domingo, 5 de maio de 2013

A caminho: na vivência do amor e testemunho



Irmãos e irmãs,

Neste Santo Domingo, vivendo a alegria Pascal, sobressai a promessa de Jesus de acompanhar de forma permanente a caminhada da sua comunidade em marcha pela história: não estamos sozinhos; Jesus ressuscitado vai sempre ao nosso lado.

A primeira leitura apresenta-nos a Igreja de Jesus a confrontar-se com os desafios dos novos tempos. Animados pelo Espírito, os que creem aprendem a discernir o essencial do acessório e atualizam a proposta central do Evangelho, de forma que a mensagem libertadora de Jesus possa ser acolhida por todos os povos.
Este texto apresenta-nos a reunião dos dirigentes e animadores das comunidades, conhecida como “concílio apostólico” ou “concílio de Jerusalém”. Essa assembleia vai, pois, discutir o que é essencial na proposta cristã, que devia ser incluído no núcleo fundamental da pregação e o que podia ser dispensado, não constituindo uma verdade fundamental da fé cristã. Neste sentido, a Igreja nascente: o cristianismo cortou o cordão umbilical com o judaísmo e, agora pode ser uma proposta universal de salvação, aberta a todos, de todas as raças e culturas, pois, só o Cristo basta.

Na segunda leitura, apresenta-se mais uma vez a meta final da caminhada da Igreja: a “Jerusalém messiânica”, essa cidade nova da comunhão com Deus, da vida plena, da felicidade total. É, ainda, a imagem da “nova Jerusalém que desce do céu” que nos é apresentada. Na apresentação desta “nova Jerusalém”, domina o número “doze”: O número “doze” indica a totalidade do Povo de Deus - ela está fundada sobre os doze Apóstolos – testemunhas do “cordeiro” – mas integra a totalidade do Povo de Deus do Antigo e do Novo Testamento, conduzido à vida plena pela ação salvadora e libertadora de Cristo. As portas, viradas para os quatro pontos cardeais, indicam que todos os povos podem entrar e encontrar lugar nesse lugar de felicidade plena; a cidade inteira aparece, assim, como um Templo dedicado a Deus, onde Deus reside de forma permanente no meio do seu Povo.

Nesse lugar de vida plena, o homem não terá necessidade de mediações, pois, viverá sempre na presença de Deus e encontrará Deus face a face. Diz-se ainda que toda a cidade estará banhada de luz: a luz indica a presença divina: Deus e o “cordeiro” serão a luz que ilumina esta comunidade de vida plena. Após a intervenção definitiva de Deus na história nascerá, então, essa nova “cidade” construída sobre o testemunho dos apóstolos; cidade de portas abertas, ela acolherá todos os homens que aderirem ao “cordeiro”; nela, eles encontrarão Deus e viverão na sua presença, recebendo a vida em plenitude.

No Evangelho, Jesus diz aos discípulos como irão se manter em comunhão com Ele e reafirma a sua presença e a sua assistência através do “paráclito” – o Espírito Santo. E para seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus e guardar a sua Palavra. Quem ama Jesus e O escuta, identifica-se com Ele, isto é, vive como Ele, na entrega da própria vida em favor de todos… Ora, viver nesta dinâmica é estar continuamente em comunhão com Jesus e com o Pai. O Pai e Jesus, que são um, estabelecerão a sua morada no discípulo; viverão juntos, na intimidade de uma nova família.

Para que os discípulos possam continuar a percorrer esse “caminho” no tempo da Igreja, o Pai enviará o “paráclito”, isto é, o Espírito Santo. A função do “paráclito” é “ensinar” e “recordar” tudo o que Jesus propôs. Trata-se, portanto, de uma presença dinâmica, que auxiliará os discípulos trazendo-lhes continuamente à memória os ensinamentos de Jesus e ajudando-os a ler as propostas de Jesus à luz dos novos desafios que o mundo lhes colocar. Assim, os que creem poderão continuar a percorrer, na história, o “caminho” de Jesus, numa fidelidade dinâmica às suas propostas. O Espírito garante, dessa forma, que os que creem possam continuar a percorrer esse “caminho” de amor e de entrega, unido a Jesus e ao Pai. A comunidade cristã e cada homem e mulher tornam-se a morada de Deus: esta ação revela-se o Deus libertador, que reside na comunidade e no coração de cada pessoa e que tem um projeto de salvação para cada homem e mulher.

A última parte do texto que nos é proposto contém a promessa da “paz”. Desejar a “paz” - “shalom” - era a saudação habitual à chegada e à partida. No entanto, neste contexto, a saudação não é uma despedida trivial – “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo”, pois, Jesus não vai estar ausente. O que Jesus pretende é inculcar nos discípulos apreensivos a serenidade e evitar-lhes o temor. São palavras destinadas a tranquilizar os discípulos e a assegurar-lhes que os acontecimentos que se aproximam não porão fim à relação entre Jesus e a sua comunidade. As últimas palavras referidas por este texto sublinham que a ausência de Jesus não é definitiva, nem sequer prolongada. Desta forma, os discípulos devem alegrar-se, pois, a morte não é uma tragédia sem sentido, mas a manifestação suprema do amor de Jesus pelo Pai e por todos nós.

Diante da missão deixada, Jesus faz a promessa de enviar o Espírito Santo como aquele que vai “ensinar todas essas coisas”. Ele fará a memória de suas palavras. Assim, como vimos a palavra aparece no Evangelho como elemento central da mensagem: palavra criadora, que ensina, que orienta, que envia para a missão.

Palavra de esperança, que faz promessa. Palavra reveladora e transformadora. A transformação do mundo se dá pela palavra. É ela que comunica a vontade do Pai. Trata-se de uma palavra de ânimo e de paz. Palavra que menciona a uma realidade presente e a uma realidade por vir. O Evangelho tem uma função catequética: demonstrar a unidade entre o Pai, o Filho e o Espírito. Chama-nos à vivência do amor e ao testemunho; a viver e testemunhar as palavras de Jesus, “palavra que vem do Pai”, encoraja-nos para a missão; é promessa de envio do Espírito e da volta de Jesus; deseja-nos a paz. A paz deixada por Jesus é a paz que brota do cuidado à vida.  Então, esta vivência e testemunho se constituem numa relação de amor: amor a Deus e amor de Deus. Amar a Jesus e ao Pai é tornar-se morada, templo de Deus. E para seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus, guardar a sua Palavra e colocar-se a caminho da vida. Coloquemo-nos, pois, a caminho, confiantes na vitória de Jesus. Assim seja! Amém.

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