Abbá

Deus educa! Ele sabe, como ninguém, fazer desabrochar toda a magnificência que é o ser humano. Apesar de todas as trapalhadas e mesquinharias, o ser humano é, sim, uma nobre criatura. Esta distinção repousa, primeiro, na condição do Homem ser criado à imagem e semelhança do Deus-Amor. O problema, curioso e intrigante, é que o ser humano resiste deixar-se plasmar por Deus. Prefere outros guias e outros dogmas. A situação se complica, em prejuízo ao próprio ser humano, evidente, quando se depara que mesmo entre os presumidos seguidores existem falhas de sintonia com o Criador. Nem todos aqueles que confessam crer em Deus se alinham ao seu pensamento. Muitos se comportam como rebeldes rebentos. E um dos motivos para esta independência são, certamente, os conceitos distorcidos que se fazem sobre Deus. Conferir, e se preciso for, reajustar os conceitos sobre Deus é uma das primordiais tarefas de todo crente. Pois mesmo entre os que crescem em ambientes religiosos é possível que se formem conceitos ambíguos sobre Deus, em função principalmente da precariedade do conhecimento humano.
O evangelista Lucas faz a respeito de Maria, mãe de Jesus, uma precisa e oportuna observação quando registra que ela guardava em seu coração todos os acontecimentos envolvendo seu Filho e sobre eles meditava. Entendeu ela, certamente em companhia do marido José, e a partir dos inusitados acontecimentos envolvendo seu Filho divino, que precisava retocar os seus conceitos sobre o Criador e sobre a obra da redenção. Naquele tempo, como agora, havia muitas teorias confusas sobre Deus e sobre seu modo de agir. É preciso primeiro, como fez Maria, dispor-se a ouvir e a meditar, principalmente os gestos e as palavras de Jesus, se se deseja formar um coerente conceito sobre Deus. Afinal, Jesus é o Verbo que se fez carne! Ora, uma das verdades mais ardorosamente anunciadas pelo Senhor Jesus apresentava Deus como ABBÁ, uma expressão em aramaico, cuja tradução mais próxima seria o ‘papai’ das crianças pequeninas. Avaliando a realidade contida nesta expressão, fica claro que Jesus quer que o Homem passe a relacionar-se com o Criador com a mesma desenvoltura e com a mesma confiança com que os pequenos tratam seus papais. Impõe-se, naturalmente, sobre o aplicado discípulo a agradável tarefa de observar, e aprender com, as crianças. Assimilar, e imitar, a espontânea alegria que as atrai para o abraço do papai. Confiam, instintivamente, que ali estão braços firmes que acolhem e protegem.
Entende-se, Jesus veio elevar à nível de paternidade o relacionamento entre Deus e Homem. O Mestre veio convencer o ser humano a reformular o seu conceito sobre Deus e passar a O enxergar como um ABBA que ama ternamente seus filhos. Deus ama o Homem com amor eterno, com um amor constante, sem oscilações e sem hesitações. Eterno e fiel é o seu amor! Em outras palavras, com um amor sempre presente. Não importa a sujeira, não importam as feridas, os braços do Papai do céu acolhem e protegem. Muitos de Deus se afastam, ou dEle tem medo, porque ouvem falar que é um juiz rigoroso, que pune severamente os transgressores. Deixam de conferir, como registrado naquela parábola memorável, o zelo que faz o pai correr para abraçar o filho aventureiro que retorna desfigurado e a prontidão em lhe restituir a dignidade desprezada. Claro, este afeto não deve ser confundido com mimo. Deus não mima. Deus educa. Mesmo quando perdoa, Ele não anistia, mas conserta e lapida. Corrige o filho que ama e o renova! Médico prestimoso compadece-se, cura as feridas, mas também receita as dietas necessárias e certas para uma recuperação plena. Especial e distinto é o Homem, predestinado a ser filho adotivo do Deus-Amor!
Deus é o ABBÁ... e como deseja que os filhos, todos os filhos, sintam por Ele uma atração espontânea e confiante!

Pe. Charles Borg, Vigário geral da diocese de Araçatuba, autor do Catecismo de Crisma, FILHO,VAI TRABALHAR NA VINHA. Ed. Somos

Se ouvir a voz do vento...chamando sem cessar...Escutamos a voz do Pai,como fez nossa querida mãe Maria! palavraemmim.blogspot.com