domingo, 14 de outubro de 2012

Opção pelo Reino



Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, somos convidados a refletir sobre as escolhas que fazemos, pois, nem sempre o que reluz é ouro e que é preciso, por vezes, renunciar a certos valores perecíveis, a fim de adquirir os valores da vida verdadeira e eterna.

Na primeira leitura, um “sábio” de Israel apresenta-nos um “hino à sabedoria”. Assim, convida-nos a adquirir a verdadeira “sabedoria” que é um dom de Deus, e a prescindir dos valores efémeros que não realizam o homem. O verdadeiro “sábio” é aquele que escolheu escutar as propostas de Deus, aceitar os seus desafios, seguir os caminhos que Ele indica.
Para o rei, a “sabedoria” tornou-se o valor mais apreciado, superior ao poder, à riqueza, à saúde, à beleza, a todos os bens terrenos. Ela é a “luz” que indica caminhos e que permite discernir as opções corretas a tomar. É ela que lhe permite gozar os bens terrenos com maturidade e equilíbrio, sem obsessão e sem cobiça, colocando-os no seu devido lugar e não deixando que sejam eles a conduzir a sua vida e a ditar as suas opções. Ao contrário dos bens terrenos, ela não se extingue nem perde o brilho: é um valor duradouro, que vem de Deus e que conduz o homem ao encontro da vida verdadeira, da felicidade perene.

A segunda leitura convida-nos a escutar e a acolher a Palavra de Deus proposta por Jesus. Ela é viva, eficaz, atuante. Uma vez acolhida no coração do homem, transforma-o, renova-o, ajuda-o a discernir o bem e o mal e a fazer as opções corretas, indica-lhe o caminho certo para chegar à vida plena e definitiva.
A Palavra de Deus transmitida aos homens por Jesus não é um conjunto de frases ocas, vagas, estéreis, que se derramam sobre homens e mulheres, que “entram por um ouvido e saem por outro”, e que não têm impacto na vida daqueles que as escutam; mas é uma Palavra viva, atuante, transformadora e eficaz, que uma vez escutada, entra no coração como uma espada afiada e transforma os sentimentos, pensamentos, valores, as opções, as atitudes; confronta-se com a sinceridade das posições que assumimos, em nossa relação com Deus, com o mundo e com os outros…. A Palavra de Deus é uma força decisiva que enche a história e que traz a vida e a salvação para homens e mulheres.

No Evangelho, Marcos apresenta-nos um homem que quer conhecer o caminho para alcançar a vida eterna. Jesus convida-o renunciar às suas riquezas e a escolher “caminho do Reino” – caminho de partilha, de solidariedade, de doação, de amor. É nesse caminho – garante Jesus aos seus discípulos – que o homem se realiza plenamente e que encontra a vida eterna.
Desta forma, o relato de Marcos é uma catequese sobre as exigências do Reino e do seguimento de Jesus. Um homem ajoelha-se diante de Jesus e pergunta-Lhe o que tem de fazer para “alcançar a vida eterna”. Não se trata, desta vez, de alguém que vem questionar Jesus para O experimentar: a postura do homem, a sua atitude de respeito, denunciam-no como alguém sincero e bem-intencionado, realmente preocupado com essa questão vital que é a vida eterna.
A primeira resposta de Jesus não traz nada de novo e remete o homem para os mandamentos: “não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe”. De acordo com a catequese feita pelos mestres de Israel, quem vivesse de acordo com os mandamentos da Lei, receberia de Deus a vida eterna. O viver de acordo com as propostas de Deus é, também na perspectiva de Jesus, um primeiro patamar para chegar à vida eterna.
O homem explica, porém, que desde sempre a sua vida foi vivida em consonância com os mandamentos da Lei. É uma afirmação segura e serena, que o próprio Jesus não contesta. Jesus reconhece a sinceridade, a honestidade, a verdade da busca deste homem; por isso, olha para ele “com simpatia”  e resolve convidá-lo a subir a um outro patamar nesse caminho para a vida eterna: convida-o a integrar a comunidade do Reino.
Desta forma, Jesus aponta três elementos fundamentais que devem ser assumidos por quem quiser integrar a comunidade do Reino: não centrar a própria vida nos bens passageiros deste mundo, assumir a partilha e a solidariedade para com os irmãos mais pobres, seguir o próprio Jesus no seu caminho de amor e de entrega. Apesar de toda a sua boa vontade, o homem não está preparado para a exigência deste caminho e afasta-se triste. Então, Marcos explica que ele estava demasiado preso às suas riquezas e não estava disposto a renunciar a elas. Este homem é um piedoso observante da Lei; mas não tem coragem para renunciar às suas seguranças humanas, aos seus esquemas feitos, aos bens terrenos que lhe escravizam o coração. A sua incapacidade para assumir a lógica do dom, da partilha, do amor, da entrega, tornam-no inapto para o Reino. O Reino é incompatível com o egoísmo, com o fechamento em si próprio, com a lógica do “ter”, com a obsessão pelos bens deste mundo.
Portanto, o “caminho do Reino” é um caminho de despojamento de si próprio, que tem de ser percorrido no dom da vida, na partilha com os irmãos, na entrega por amor. Ora, quem não é capaz de renunciar aos bens passageiros deste mundo – ao dinheiro, ao sucesso, ao prestígio, às honras, aos privilégios, a tudo isso que prende homens e mulheres, e impede de dar-se aos irmãos – não pode integrar a comunidade do Reino. Não se trata apenas de uma dificuldade, mas de uma verdadeira impossibilidade, “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”, os bens do mundo impõem uma lógica de egoísmo, de fechamento, de escravidão que são incompatíveis com a adesão plena ao Reino e aos seus valores. O discípulo que quer integrar a comunidade do Reino deve estar sempre numa atitude radical de partilha, de solidariedade, de doação.
Neste sentido, face a esta exigência de radicalidade, os discípulos perguntam: “quem pode, então, salvar-se?”. Em resposta, Jesus pronuncia palavras de conforto, apresentando o poder de Deus como incomparavelmente maior do que a debilidade humana, “aos homens é impossível, mas não a Deus; porque a Deus tudo é possível” – . A ação de Deus – gratuita e misericordiosa – pode mudar o coração de homens e mulheres e fazê-lo acolher as exigências do Reino. É preciso, no entanto, que estejamos disponíveis para escutar Deus e para se deixar desafiar por Ele. Assim, os discípulos, pela voz de Pedro, recordam a Jesus que deixaram tudo para o seguir. A renúncia dos discípulos não é, contudo, uma renúncia que se justifica por si mesma e que tem valor em si mesma… Os discípulos de Jesus não escolhem a pobreza porque a pobreza, em si, é uma coisa boa; nem deixam as pessoas que amam pelo gosto de deixá-las… Quando os discípulos de Jesus renunciam a determinados valores, muitas vezes valores legítimos e importantes, é em vista de um bem maior – o seguimento de Jesus e o anúncio do Evangelho. Jesus confirma a validade desta opção e assegura aos discípulos que o caminho escolhido por eles não é um caminho de perda, de solidão, de morte, mas é um caminho de ganho, de comunhão, de vida.
Esta opção dos discípulos será sempre incompreendida e recusada pelo mundo. Por isso, os discípulos conhecerão também a perseguição e o sofrimento. As tribulações não são um drama imprevisto e sem sentido: os discípulos devem estar preparados para enfrentar, pois, sabem que terão sempre de viver com a oposição do mundo, enquanto se mantiverem fiéis a Jesus e ao Evangelho. Aconteça o que acontecer, os discípulos devem estar conscientes de que a opção pelo Reino e pelos seus valores lhes garantirá uma vida cheia e feliz nesta terra e, no mundo futuro, a vida eterna. Assim seja! Amém.

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