Ouvir a voz de Deus e sermos "trigos" de Cristo

Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, continuamos a escutar as parábolas do reino e, hoje, Jesus renova a certeza de que o reino já está presente entre nós, caminhando para a sua realização definitiva. Assim, vivemos plenamente a páscoa de Jesus que se manifesta em todas as pessoas e grupos que acreditam na força dos pequenos.

Queridos irmãos e irmãs,
O livro da sabedoria mostra a justiça e poder de Deus, que se manifesta na humanidade, com bondade e perdão, oferecendo e favorecendo a vida para todos. Isso faz-nos perguntar: Que tipo de justiça vivem os cristãos? Como entendemos e vivemos o poder? Isso ilumina nosso compromisso de cidadão?
Afirmamos assim, que Deus é o Senhor dos povos, e só ele conduz a história rumo à construção da liberdade e da vida. O projeto de Deus está sempre voltado à vida. Deus quer a vida sempre, e sempre dá a chance para que todos se convertam e participem do Reino. Assim é nosso Deus, único, que cuida de todos os homens, não somente dos que julgamos serem bons, merecedores do Reino. O nosso Deus, embora possa usar seu poder, julga sempre com moderação, governando os homens com sua indulgência e benevolência, amor de Pai. A pedagogia divina é revelar-se plenamente humano e solidário.

Estimados irmãos e irmãs,
Paulo revela-nos o Espírito como autêntico intérprete dos anseios da criação e das pessoas por um mundo novo e libertação. O caminho do Espírito é de libertação, e seu desejo coincide com o projeto de Deus. E nossas comunidades se deixam guiar pelo Espírito que liberta? É o clamor do Espírito que nos dirige, então, orientando-nos conforme a vontade de Deus.
Então, enquanto aguardamos manifestação gloriosa do Reino expresso pela parábola do joio e do trigo, somos impelidos pelo Espírito a vivermos uma vida de intensa oração. Pois, o Espírito Santo é o nosso intercessor, que ora em nós com gemidos inefáveis, intercedendo por nós segundo Deus, que penetra o íntimo dos corações e sabe o que realmente necessitamos em cada momento da nossa história. E para que não peçamos mal, Ele envia-nos nós o Espírito Santo, que intercede e clama por nós. Deixemos que os gemidos inefáveis do Espírito brotem de nossos lábios, pois, é “sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos”.

Amados irmãos e irmãs,
No Evangelho de Mateus, o Senhor nos fala que somente a Ele cabe o discernimento no tempo oportuno, que será o fim dos tempos, quando Deus fará realmente a separação entre o joio e o trigo. Mas, enquanto se espera esse tempo final da parte de Deus, como devemos proceder, como deve ser o agir do cristão?
Olhando a comunidade cristã e o mundo em que vivemos, vemos uma série de contradições, onde trigo e joio estão e crescem juntos. A sociedade é um campo de semeaduras diferentes, onde as pessoas e estruturas injustas convivem com a semente do Reino. E por muitas vezes juízes de nós mesmos, queremos eliminar logo aquilo que nos parece joio, deixando somente o trigo no campo, fazer justiça com as próprias mãos. Mas, o Senhor como vemos no livro da Sabedoria, age sempre com misericórdia, vê além da simples aparência, nos ordena que sejamos pacientes, esperar o tempo certo da colheita. Pois, nosso olhar é confuso e incapaz de perceber a diferença, na pressa por tirar o joio, poderíamos também retirar o trigo. Nesse sentido, em nossas fraquezas humanas, muitas vezes temos atitudes que mais parecem revelar que somos joio ao invés de trigo. Assim, o Senhor orienta-nos que trigo e joio cresçam juntos, a fim de que no tempo certo, ele próprio faça o discernimento e separe o trigo do joio. Aos discípulos cabe somente semear, continuar firme na prática da justiça, pois, “os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai”.

Irmãos e irmãs,
Ainda, sobre o Reino, Mateus cita duas parábolas de Jesus a respeito do Reino dos Céus. O Reino dos Céus é como um grão de mostarda, que ao ser plantado se torna uma grande hortaliça, que oferece conforto e segurança aos pássaros que vêm descansar em seus galhos. Assim será a justiça do Reino, garante Jesus: ela se sobressairá no campo - mundo e será ponto de encontro de todos os povos. O Reino dos Céus é como o fermento (ninguém o vê) que uma mulher mistura com a farinha, para tornar-se um pão que sacia e dá vida. Assim é a justiça que faz surgir o Reino. Um dia irá levantar toda a humanidade, pois, tem poder de contagiar, transformar e levantar toda a massa. Nosso Reino dos céus, quase invisível, inicia pequeno, e a semente lançada, o pouco fermento, começa a produzir frutos que não imaginávamos e começa a manifestar o Reino, reflexos da luz da própria Trindade.
A história é tensão contínua voltada para a manifestação gloriosa do Reino. E o Evangelho mostra o Reino de Deus germinando, crescendo e fermentando as relações humanas e sociais. Então, questionamos: conseguimos fermentar a sociedade e o mundo? Como nos posicionamos diante das estruturas de morte?
A comunidade dos discípulos exerce ação transformadora no seio a sociedade. E somente através da pessoa e missão de Jesus é possível compreender o mistério do Reino, escondido na história desde o início do mundo. O Reino, portanto, é confiado aos pequenos, pobres e marginalizados, e é compromisso diário. Nesse sentido, sejamos trigos de Cristo, que para servir, deve ser transformado, a fim de tornar-se pão. Cristo, trigo do Pai, tornou-se Pão da Vida, que desce do céu e dá vida aos homens. Comungando do Cristo, renovamos nossa fé, esperança e caridade pela no Corpo e no Sangue do Senhor, que gera vida no meio do mundo. Assim, somos convidados, ao discernimento de que a vitória final pertence a Jesus e seus seguidores. Portanto, mãos à obra para que o Reino se manifeste mediante a prática da justiça, dos que são “trigos” no meio do povo. Pois, o convite à vida do Reino acontece para todos. E como servidores, com calma e paciência, devemos deixar a graça de Deus, transbordar em nós e se derramar em gestos de acolhida e comunhão com aqueles que o Senhor escolheu e colocou ao nosso lado. Assim, a semente do Reino crescerá e produzirá frutos. O crescimento do Reino é “mistério”, algo que pertence somente a Deus, já que o Reino é do jeito de Deus e não do nosso jeito. Deixemos-nos ouvir a voz do nosso Deus! Assim seja! Amém.