domingo, 12 de janeiro de 2014

O batismo revela nossa missão


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo tem como cenário de fundo o projeto salvador de Deus. No batismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar homens e mulheres.

A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois, esses esquemas não são de Deus.
O “Servo” é um instrumento através do qual Deus atua no mundo para levar a salvação aos homens: ele é alguém que Deus escolheu entre muitos, a quem chamou e a quem confiou uma missão – trazer a justiça, propor a todas as nações uma nova ordem social da qual desaparecerão as trevas que alienam e impedem de caminhar e oferecer a todos os homens a liberdade e a paz. Deus não só está na origem (escolha, chamamento e envio) da missão do “Servo”, mas acompanhará a concretização da missão e possibilitará o seu êxito: para levar a cabo a missão, o “Servo” contará com a ajuda do Espírito de Deus, que lhe dará a força de assumir a missão e de concretizá-la.

A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projeto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.
Pedro começa por reconhecer que a proposta de salvação oferecida por Deus e trazida por Cristo é universal e se destina a todas as pessoas, sem distinção de qualquer tipo. Israel foi, na verdade, o primeiro receptor privilegiado da Palavra de Deus; mas Cristo veio trazer a “boa nova da paz”, salvação, a todos; e agora, por intermédio das testemunhas de Jesus, essa proposta de salvação que o Pai faz chega “a qualquer nação que o teme e põe em prática a justiça” – ou seja, a todo o homem e mulher, sem distinção de raça, de cor, de estatuto social, que aceita a proposta e adere a Jesus. Assim, a missão fundamental dos discípulos: anunciar Jesus e testemunhar essa salvação que deve chegar a todos os homens e mulheres.

No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/ “Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação de homens e mulheres. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
Para Mateus, o batismo é um momento privilegiado da manifestação de Jesus aos homens: antes de começar a sua atividade, Jesus define-Se e apresenta-Se… A passagem tem duas partes: o diálogo entre João e Jesus e a manifestação de Jesus como Filho de Deus.
O diálogo entre João e Jesus (vers. 14-15) explica porque é que Jesus vem ao encontro de João para ser batizado… Pela resposta de Jesus, fica claro que o seu baptismo é um passo necessário para que se cumpra o desígnio salvador de Deus, “convém que assim cumpramos toda a justiça’ … O cumprimento da “justiça” equivale, no contexto da teologia de Mateus, ao cumprimento da vontade de Deus. Jesus apresenta-Se, assim, como “Filho”, que cumpre rigorosa e absolutamente a vontade do Pai, a obediência era aquilo que definia a relação entre um filho e um pai… “Cumprir a justiça” em relação ao Pai era, para um filho, obedecer-lhe incondicionalmente.
Que é que este batismo tem a ver com o projeto salvador do Pai para todos? Ao receber este batismo de penitência e de perdão dos pecados, do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado, Jesus solidarizou-Se com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-Se ao lado dos homens para os ajudar a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da libertação, o caminho da vida plena. Esse era o projeto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente.
Na segunda parte, temos uma reflexão sobre a identidade de Jesus e sobre a sua missão. Para isso, Mateus recorre a três elementos simbólicos muito expressivos: os céus abertos, o Espírito que desce em forma de pomba e a voz do céu.
A abertura do céu significa a união da terra e do céu. Desta forma, Mateus anuncia que a atividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.
O símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, trata-se de uma alusão à pomba símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobra as águas – evoque a nova criação que terá lugar a partir da atividade que Jesus vai iniciar.
Temos, finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabis para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse cântico do “Servo de Javé” que vimos na primeira leitura de hoje… Sugere-se, dessa forma, que Jesus é o Filho de Deus… Mas acrescenta-se, para que não haja equívocos: a sua missão não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens, “não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega”.
A cena do batismo de Jesus revela, portanto, essencialmente que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em favor de homens e mulheres. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e a humanidade, que o pecado havia interrompido e conduz-nos ao encontro da vida em plenitude. Da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.
O texto ainda sugere outras duas linhas, quanto à definição da identidade de Jesus. Uma delas apresenta Jesus como o novo libertador: o batismo de Jesus no Jordão recorda a passagem do Mar Vermelho e estabelece um novo paralelo entre Jesus e Moisés… Jesus é o novo Moisés, revestido do Espírito de Deus, para conduzir o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade. A outra linha torna-se patente no diálogo entre João e Jesus: se João reconhece humildemente a sua inferioridade e a sua condição de percursor, é porque Jesus é esse Messias esperado, da descendência de David. Desta forma, cumprindo o projeto do Pai, Ele fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, dando-nos o batismo revela-Se e faz-nos assumir a nossa missão, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude. Assim seja! Amém.

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