domingo, 14 de julho de 2013

Quem é o nosso próximo...?


Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, a liturgia deste domingo procura definir o caminho para encontrar a vida eterna. É no amor a Deus e aos outros que encontramos a vida em plenitude.

A primeira leitura reflete, sobretudo, sobre a questão do amor a Deus. Convida-nos a fazer de Deus o centro da sua vida e a amá-lo de todo o coração. Como? Escutando a sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos seus mandamentos. Fundamentalmente, estamos diante de um convite a aderir com todo o coração e com todo o ser às propostas e aos mandamentos de Deus.
Assim, o caminho que Deus propõe não é um caminho escondido, misterioso, revelado só aos iniciados ou iluminados; mas é um caminho que está claramente inscrito no coração e na consciência de cada pessoa. Desta forma, para perceber o projeto de salvação, de liberdade e de felicidade que Deus tem para nós, basta olhar para o nosso coração e para a nossa consciência; é aí que Deus nos fala e é aí que nós escutamos as suas propostas e as suas indicações. Resta-nos estar disponíveis para escutar e para perceber – no meio das contra-indicações que as nossas paixões nos apresentam – as sugestões, os apelos, os desafios de Deus.

Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que propõe Cristo como a referência fundamental, como o centro à volta do qual se constrói a história e a vida de cada crente. Assim, se Cristo é o centro a partir do qual tudo se constrói, convém escutá-l’O atentamente e fazer do amor a Deus e aos outros uma exigência fundamental da nossa caminhada.
A primeira parte desta leitura afirma e celebra a soberania e o poder de cristo sobre toda a criação:  Cristo é a “imagem de Deus invisível”. Dizer que é “imagem” significa aqui que Ele é em tudo igual ao Pai, no ser e no agir, pois n’Ele reside a plenitude da divindade. Significa que Deus, espiritual e transcendente, Se revela aos homens e Se faz visível através da humanidade de Cristo. Cristo é o “primogénito de toda a criatura”. No contexto familiar judaico, o “primogénito” era o herdeiro principal, que tinha a primazia em dignidade e em autoridade sobre os seus irmãos. Aplicado a Cristo, significa a supremacia e a autoridade de Cristo sobre toda a criação. Em Cristo “n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”. Tal significa que todas as coisas têm n’Ele o seu centro supremo de unidade, de coesão, de harmonia (“n’Ele”); que é Ele que comunica a vida do Pai (“por Ele”); e que Cristo é o termo e a finalidade de toda a criação (“para Ele”).
A segunda parte afirma e celebra a soberania e o poder de Cristo na redenção:  Cristo é a “cabeça do corpo que é a Igreja”. A expressão significa, em primeiro lugar, que Cristo tem a primazia e a soberania sobre a comunidade cristã; mas significa, também, que é Ele quem comunica a vida aos membros do corpo e que os une num conjunto vital e harmónico. Cristo é o “princípio, o primogénito de entre os mortos”. Significa que Ele, não só foi o primeiro que ressuscitou, mas também que Ele é a fonte de vida que vai provocar a nossa própria ressurreição. Em Cristo reside “toda a plenitude”. Significa que n’Ele e só n’Ele habita, efetiva e essencialmente, a divindade: tudo o que Deus nos quer comunicar, a fim de nos inserir na sua família, está em Cristo. Por isso, o autor deste hino pode dizer que por Cristo foram reconciliadas com Deus todas as criaturas na terra e nos céus: por Cristo a criação inteira, marcada pelo pecado, recebeu a oferta da salvação e pôde voltar a inserir-se na família de Deus.

O Evangelho sugere que essa vida plena não está no cumprimento de determinados ritos, mas no amor a Deus e aos irmãos. Como exemplo, apresenta-se a figura de um samaritano – um herege, um infiel, segundo os padrões judaicos, mas que é capaz de deixar tudo para estender a mão a um irmão caído à beira da estrada. “Vai e faz o mesmo” – diz Jesus a cada um dos que o querem seguir no caminho da vida plena.
O que está em jogo no texto que nos é proposto é uma pergunta de um mestre da Lei: “o que fazer, a fim de conseguir a vida eterna?” A resposta é previsível e evidente, de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus, fazer de Deus o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Até aqui, a proposta de Jesus não acrescenta nada de novo àquilo que a própria Lei sugere.
A dúvida do mestre da Lei vai, no entanto, mais fundo: “e quem é o meu próximo?” É uma questão pertinente, neste contexto. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”. Naturalmente, havia opiniões mais abrangentes e opiniões mais particularistas e exclusivistas; mas havia consenso entre todos no sentido de excluir da categoria “próximo” os inimigos: de acordo com a Lei, o “próximo” era apenas o membro do Povo de Deus. Jesus, no entanto, tinha uma perspectiva diferente da perspectiva dos “fazedores de opinião” de Israel. É precisamente para explicar a sua perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.
A parábola situa-nos nessa estrada de cerca de 30 quilômetros entre a cidade santa de Jerusalém e o oásis de Jericó. Na época de Jesus, é uma estrada perigosa, sempre infestada de bandos armados. Ora “um homem” não identificado, não se diz quem é, de que raça é, qual a sua religião, mas apenas que é “um homem”, provavelmente judeu, foi assaltado pelos bandidos e deixado caído à beira da estrada. Trata-se, portanto, e isso é que é preponderante, de “um homem” ferido, abandonado, necessitado de ajuda, não faz diferença quem o seja, isso mostra, que nossa ação junto ao próximo, deve ser efetiva, sem acepção alguma e, devemos servir a todas as criaturas.
Pela estrada passaram sucessivamente um sacerdote, que conhecia a Lei e que exercia funções litúrgicas no templo e um levita, ligado à instituição religiosa judaica e que exercia, também, funções litúrgicas no templo. Ambos passaram adiante: ou o medo de enfrentar a mesma sorte, ou as preocupações com a pureza legal, que impedia contatar com um cadáver, ou a pressa, ou a indiferença diante do sofrimento alheio, impede-os de parar. Apesar dos seus conhecimentos religiosos, não têm qualquer sentimento de misericórdia por aquele homem. Eles sabem tudo sobre Deus, lidam diariamente com Deus mas, afinal, não sabem nada de Deus, pois não sabem nada de amor. A sua religião é uma religião oca, de ritos estéreis, de gestos vazios e sem sentido, de cerimónias faustosas e solenes, mas não tem nada a ver com o amor, com o coração.
Pela estrada passou, finalmente, um samaritano. Trata-se de um desses que a religião tradicional de Israel considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e do amor de Deus… No entanto, foi ele que parou, sem medo de correr riscos ou de adiar os seus esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o salvou. Apesar de ser um herege, um excomungado, mostra ser alguém atento ao irmão necessitado, com o coração cheio de amor e, portanto, cheio de Deus.
Jesus conclui a parábola dizendo ao mestre da Lei que o interrogara: “então vai e faz o mesmo”. A verdadeira religião que conduz à vida plena passa pelo amor a Deus, traduzido em gestos concretos de amor pelo irmão – por todo o irmão, sem exceção.

Recordemos que a pergunta inicial era: “o que fazer para alcançar a vida eterna” … A conclusão é óbvia: para alcançar a vida eterna é preciso amar a Deus e amar o próximo. O “próximo” é qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, da mesma raça ou doutra raça qualquer; o “próximo” é qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessita, para se levantar, da nossa ajuda e do nosso amor. Neste gesto do samaritano, a Igreja de todos os tempos, a comunidade dos que caminham ao encontro da vida plena, da salvação, reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a de levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida, ou seja, a quem esteja próximo. Desta forma, nosso olhar e nossos gestos precisam reconhecer “quem é o nosso próximo”. Assim seja! Amém. 

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