Irmãos
e irmãs,
Neste
Santo Domingo, Deus assegura-nos que está empenhado em oferecer ao seu Povo o
alimento que dá a vida eterna e definitiva, Jesus, o Pão do Céu.
A
primeira leitura do livro do Êxodo dá-nos conta da preocupação de Deus em
oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. Assim, a ação
de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo;
mas pretende principalmente ajudar ao Povo a crescer, a amadurecer, a superar
mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar
consciência de outros valores, a entregar em suas mãos, a não duvidar do seu
amor e fidelidade.
Este
episódio começa com a murmuração do Povo “contra Moisés e contra Aarão”. Por
estranho que pareça, Israel sente saudades do tempo em que passou no Egito,
pois, apesar da escravidão, estava sentado “ao pé de panelas de carne” e comia
“pão com fartura”. É um Povo que ainda não aprendeu a confiar no seu Deus, a
segui-lo de olhos fechados, a responder sem hesitações às suas propostas, a
segui-l’O incondicionalmente no caminho da fé. A resposta de Deus é “fazer chover
pão do céu” e dar ao Povo carne em abundância. E Deus apenas dava ao Povo a
quantidade de maná necessária “para cada dia” é uma bonita lição sobre
desprendimento e confiança em Deus. Ensina o Povo a não acumular bens, a não
viver para o “ter”, a libertar o coração da ganância e do desejo de possuir
sempre mais, a não viver angustiado com o futuro e com o dia de amanhã; ensina,
também, a confiar em Deus, a entregar-se serenamente nas suas mãos, a vê-l’O
como verdadeira fonte de vida.
A
segunda leitura da Carta de Paulo aos Éfesos diz-nos que a adesão a Jesus
implica o deixar de ser homem velho e o passar a ser homem novo. Aquele que
aceita Jesus como o “pão” que dá vida e adere a Ele, passa a ser uma outra
pessoa. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer pessoa, uma
mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus,
face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo, para viver a verdade,
justiça e santidade.
Desta
forma, o Batismo – o momento da adesão a Cristo – é o momento decisivo da
transformação da pessoa. O próprio rito do Baptismo sugere a transformação e a
ressurreição para uma vida nova – a vida em Cristo. Assim, animado pelo
Espírito somos chamados a renovar cada dia a adesão a Cristo e a construir
nossa existência de forma coerente com os compromissos que assumimos no dia do
seu Batismo. A pessoa nova não é uma realidade adquirida de uma vez por todas,
no dia em que se optamos por Cristo; mas uma realidade contínua a fazer-se, que
exige um trabalho contínuo e uma constante renovação.
No
Evangelho, João apresenta-nos Jesus como o “pão” da vida que desceu do céu para
dar vida ao mundo. Aos que O seguem, Jesus pede que aceitem esse “pão” – isto
é, que escutem as palavras que Ele diz, que as acolham no seu coração, que aceitem
os seus valores, que aderem à sua proposta.
Aparentemente
vimos que a missão e a pregação de Jesus alcançou um êxito total: a multidão
está entusiasmada, procura Jesus e segue-O para todo o lado. Contudo, Jesus
percebe facilmente que a multidão está equivocada e que O procura pelas razões
erradas. Na verdade, a multiplicação dos pães e dos peixes pretendeu ser, por
parte de Jesus, uma lição sobre amor, partilha e serviço; mas a multidão não
foi sensível ao significado profundo do gesto, ficou-se pelas aparências e só
percebeu que Jesus podia oferecer-lhe, de forma gratuita, pão em abundância.
Assim, o fato de a multidão procurar Jesus e Se dirigir ao seu encontro não
significa que tenha aderido à sua proposta; significa, apenas, que viu em Jesus
um modo fácil e barato de resolver os seus problemas materiais.
Desta
forma, as palavras que Jesus dirige àqueles que O rodeiam põem o problema da
seguinte forma: eles não procuram Jesus, mas procuram a resolução dos seus
problemas materiais. Trata-se de uma procura interesseira e egoísta, que é
absolutamente contrária à mensagem que Jesus. Depois de identificar o problema,
Jesus deixa-lhes um aviso: é preciso esforçar-se por conseguir, não só o
alimento que mata a fome física, mas sobretudo o alimento que sacia a fome de
vida que todo o homem tem. A multidão, ao preocupar-se apenas com a procura do
alimento material, está a esquecer o essencial – o alimento que dá vida
definitiva. Esse alimento que dá a vida eterna é o próprio Jesus que o traz.
O
que é preciso fazer para receber esse pão? – pergunta-se a multidão. A resposta
de Jesus é clara: é preciso aderir a Jesus e ao seu projeto. Pois, na cena da
multiplicação dos pães, a multidão não aderiu ao projeto de Jesus, de amor,
partilha e serviço; apenas correu atrás do profeta milagreiro que distribuía
pão e peixes gratuitamente e em abundância… Mas, para receber o alimento que dá
vida eterna e definitiva, é preciso, que a multidão acolha as propostas de
Jesus e aceite viver no amor que se faz dom, na partilha daquilo que se tem com
os irmãos, no serviço simples e humilde aos outros homens. É acolhendo e
interiorizando esse “pão” que se adquire a vida que não acaba.
No
entanto, os interlocutores ainda não estavam convencidos de que esse “pão”
garanta a vida definitiva. Custa-lhes a aceitar que a vida eterna resulte do
amor, do serviço, da partilha. Então perguntam: O que é que garante que esse seja
um caminho verdadeiro para a vida definitiva? Qual a prova de que a realização
plena do homem passe pelo dom da própria vida aos demais? Porque é que Jesus
não faz como Moisés, que fez chover do céu o maná, não apenas para cinco mil
pessoas, mas para todo o Povo e de forma continuada – para provar que a
proposta que Ele faz é verdadeiramente uma proposta geradora de vida?
Jesus
assim os respondem: o maná foi um dom de Deus para saciar a fome material do
seu Povo; mas o maná não é esse “pão” que sacia a fome de vida eterna do homem.
Só Deus dá aos homens, de forma contínua, a vida eterna; e esse dom do Pai não
veio ao encontro dos homens através de Moisés, mas através de Jesus. Portanto,
o importante não é testemunhar gestos espetaculares, que deslumbram e
impressionam, mas não mudam nada; mas é acolher a proposta que Jesus faz e
vivê-la nos gestos simples de todos os dias. Pois, Jesus, é o próprio pão que
Deus quer oferecer ao seu Povo para lhe saciar a fome e a sede de vida.
“Comê-lo” será escutar a sua Palavra, acolher a sua proposta, assimilar os seus
valores, interiorizar o seu jeito de viver, fazer da vida, como Jesus fez, um
dom total de amor aos irmãos. Seguindo Jesus, acolhendo a sua proposta no
coração e deixando que ela se transforme em gestos concretos de amor, de
partilha, de serviço, encontraremos a vida leva à realização plena, à vida
eterna.
É
o Pai que dá o verdadeiro pão do céu, o pão que dá vida ao mundo. E este pão é
Jesus. Os que o ouvem se sensibilizam de modo semelhante à samaritana quando
Jesus oferece a fonte d'água da qual quem beber nunca mais terá sede. Pedem desse
pão para sempre. É Jesus que alimenta a vida eterna em nós por sua palavra, seu
amor e seu testemunho. Alimentar-se de Jesus significa acolhê-lo como o Senhor
de nossa própria existência. E isto resultará numa espécie de identificação da
vida do discípulo com a do Mestre, passando por um processo de transformação. O
parâmetro da ação do discípulo será o amor e a solidariedade. Os pobres e
marginalizados serão objeto privilegiado de sua atenção. Por estar radicado em
Deus, será livre para servir ao próximo, sem qualquer distinção. Este modo de
viver terá como desfecho a vida eterna. É a obra de Jesus em nós. No pão está
representado o alimento e toda a necessidade de sobrevivência. Na oração do
pai-nosso está presente o pedido do pão "nosso" de cada dia, para
todos. A alusão ao trabalho pelo alimento que perece remete ao sentido limitado
da busca da saciedade individual. Na montanha todos comeram, ficaram saciados e
queriam fazer Jesus rei. O trabalho pelo alimento que permanece até a vida
eterna é a obra de Deus. É crer e seguir Jesus, na solidariedade e na comunhão
de vida, particularmente com os mais necessitados. Pedindo um milagre como o do
maná do deserto, a multidão impõe condições para aceitar Jesus. Mas o desejo da
multidão fica sem efeito, se ela não se compromete com Jesus, o pão da vida que
dura para sempre.
Jesus
se dá no pão e, cada vez que somos alimentos por Ele, na Palavra e na
Eucaristia, nossa existência torna-se plena e, por conseguinte, comprometimentos com a obra do Pai. Que o Pai, faz-nos buscar sempre o alimento imperecível, teu
Filho Jesus Eucarístico, pão da vida, pão do céu, que dá vida eterna e verdadeira. Assim seja! Amém.
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