domingo, 3 de fevereiro de 2013

Sejamos profetas, anunciando Cristo Jesus



Irmãos e irmãs,
Em comunidade de fé, celebramos a nossa páscoa dominical, renovando nossa adesão a Jesus Cristo e sempre mais nos revestindo dele e da sua graça.

A primeira leitura fala da vocação de Jeremias. Deus, prevendo as dificuldades que enfrentaria, exorta-o a permanecer firme, como uma coluna de ferro, como uma muralha de bronze. Tudo leva a crer que, apesar de ser muito jovem, percebe o chamado de Deus para ser profeta. Aliás, assim ele ouve a Palavra do Senhor: “Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já te conhecia, antes de saíres do ventre, eu te consagrei e te fiz profeta para as nações”.
Deus o escolheu para uma missão difícil e arriscada: anunciar a sua Palavra aos reis, aos governadores, aos sacerdotes e a todo o povo. Por isso, sua vida será uma sequência de fracassos. É estranha a vida do profeta! É mais do que estranha: É dolorosa e desafiadora, - bem o sabemos – são sempre colocados à margem. Quem poderá confirmar tudo são os “próprios profetas de ontem”, e os que ainda são vivíssimos hoje e sempre no coração de todos nós: Jesus Cristo, Dom Helder, Dom Oscar Romero, Pe. Josimo, e tantos leigos e leigas, cujos nomes, propositalmente nem sempre aparecem. “Quando dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Quando mostro que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo” (Dom Helder Câmara).
Mas por que é assim? Porque o profeta contempla o mundo, morada de Deus, com os olhos de Deus. A sua sensibilidade é semelhante ao coração de Deus. Ele sente quando o projeto divino é afrontado e negado pelo projeto dos homens, vencendo, portanto, a morte sobre a vida. Então não consegue mais conter a sua indignação, não pode mais calar-se.  Porém, permanece palavras de esperança e o conforto do Pai, pois, assim diz o Senhor: “Serás atacado, mas não conseguirão vencer-te, pois estarei ao teu lado para proteger-te”.
A segunda leitura fala do carisma do amor. Recomenda o apóstolo São Paulo: “Aspirai aos dons mais elevados”, o dom do amor. Como batizados, por isso, cristãos, somo profetas e, mais, chamados a acolher a salvação como dom de Deus, salvação disponibilizada a todos e a todas.
Conforme já foi visto na leitura do domingo próximo passado, em Corinto havia discórdias e invejas por causa dos carismas. Depois de ter afirmado que todos os dons provêm do Espírito e se destinam a edificação da comunidade, o Apóstolo Paulo indica para os cristãos um caminho: a caridade. O que ele nos quer ensinar é que alguém pode ser dotado de excelentes qualidades, tomar retumbantes iniciativas; mas se não for movido pelo amor totalmente gratuito e desinteressado, se for dominado pela vaidade e pelo desejo de promover a si mesmo, não possui a “caridade”.

No Evangelho de hoje, Lucas nos apresenta Jesus, o profeta martirizado, do qual celebramos a prática libertadora e a vitória sobre a morte. Por isso, é impossível que se entenda celebrar a Eucaristia sem a consciência devida a respeito da adesão a Jesus, o profeta rejeitado e morto. Caso contrário, seria pura alienação. Ou seja, se não há a devida consciência de que somos interpelados pelo Espírito a um envolvimento com o projeto libertador, em prol de tudo aquilo que promove a justiça, descaracterizamos o sentido pleno da Eucaristia.
Estamos na sequência do episódio que a liturgia de domingo passado nos apresentou. Jesus foi a Nazaré, entrou na sinagoga, foi convidado a ler um trecho dos Profetas e a fazer o respectivo comentário… Leu uma citação de Is 61,1-2 e “atualizou-o”, aplicando o que o profeta dizia, a Si próprio e à sua missão: “cumpriu-se hoje mesmo este trecho da Escritura que acabais de ouvir”. O Evangelho de hoje apresenta a reação dos habitantes de Nazaré à ação e às palavras de Jesus.
“E a evocação dos fatos tirados do ciclo de Elias e Eliseu estabelece um paralelo entre Israel e Nazaré. Nazaré passa a ser o protótipo da rejeição de Jesus por Israel”. Jesus é um profeta, sim, não somente porque ele sabe-se enviado, mas porque é rejeitado. Eis o critério que permite verificar a autenticidade de sua vocação: “... nenhum profeta é aceito na sua própria terra”. O povo de Nazaré se perde, perdendo para sempre a possibilidade de estar em contato com o libertador e salvador, excluindo-se do “hoje” do Deus que age na história.
“Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”. Os habitantes de Nazaré julgam conhecer Jesus, viram-n’O crescer, sabem identificar a sua família e os seus amigos mas, na realidade, não perceberam a profundidade do seu mistério. Trata-se de um conhecimento superficial, teórico, que não leva a uma verdadeira adesão à proposta de Jesus. Na realidade, é uma situação que pode não nos ser totalmente estranha: lidamos todos os dias com Jesus, somos capazes de falar algumas horas sobre Ele; mas a sua proposta tem impacto em nós e transforma a nossa existência?
Rejeição a Jesus, por quê?  O primeiro motivo é a encarnação: “Não é este o filho de José?”.  O povo espera um messias espetacular, capaz de ações mágicas. O segundo motivo é a busca de milagre: “Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum”. Jesus se recusa a cumprir sinais em benefício próprio. Esta é a atitude de quem procura Jesus para ver o seu espetáculo ou para resolver os seus problemazinhos pessoais. Supõe a perspectiva de um Deus comerciante, de quem nos aproximamos para fazer negócio. Qual é o nosso Deus? O Deus de quem esperamos espetáculo em nosso favor, ou o Deus que em Jesus nos apresenta uma proposta séria de salvação que é preciso concretizar na vida do dia a dia?
O projeto de Jesus é libertar os oprimidos e marginalizados. No entanto, esse “caminho” não vai ser entendido e aceite pelo povo judeu (isto é, os “da sua terra”), que estão mais interessados num Messias milagreiro e espetacular. Os “seus” rejeitarão a proposta de Jesus e tentarão eliminá-l’O (anúncio da morte na cruz); mas a liberdade de Jesus vence os inimigos (alusão à ressurreição) e a evangelização segue o seu caminho (“passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”), até atingir os que estão verdadeiramente dispostos a acolher a salvação/libertação (alusão a Elias e Eliseu que se dirigiram aos pagãos porque o seu próprio povo não estava disponível para escutar a Palavra de Deus). Assim, a rejeição à Jesus e seu programa de vida começa em Nazaré e culmina em Jerusalém, onde ele é julgado por um tribunal iníquo, crucificado e morto, graças aos seus opositores.
Nazaré negou todas as possibilidades de acolher a libertação, recusando totalmente o Filho de Deus e seu Plano de Amor.  Mas quem disse que possível deter o processo de libertação? “Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho”.
Jesus não deixa ninguém indiferente. Os seus compatriotas admiram-se, espantam-se com o seu ensino, ficam furiosos, tentam expulsá-los da cidade… Mas é em Nazaré que Jesus inicia a sua pregação. As pessoas sabem quem Ele é, conhecem a sua profissão, a sua família, mas ignoram o seu mistério. Como poderiam imaginar que Ele vem de Deus, que é o Filho de Deus? É necessário o tempo de provação para que os seus olhos se abram, os olhos da fé postos à prova pela morte e ressurreição do seu compatriota. E, vemo-lo bem ao longo de todo o Evangelho, são aqueles que nunca ninguém imaginou que vão fazer ato de fé e beneficiar das palavras e dos gestos de salvação do Filho de Deus. Como os profetas Elias e Eliseu, Jesus manifesta que Deus ama todos os homens; a salvação que veio trazer é oferecida a toda a humanidade. Desta, sejamos profetas, anunciando sempre e em todo lugar a presença do Cristo Salvador. Assim seja! Amém.

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