quarta-feira, 13 de julho de 2011

Eucaristia; mistério de luz



«Explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que Lhe dizia respeito» (Lc 24,27)


A narração da aparição de Jesus ressuscitado aos dois discípulos de Emaús ajuda-nos a pôr em destaque um primeiro aspecto do mistério eucarístico, que deve estar sempre presente na devoção do povo de Deus: a Eucaristia, mistério de luz! Em que sentido tal se pode afirmar, e quais são as implicações que daí derivam para a espiritualidade e para a vida cristã?


Jesus designou-Se a Si mesmo como «luz do mundo» (Jo 8,12), e esta sua propriedade aparece bem evidenciada em momentos da sua vida como a Transfiguração e a Ressurreição, onde refulge claramente a sua glória divina. Diversamente, na Eucaristia a glória de Cristo está velada. O sacramento eucarístico é o «mysterium fidei» por excelência. E, todavia, precisamente através deste sacramento da sua total ocultação, Cristo torna-Se mistério de luz, mediante o qual o fiel é introduzido nas profundezas da vida divina. Com uma feliz intuição, o célebre ícone da Trindade de Rublëv coloca significativamente a Eucaristia no centro da vida trinitária.


A Eucaristia é luz antes de mais nada porque, em cada Missa, a liturgia da Palavra de Deus precede a liturgia Eucarística, na unidade das duas «mesas» — a da Palavra e a do Pão. Esta continuidade transparece já no discurso eucarístico do Evangelho de João, quando o anúncio de Jesus passa da apresentação fundamental do seu mistério à ilustração da dimensão eucarística propriamente dita: «A minha carne é, em verdade, uma comida e o meu sangue é, em verdade, uma bebida» (Jo 6,55). Sabemos que foi esta dimensão que fez entrar em crise grande parte dos ouvintes, induzindo Pedro a fazer-se porta-voz da fé dos outros Apóstolos e da Igreja de todos os tempos: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6,68). Na narração dos discípulos de Emaús, o próprio Cristo intervém para mostrar, «começando por Moisés e seguindo por todos os profetas», como «todas as Escrituras» conduzem ao mistério da sua pessoa (cf. Lc 24,27). As suas palavras fazem «arder» os corações dos discípulos, tiram-nos da obscuridade da tristeza e do desânimo, suscitam neles o desejo de permanecer com Ele: «Fica conosco, Senhor» (cf. Lc 24,29).


É significativo que os dois discípulos de Emaús, devidamente preparados pelas palavras do Senhor, O tenham reconhecido, quando estavam à mesa, através do gesto simples da «fração do pão». Uma vez iluminadas as inteligências e rescaldados os corações, os sinais «falam». A Eucaristia desenrola-se inteiramente no contexto dinâmico de sinais que encerram uma densa e luminosa mensagem; é através deles que o mistério, de certo modo, se desvenda aos olhos do crente.

Não há dúvida que a dimensão mais saliente da Eucaristia é a de banquete. A Eucaristia nasceu, na noite de Quinta-feira Santa, no contexto da ceia pascal. Traz por conseguinte inscrito na sua estrutura o sentido da comensalidade: «Tomai, comei... Tomou, em seguida, um cálice e... entregou-lho dizendo: Bebei dele todos...» (Mt 26,26.27). Este aspecto exprime bem a relação de comunhão que Deus quer estabelecer conosco e que nós mesmos devemos fazer crescer uns com os outros.

Todavia não se pode esquecer que o banquete eucarístico tem também um sentido primária e profundamente sacrifical.(13) Nele, Cristo torna presente para nós o sacrifício atuado uma vez por todas no Gólgota. Embora aí presente como ressuscitado, Ele traz os sinais da sua paixão, da qual cada Santa Missa é «memorial», como a liturgia nos recorda com a aclamação depois da consagração: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição...». Ao mesmo tempo que atualiza o passado, a Eucaristia projeta-nos para o futuro da última vinda de Cristo, no final da história. Este aspecto escatológico dá ao sacramento eucarístico um dinamismo cativante, que imprime ao caminho cristão o passo da esperança.


Todas estas dimensões da Eucaristia se encontram num aspecto que, mais do que qualquer outro, põe à prova a nossa fé: é o mistério da presença «real». Com toda a tradição da Igreja, acreditamos que, sob as espécies eucarísticas, está realmente presente Jesus. Uma presença — como eficazmente explicou o Papa Paulo VI — que se diz «real», não por exclusão como se as outras formas de presença não fossem reais, mas por antonomásia enquanto, por ela, Se torna substancialmente presente Cristo completo na realidade do seu corpo e do seu sangue.(14) Por isso a fé pede-nos para estarmos diante da Eucaristia com a consciência de que estamos na presença do próprio Cristo. É precisamente a sua presença que dá às outras dimensões — de banquete, memorial da Páscoa, antecipação escatológica — um significado que ultrapassa, e muito, o de puro simbolismo. A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até ao fim do mundo.



TRECHO DA CARTA APOSTÓLICA

MANE NOBISCUM DOMINE “FICA CONOSCO SENHOR”

DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II

AO EPISCOPADO, CLERO E FIÉISPARA O ANO DA EUCARISTIA

Um comentário:

  1. Olá,
    O Pão da vida me dá força necessária para caminhar com mais ânimo e generosidade...
    rumo a amar e servir...
    Abraços fraternos de paz

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