Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo,
vivendo a alegria Pascal, sobressai a promessa de Jesus de acompanhar de forma
permanente a caminhada da sua comunidade em marcha pela história: não estamos
sozinhos; Jesus ressuscitado vai sempre ao nosso lado.
A primeira leitura
apresenta-nos a Igreja de Jesus a confrontar-se com os desafios dos novos
tempos. Animados pelo Espírito, os que creem aprendem a discernir o essencial
do acessório e atualizam a proposta central do Evangelho, de forma que a
mensagem libertadora de Jesus possa ser acolhida por todos os povos.
Este texto
apresenta-nos a reunião dos dirigentes e animadores das comunidades, conhecida
como “concílio apostólico” ou “concílio de Jerusalém”. Essa assembleia vai,
pois, discutir o que é essencial na proposta cristã, que devia ser incluído no
núcleo fundamental da pregação e o que podia ser dispensado, não constituindo
uma verdade fundamental da fé cristã. Neste sentido, a Igreja nascente: o
cristianismo cortou o cordão umbilical com o judaísmo e, agora pode ser uma
proposta universal de salvação, aberta a todos, de todas as raças e culturas,
pois, só o Cristo basta.
Na segunda leitura,
apresenta-se mais uma vez a meta final da caminhada da Igreja: a “Jerusalém
messiânica”, essa cidade nova da comunhão com Deus, da vida plena, da
felicidade total. É, ainda, a imagem da “nova Jerusalém que desce do céu” que
nos é apresentada. Na apresentação desta “nova Jerusalém”, domina o número
“doze”: O número “doze” indica a totalidade do Povo de Deus - ela está fundada
sobre os doze Apóstolos – testemunhas do “cordeiro” – mas integra a totalidade
do Povo de Deus do Antigo e do Novo Testamento, conduzido à vida plena pela ação
salvadora e libertadora de Cristo. As portas, viradas para os quatro pontos
cardeais, indicam que todos os povos podem entrar e encontrar lugar nesse lugar
de felicidade plena; a cidade inteira aparece, assim, como um Templo dedicado a
Deus, onde Deus reside de forma permanente no meio do seu Povo.
Nesse lugar de vida
plena, o homem não terá necessidade de mediações, pois, viverá sempre na
presença de Deus e encontrará Deus face a face. Diz-se ainda que toda a cidade
estará banhada de luz: a luz indica a presença divina: Deus e o “cordeiro”
serão a luz que ilumina esta comunidade de vida plena. Após a intervenção
definitiva de Deus na história nascerá, então, essa nova “cidade” construída
sobre o testemunho dos apóstolos; cidade de portas abertas, ela acolherá todos
os homens que aderirem ao “cordeiro”; nela, eles encontrarão Deus e viverão na
sua presença, recebendo a vida em plenitude.
No Evangelho, Jesus diz
aos discípulos como irão se manter em comunhão com Ele e reafirma a sua
presença e a sua assistência através do “paráclito” – o Espírito Santo. E para
seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus e guardar a sua Palavra. Quem ama
Jesus e O escuta, identifica-se com Ele, isto é, vive como Ele, na entrega da
própria vida em favor de todos… Ora, viver nesta dinâmica é estar continuamente
em comunhão com Jesus e com o Pai. O Pai e Jesus, que são um, estabelecerão a
sua morada no discípulo; viverão juntos, na intimidade de uma nova família.
Para que os discípulos
possam continuar a percorrer esse “caminho” no tempo da Igreja, o Pai enviará o
“paráclito”, isto é, o Espírito Santo. A função do “paráclito” é “ensinar” e
“recordar” tudo o que Jesus propôs. Trata-se, portanto, de uma presença
dinâmica, que auxiliará os discípulos trazendo-lhes continuamente à memória os
ensinamentos de Jesus e ajudando-os a ler as propostas de Jesus à luz dos novos
desafios que o mundo lhes colocar. Assim, os que creem poderão continuar a
percorrer, na história, o “caminho” de Jesus, numa fidelidade dinâmica às suas
propostas. O Espírito garante, dessa forma, que os que creem possam continuar a
percorrer esse “caminho” de amor e de entrega, unido a Jesus e ao Pai. A
comunidade cristã e cada homem e mulher tornam-se a morada de Deus: esta ação
revela-se o Deus libertador, que reside na comunidade e no coração de cada
pessoa e que tem um projeto de salvação para cada homem e mulher.
A última parte do texto
que nos é proposto contém a promessa da “paz”. Desejar a “paz” - “shalom” - era
a saudação habitual à chegada e à partida. No entanto, neste contexto, a saudação
não é uma despedida trivial – “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a
dou como o mundo”, pois, Jesus não vai estar ausente. O que Jesus pretende é
inculcar nos discípulos apreensivos a serenidade e evitar-lhes o temor. São
palavras destinadas a tranquilizar os discípulos e a assegurar-lhes que os
acontecimentos que se aproximam não porão fim à relação entre Jesus e a sua
comunidade. As últimas palavras referidas por este texto sublinham que a
ausência de Jesus não é definitiva, nem sequer prolongada. Desta forma, os
discípulos devem alegrar-se, pois, a morte não é uma tragédia sem sentido, mas
a manifestação suprema do amor de Jesus pelo Pai e por todos nós.
Diante da missão
deixada, Jesus faz a promessa de enviar o Espírito Santo como aquele que vai
“ensinar todas essas coisas”. Ele fará a memória de suas palavras. Assim, como
vimos a palavra aparece no Evangelho como elemento central da mensagem: palavra
criadora, que ensina, que orienta, que envia para a missão.
Palavra de esperança,
que faz promessa. Palavra reveladora e transformadora. A transformação do mundo
se dá pela palavra. É ela que comunica a vontade do Pai. Trata-se de uma
palavra de ânimo e de paz. Palavra que menciona a uma realidade presente e a
uma realidade por vir. O Evangelho tem uma função catequética: demonstrar a
unidade entre o Pai, o Filho e o Espírito. Chama-nos à vivência do amor e ao
testemunho; a viver e testemunhar as palavras de Jesus, “palavra que vem do
Pai”, encoraja-nos para a missão; é promessa de envio do Espírito e da volta de
Jesus; deseja-nos a paz. A paz deixada por Jesus é a paz que brota do cuidado à
vida. Então, esta vivência e testemunho se
constituem numa relação de amor: amor a Deus e amor de Deus. Amar a Jesus e ao
Pai é tornar-se morada, templo de Deus. E para seguir esse “caminho” é preciso
amar Jesus, guardar a sua Palavra e colocar-se a caminho da vida. Coloquemo-nos,
pois, a caminho, confiantes na vitória de Jesus. Assim seja! Amém.
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