domingo, 15 de março de 2015

Verdade e luz são os caminhos do Senhor!


Irmãos e irmãs,
Este 4º Domingo da Quaresma garante-nos que Deus nos oferece, de forma totalmente gratuita e incondicional, a vida eterna.

A primeira leitura diz-nos que, quando o homem prescinde de Deus e escolhe caminhos de egoísmo e de autossuficiência, está a construir um futuro marcado por horizontes de dor e de morte, com opressão, exploração, exclusão e sofrimento. No entanto, diz o autor do Livro das Crônicas, Deus dá sempre ao seu Povo outra possibilidade de recomeçar, de refazer o caminho da esperança e da vida nova. Assim, há um convite claro a escutar Deus e a pautar as opções que fazemos pelas propostas de Deus. Deus oferece ao seu Povo a oportunidade de um novo começo, aponta no sentido da esperança. O Deus que nos é proposto é um Deus que abomina o pecado, mas que dá sempre aos seus filhos a oportunidade de recomeçar, de refazer tudo, de refazer o caminho da esperança e da vida nova. Neste tempo de Quaresma, este texto abre-nos horizontes de esperança e convida-nos a embarcar na apaixonante aventura da vida nova.

A segunda leitura ensina que Deus nos ama com um amor total, incondicional, desmedido; é este amor que levanta-nos de nossa condição de finitude e debilidade e oferece-nos este mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim que está no horizonte final da nossa existência.
Deus é rico em misericórdia e nos ama com um amor imenso. A salvação é uma oferta gratuita que Deus faz aos homens e mulheres. Da oferta de salvação que Deus faz, nasce uma pessoa nova, que pratica boas obras. As boas obras não são a condição para se receber a salvação, mas o resultado da ação desta graça que Deus no seu amor e na sua bondade, derrama gratuitamente. É Deus que age no mundo, que o transforma, que o recria; nós somos, apenas, os instrumentos frágeis através dos quais Deus manifesta ao mundo e aos homens e mulheres o teu amor.
Por isso, os que creem e acolhem a salvação têm de anunciar e de construir um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano. Eles são testemunhas, nesta terra, de uma realidade nova de felicidade sem fim e de vida eterna. Então, a vida nova de Deus manifesta-se nas nossas palavras, nos nossos gestos de partilha e de serviço, nas nossas atitudes de tolerância e de perdão e somos sinais de esperança e de libertação para os irmãos que nos rodeiam.

No Evangelho, João recorda-nos que Deus nos amou de tal forma que enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna. Somos convidados a olhar para Jesus, a aprender com Ele a lição do amor total, a percorrer com Ele o caminho da entrega e do dom da vida. É este o caminho da salvação, da vida plena e definitiva.
A conversa entre Jesus e Nicodemos apresenta três etapas ou fases. Na primeira, Nicodemos reconhece a autoridade de Jesus, graças às suas obras; mas Jesus acrescenta que isso não é suficiente: o essencial é reconhecer Jesus como o enviado do Pai. Na segunda, Jesus anuncia a Nicodemos que, para entender a sua proposta, é preciso “nascer de Deus” e explica-lhe que esse novo nascimento é o nascimento “da água e do Espírito”. Na terceira, Jesus descreve a Nicodemos o projeto de salvação de Deus: é uma iniciativa do Pai, tornada presente no mundo e na vida dos homens através do Filho e que se concretizará pela cruz/exaltação de Jesus. O nosso texto pertence a esta terceira parte.
No texto que nos é proposto, Jesus começa por explicar a Nicodemos que o Messias tem de “ser levantado ao alto”, como “Moisés levantou a serpente” no deserto. A imagem do “levantamento” de Jesus refere-se, naturalmente, à cruz – passo necessário para chegar à exaltação, à vida definitiva. Jesus manifesta o teu amor e que indica aos homens e mulheres o caminho que eles devem percorrer para alcançar a salvação, a vida plena.
João é o evangelista abismado na contemplação do amor de um Deus que não hesitou em enviar ao mundo o seu Filho, o seu único Filho, para apresentar aos homens e mulheres uma proposta de felicidade plena, de vida definitiva; e Jesus, o Filho, cumprindo o mandato do Pai, fez da sua vida um dom, até à morte na cruz, para mostrar aos homens o “caminho” da vida eterna… O Evangelho deste domingo convida-nos a contemplar, com João, esta incrível história de amor e a espantar-nos com o peso que nós – seres limitados e finitos – adquirimos nos esquemas, nos projetos e no coração de Deus.
O amor de Deus traduz-se na oferta de vida plena e definitiva. É uma oferta gratuita, incondicional, absoluta, válida para sempre e que não discrimina ninguém. Aos homens e mulheres – dotados de liberdade e de capacidade de opção – compete decidir se aceitam ou se rejeitam o dom de Deus. Às vezes, as pessoas acusam Deus pelas guerras, pelas injustiças, pelas arbitrariedades que trazem sofrimento e morte que pintam as paredes do mundo com a cor do desespero… O nosso texto, contudo, é claro: Deus ama-nos e oferece-nos a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus, mas são o resultado das escolhas erradas feitas por nós que se obstina na autossuficiência e que prescinde dos dons de Deus.
Neste texto, João define claramente o caminho que todos devemos seguir para chegar à vida eterna: trata-se de “acreditar” em Jesus. “Acreditar” em Jesus não é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé; mas é escutar Jesus, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-l’O neste caminho do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos. Passa pelo ser capaz de ultrapassar a indiferença, o comodismo, os projetos pessoais e pelo empenho em concretizar, no dia a dia da vida, os apelos e os desafios de Deus; passa por realizar gestos concretos de dom, de entrega, de serviço que tragam alegria, vida e esperança aos irmãos que caminham lado a lado conosco; significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus, dom total da própria vida a Deus e aos irmãos. É desta forma que se chega à “vida eterna”.
Jesus, o “Filho único” enviado pelo Pai ao encontro de homens e mulheres para lhes trazerem a vida definitiva, é o grande dom do amor de Deus à humanidade. Jesus, o “Filho único” de Deus, veio ao mundo para cumprir os planos do Pai em nosso favor. Para isso, encarnou na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida a serviço da luta contra as forças das trevas e da morte que nos escravizam, foi preso, torturado e morto numa cruz. A cruz é o último ato de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega. A cruz é, portanto, a expressão suprema do amor de Deus. Ela dá-nos a dimensão do incomensurável amor de Deus por essa humanidade a quem Ele quer oferecer a salvação.
Diante da oferta de salvação que Deus faz, temos que fazer a nossa escolha. Quando aceitamos a proposta de Jesus e aderimos a Ele, escolhemos a vida definitiva; mas quando preferimos continuar escravo de esquemas de egoísmo e de autossuficiência, rejeitamos a proposta de Deus e auto excluímos da salvação. A salvação ou a condenação não são, nesta perspectiva, um prêmio ou um castigo que Deus nos dá, pelo bom ou mau comportamento; mas são o resultado da escolha livre, face à oferta incondicional de salvação que Deus lhe faz. A responsabilidade pela vida definitiva ou pela morte eterna não recai, assim, sobre Deus, mas sobre nós.
De acordo com a perspectiva de João, também não existe um julgamento futuro, no final dos tempos, no qual Deus pesa na sua balança os pecados, para ver se os há de salvar ou condenar: o juízo realiza-se aqui e agora e depende da atitude que o homem assume diante da proposta de Jesus.
Alguns cristãos vivem obcecados e assustados com este momento final em que Deus vai julgar-nos, depois de pesar na balança as suas ações boas e as suas ações más… João garante-nos que Deus não é um contabilista, a somar os débitos e os créditos para pagar em conformidade… O cristão não vive no medo, pois, ele sabe que Deus é esse Pai cheio de amor que oferece a todos os seus filhos a vida eterna. Não é Deus que nos condena; somos nós que escolhemos entre a vida eterna que Deus nos oferece ou a eterna infelicidade. Assim, neste tempo de caminhada para a Páscoa, somos convidados a converter-nos a Jesus e a percorrer o mesmo caminho de amor total que Ele percorreu, pois, verdade e luz são os caminhos do Senhor. Assim seja! Amém.

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