Reino: tesouro supremo

Irmãos e irmãs,
A primeira leitura aponta que em Israel, o rei é o instrumento de Deus, aquele que faz a relação entre Deus e o Povo. Deus governa através do rei, que conduz o Povo pela história. Assim, o rei Salomão não concebeu o seu papel como um privilégio pessoal que podia ser usado em benefício próprio, mas como um ministério que lhe foi confiado por Deus. A autoridade de Salomão é um serviço que deve ser exercido com sabedoria e o objetivo é a realização do bem comum. Portanto, Salomão não pede riqueza nem glória, mas os dons e carismas para cumprir bem a missão que Deus lhe confiou.

Salomão aparece aqui como o modelo do homem que sabe escolher as coisas importantes e que não se deixa distrair por valores efémeros, optando pelos valores eternos, duradouros e essenciais. Somos convidados, então, para que exercer, mediante o voto, nosso dever de cidadão, a fim de que justiça e paz se abracem, na luta por nossos direitos; a uma verdadeira atitude de serviço, em benefício de toda a comunidade, a concretização do bem comum.

Caros irmãos e irmãs,
Paulo revela-nos que o projeto de Deus não é um acontecimento casual, mas algo que, desde sempre, está previsto nos planos de Deus. Aos que aderem a esse projeto, Deus chama-os a identificarem-se com o seu filho Jesus, libertando-os do pecado para chegar à vida nova e plena.
Neste sentindo, Paulo afirma que o projeto salvador de Deus está aberto a todos aqueles que querem acolhê-lo, dom gratuito de Deus, previsto desde a eternidade. Numa época marcada por uma certa indiferença face a Deus, há um convite para tomarmos consciência de que Deus nos ama, vem continuamente ao nosso encontro, aponta-nos o caminho da vida plena e verdadeira, desafia-nos à identificação com Jesus, convida-nos a integrar a essa comunidade de amor, a conduzir a nossa vida à luz desta realidade, testemunhando com palavras, ações, vida, o amor e o projeto de salvação que Deus tem.

Amados irmãos e irmãs,
No Evangelho, Mateus buscando renovar o compromisso cristão e chamar atenção para o Reino. Então, Jesus nestas parábolas, que só vemos em Mateus, apresenta um mundo novo, de liberdade e vida nova, Reino de Deus. Seja a parábola do tesouro escondido ou a parábola da pérola preciosa, apontam que o Reino proposto por Jesus, com paz, amor, fraternidade, serviço, é um “tesouro” precioso, e que os seguidores de Jesus devem abraçar. Assim, os cristãos são aqueles que encontraram algo de único: o Reino. Quando alguém encontra um tesouro como esse, deve elegê-lo como o valor fundamental pelo qual se renunciar as coisas do mundo. É preciso redescobrir e fazer opção para aquilo que dá sentido a vida – o Reino, que é valor mais importante. Mateus ainda apresenta o Reino na imagem de uma rede que, lançada ao mar, apanha diversos tipos de peixes. É uma parábola semelhante ao do joio e o trigo, no Reino não há só gente escolhida e santa, mas é uma realidade onde o mal e o bem crescem simultaneamente. Deus dá ao homem o tempo necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e para fazer as suas escolhas.

Irmãos e irmãs,
O verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que compreende, escuta e compromete-se com o Reino. Dessa forma, os cristãos são convidados a descobrir a realidade do Reino, a entender as suas exigências, a comprometerem-se com os seus valores. É nessa dialética, exigente, questionadora, que o verdadeiro discípulo encontra o caminho para o Reino. Pois, o cristão está permanentemente mergulhado num ambiente em que a força e o poder aparecem como o grande ideal; mas ele não pode deixar que o poder seja o seu objetivo fundamental, porque o Reino é serviço. Devemos construir nossa vida sobre os valores propostos por Jesus que recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Para assim proclamarmos e cantarmos: “Quero encontrar o tesouro. O céu que está em mim. Mergulho dentro de mim. Encontro o Deus, o Deus de minh'alma...” Todos os outros valores e interesses devem passar para segundo plano, diante do tesouro supremo que é o Reino. Assim seja! Amém.