencionar que não há problema nenhum em dizer “O Senhor esteja com vocês”, em lugar de “convosco”. Problemático fica se dizemos “O Senhor esteja conosco”, pois, desta maneira, Jesus (nosso irmão maior) não apareceria mais com cabeça do eu corpo. E, além (e antes) disso, não apareceria mais que a Igreja como comunidade precisa (para a sua vivência orgânica, como qualquer sociedade ou até clube) de alguém que coordene suas atividades.
Nesse sentido, seria só coerente que também um leigo que preside uma celebração dissesse: “O Senhor esteja convosco” e “Abençoe-vos...”. Como isso não se negaria a conformidade especial dos ordenados com Cristo-Cabeça de sua Igreja. Por outro lado, não seria uma solução boa dizer como, às vezes, os padres e mesmo bispos o fazem: “O Senhor esteja conosco”, porque assim não ficaria claro e evidente que a Igreja é um corpo com muitas membros e uma cabeça.
Aliás, aquilo que a Igreja aprendeu de Jesus e costumou fazer durante dois mil anos, penetrou tão profundamente nos costumes humanos, que isso nos permite observar uma verdadeira e profunda inculturação. Pois não somente dizemos “Bom dia” quando nos encontramos e nos cumprimentamos, mas, dirigindo-nos à outra pessoa, também dizemos “Como vai?” e, na despedida, “Passe bem!” e “Vai com Deus!. E quando o filho pede a bênção ao pai, este dirá: “Deus te abençoe!”. Ninguém diria: “Como vamos? Passemos bem! Deus no abençoe!”.
Portanto, manifestando na Liturgia que a Igreja tem uma cabeça, estamos realmente caminhando nas pegadas de Jesus que se encarnou e se inculturou e nos deixou a mesma missão que ele tinha recebido do Pai, de mostrar ao mundo que tudo que existe tem sua origem e seu fim em Deus e que ele nos acompanha e protege através de seu Filho e no Espírito Santo nesta peregrinação terrestre. Isso não impede que quem preside a assembleia litúrgica o faça, a exemplo de Jesus, como servidor de todos, entregando-se e doando-se para que seus irmãos e irmãs tenham a vida, e vida em abundância.


Extraído de Liturgia em Mutirão - CNBB

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