Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo,
terceiro Domingo do Tempo Pascal recorda-nos que a comunidade cristã tem por
missão testemunhar e concretizar o projeto libertador que Jesus iniciou; e que
Jesus, vivo e ressuscitado, acompanhará sempre a sua Igreja em missão, vivificando-a
com a sua presença e orientando-a com a sua Palavra.
A primeira leitura
apresenta-nos o testemunho que a comunidade de Jerusalém dá de Jesus
ressuscitado. Embora o mundo se oponha ao projeto libertador de Jesus
testemunhado pelos discípulos, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos
homens.
A questão principal
gira em torno do confronto entre o cristianismo nascente e as autoridades
judaicas. A frase de Pedro “deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens”
deve ser vista como o tema central; define a atitude que os cristãos são
convidados a assumir diante da oposição do mundo. Pois, se Jesus encontrou
oponentes e morreu na cruz, é natural que os apóstolos, fiéis a Jesus e ao seu
projeto, se defrontem com a oposição desses mesmos que mataram Jesus. No
entanto, os verdadeiros seguidores do projeto de Jesus – animados pelo Espírito
– estão mais preocupados com a fidelidade ao “caminho” de Jesus do que às
ordens ou interesses dos homens – mesmo que sejam os que mandam no mundo.
A segunda leitura
apresenta Jesus, o “cordeiro” imolado que venceu a morte e que trouxe aos
homens a libertação definitiva; em contexto litúrgico, o autor põe a criação
inteira a manifestar diante do “cordeiro” vitorioso a sua alegria e o seu
louvor. É a plenitude do mistério de imolação, de libertação e de vitória
régia, que corresponde a Cristo morto, ressuscitado e glorificado.
O “cordeiro” - Cristo é
entronizado: ele assumiu a realeza e sentou-se no próprio trono de Deus. Aí,
recebe todo o poder e glória divina. A entronização régia de Cristo, ponto
culminante da aventura divino-humana de Jesus, desencadeia uma verdadeira
torrente de louvores: dos viventes, dos anciãos e dos anjos. E todas as
criaturas, em todos os lugares da terra, juntam a sua voz ao louvor. O Templo
onde ressoam estas incessantes aclamações alargou as suas fronteiras e tem,
agora, as dimensões do mundo. É uma liturgia cósmica, na qual a criação inteira
celebra o Cristo imolado, ressuscitado, vencedor e faz dele o centro do
“cosmos”.
O Evangelho apresenta
os discípulos em missão, continuando o projeto libertador de Jesus; mas avisa
que a ação dos discípulos só será coroada de êxito se eles souberem reconhecer
o Ressuscitado junto deles e se deixarem guiar pela sua Palavra.
Em sua primeira parte é
uma parábola sobre a missão da comunidade. Começa por apresentar os discípulos:
são sete. Representam a totalidade “sete” da Igreja, empenhada na missão e
aberta a todas as nações e a todos os povos.
Esta comunidade é
apresentada a pescar: sob a imagem da pesca, os evangelhos representam a missão
que Jesus confia aos discípulos: libertar todos – homens e mulheres - que vivem
mergulhados no mar do sofrimento e da escravidão. Pedro preside à missão: é ele
que toma a iniciativa; os outros seguem-no incondicionalmente. Aqui faz-se
referência ao lugar proeminente que Pedro ocupava na animação da Igreja
primitiva.
A pesca é feita durante
a noite. A noite é o tempo das trevas, da escuridão: significa a ausência de
Jesus - “enquanto é de dia, temos de trabalhar, realizando as obras daquele que
Me enviou: aproxima-se a noite, quando ninguém pode trabalhar; enquanto Eu
estou no mundo, sou a luz do mundo”. O resultado da ação dos discípulos - de noite, sem Jesus é um fracasso - “sem Mim,
nada podeis fazer”.
A chegada da manhã - da
luz - coincide com a presença de Jesus - Ele é a luz do mundo. Jesus não está
com eles no barco, mas sim em terra: Ele não acompanha os discípulos na pesca;
a sua ação no mundo exerce-se por meio dos discípulos.
Concentrados no seu
esforço, os discípulos nem reconhecem Jesus quando Ele Se apresenta. O grupo
está desorientado e decepcionado pelo fracasso, posto em evidência pela
pergunta de Jesus - “tendes alguma coisa de comer?”. Mas Jesus dá-lhes
indicações e as redes enchem-se de peixes: o fruto deve-se à docilidade com que
os discípulos seguem as indicações de Jesus. Acentua-se que o êxito da missão
não se deve ao esforço humano, mas sim à presença viva e à Palavra do Senhor
ressuscitado.
O surpreendente
resultado da pesca faz com que um discípulo o reconheça. Este discípulo – o
discípulo amado – é aquele que está sempre próximo de Jesus, em sintonia com
Jesus e que faz, de forma intensa, a experiência do amor de Jesus: só quem faz
essa experiência é capaz de ler os sinais que identificam Jesus e perceber a sua
presença por detrás da vida que brota da ação da comunidade em missão.
Os pães com que Jesus
acolhe os discípulos em terra são um sinal do amor, do serviço, da solicitude
de Jesus pela sua comunidade em missão no mundo: é uma alusão à Eucaristia, ao
pão que Jesus oferece, à vida com que Ele continua a alimentar a comunidade em
missão.
O número dos peixes
apanhados na rede – 153 - é de difícil explicação. É um número triangular, que
resulta da soma dos números um a dezessete. O número dezessete não é um número
bíblico… Mas o dez e o sete são: ambos simbolizam a plenitude e a
universalidade. Outra explicação é que segundo, os naturalistas antigos
distinguiam 153 espécies de peixes: assim, o número faria alusão à totalidade
da humanidade, reunida na mesma Igreja. Em qualquer caso, significa totalidade
e universalidade.
Na segunda parte do
texto, Pedro confessa por três vezes o seu amor a Jesus - durante a paixão, o
mesmo discípulo negou Jesus por três vezes, recusando dessa forma “embarcar”
com o “mestre” na aventura do amor que se faz do. Pedro – recordemo-lo – foi o
discípulo que, na última ceia, recusou que Jesus lhe lavasse os pés porque,
para ele, o Messias devia ser um rei poderoso, dominador, e não um rei de
serviço e de dom da vida. Nessa altura, ao raciocinar em termos de
superioridade e de autoridade, Pedro mostrou que ainda não percebera que a lei
suprema da comunidade de Jesus é o amor total, o amor que se faz serviço e que
vai até à entrega da vida. Jesus disse claramente a Pedro que quem tem uma
mentalidade de domínio e de autoridade não tem lugar na comunidade cristã.
A tríplice confissão de
amor pedida a Pedro por Jesus corresponde, portanto, a um convite a que ele
mude definitivamente a mentalidade. Pedro é convidado a perceber que, na
comunidade de Jesus, o valor fundamental é o amor; não existe verdadeira adesão
a Jesus, se não se estiver disposto a seguir esse caminho de amor e de entrega
da vida que Jesus percorreu.
Ao mesmo tempo, Jesus
confia a Pedro a missão de presidir à comunidade e de animar; mas convida-o
também a perceber onde é que reside, na comunidade cristã, a verdadeira fonte
da autoridade: só quem ama muito e aceita a lógica do serviço e da doação da
vida poderá presidir à comunidade de Jesus.
É com base nesse amor
total e incondicional que se torna concreta e frutífera a execução da missão. A
missão é explicitada através da ordem de apascentar. As ovelhas e os cordeiros
a serem apascentados, porém, não pertencem a Pedro, e sim a Jesus que ofereceu
a própria vida em prol delas, a fim de reuni-las e protegê-las de quem as quer
dispersar. Contudo, a Pedro também é pedido que ofereça a vida em prol do
rebanho que Jesus lhe confiou, por isso adquire um sentido mais claro o convite
para segui-lo no trabalho de apascentar o rebanho e morrer por Ele. Pois, só
assim Pedro poderá “seguir Jesus”. Assim seja! Amém.
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