domingo, 7 de agosto de 2016

Espera ativa pelo Reino


Irmãos e irmãs,
Neste Santo Domingo, a Palavra de Deus convida-nos à vigilância: o verdadeiro discípulo não vive de braços cruzados, numa existência de comodismo e resignação, mas está sempre atento e disponível para acolher o Senhor, para escutar os seus apelos e para construir o “Reino”.

A primeira leitura apresenta-nos as palavras de um “sábio” anônimo, para quem só a atenção aos valores de Deus gera vida e felicidade. A comunidade israelita – confrontada com um mundo pagão e imoral, que questiona os valores sobre os quais se constrói a comunidade do Povo de Deus – deve, portanto, ser uma comunidade “vigilante”, que consegue discernir entre os valores efêmeros e os valores duradouros, trata-se de eu saber o que quero, de ter idéias claras quanto ao sentido da minha vida e de, em cada instante, atuar em conformidade. 
A leitura chama a atenção para a diferença que há entre o viver de acordo com os valores da fé e o viver de acordo com propostas quiméricas de felicidade e de bem-estar… O “sábio” que nos fala assegura que só a fidelidade aos caminhos de Deus gera vida e libertação. 

A segunda leitura apresenta Abraão e Sara, modelos de fé para os que creem em todas as épocas. Atentos aos apelos de Deus, empenhados em responder aos seus desafios, conseguiram descobrir os bens futuros nas limitações e na caducidade da vida presente. É essa atitude que o autor da Carta aos Hebreus recomenda a todos (as).
É precisamente nos exemplos que o autor da carta quer propor aos cristãos que vivam na fé, esperando a concretização dos dons futuros que Deus vos reserva e caminhem pela vida como peregrinos, sem desanimar, de olhos postos na pátria definitiva.
O cristão deve ser o homem da serenidade e da paz; ele sabe que a sua existência não se conduz ao sabor das marés, mas que o sentido da vida está para além dos êxitos ou dos fracassos que o dia a dia traz. Guiado pela fé, ele tem sempre diante dos olhos essas realidades últimas, que dão sentido pleno àquilo que aqui acontece.

O Evangelho apresenta uma catequese sobre a vigilância. Propõe aos discípulos de todas as épocas uma atitude de espera serena e atenta do Senhor, que vem ao nosso encontro para nos libertar e para nos inserir numa dinâmica de comunhão com Deus. O verdadeiro discípulo é aquele que está sempre preparado para acolher os dons de Deus, para responder aos seus apelos e para se empenhar na construção do “Reino”.
O nosso texto começa com uma referência ao “verdadeiro tesouro” que os discípulos devem procurar e que não está nos bens deste mundo: trata-se do “Reino” e dos seus valores. A questão fundamental é: como descobrir e guardar esse “tesouro”? A resposta é dada em três quadros ou “parábolas”, que apelam à vigilância.
A primeira parábola convida a ter os rins cingidos e as lâmpadas acesas, como homens que esperam o senhor que volta da sua festa de casamento. Os que creem são, assim, convidados a estarem preparados para acolher a libertação que Jesus veio trazer e que os levará da terra da escravidão para a terra da liberdade; e são também convidados a acolherem “o noivo”, Jesus, que veio propor à “noiva”, os homens, a comunhão plena com Deus, a “nova aliança”. 
A segunda parábola aponta para a incerteza da hora em que o Senhor virá. A imagem do ladrão que chega a qualquer hora, sem ser esperado, é uma imagem estranha para falar de Deus; mas é uma imagem sugestiva para mostrar que o discípulo fiel é aquele que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem.
A terceira parábola dirige-se aos animadores da comunidade cristã, que devem permanecer fiéis às suas tarefas de animação e de serviço: se algum deles descuida as suas responsabilidades no serviço aos irmãos e usa as funções que lhe foram confiadas de forma negligente ou em benefício próprio, será castigado. Nos dois últimos versículos, o castigo diversifica-se de acordo o tipo de desobediência: os que desobedeceram intencionalmente serão mais castigados; os que desobedeceram não intencionalmente serão menos castigados. Sublinha-se maior responsabilidade daqueles que, na Igreja, desempenham funções de responsabilidade… A última afirmação: “a quem muito foi dado, muito será exigido, a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá, é claramente dirigida aos responsáveis da comunidade; mas pode aplicar-se a todos os que receberam dons materiais ou espirituais.
Assim, a Palavra de Deus que hoje nos é proposta contém uma interpelação especial a todos aqueles que desempenham funções de responsabilidade, quer na Igreja, no governo, nas autarquias, nas empresas, nas repartições… Convida cada um a assumir as suas responsabilidades e a desempenhar, com atenção e empenho as funções que lhe foram confiadas. A todos aqueles a quem foi confiado o serviço da autoridade, a Palavra de Deus pergunta sobre o modo como nos comportamos: como servos que, com humildade e simplicidade cumprem as tarefas que lhes foram confiadas, ou como ditadores que manipulam os outros ao seu bel-prazer? Estamos atentos às necessidades – sobretudo dos pobres, dos pequenos e dos débeis – ou instalamo-nos no egoísmo e no comodismo e deixamos que as coisas se arrastem, sem entusiasmo, sem vida, sem desafios, sem esperança?
A vida dos discípulos de Jesus tem de ser uma espera vigilante e atenta, pois, o Senhor está permanentemente a vir ao nosso encontro e a desafiar-nos para nos despirmos das cadeias que nos escravizam e para percorrermos, com Ele, o caminho da libertação. Ser cristão não é um trabalho “das nove as cinco”, ou um “hobby” de fim-de-semana; mas é um compromisso a tempo inteiro, que deve marcar cada pensamento, cada atitude, cada opção, vinte e quatro horas por dia… 
Decididamente, Jesus não Se cansa de chamar os seus discípulos a uma vida de pobreza. A verdadeira pobreza consiste em reconhecer a ligação de dependência no amor e na vida. Dito de outro modo, somos convidados a nunca esquecer que tudo o que temos e somos é sempre, antes de mais, um dom. Não somos proprietários da vida. Dela temos apenas usufruto. O nosso Pai confia-nos a vida, para que a façamos frutificar em aventura de amor e abrir o nosso coração para aprender sem cessar a receber e podermos, por nossa vez, doar. 
Há felicidade em receber… Se Jesus declara felizes os servidores que esperam para estarem prontos para servir, é porque vão beneficiar de um privilégio extraordinário: em lugar de servir, vão ser servidos, e logo pelo seu Mestre. O fato de esperar muda totalmente a situação. Jesus recomenda para se vigiar porque é uma atitude daquele que espera. A sua felicidade depende da sua espera ativa pelo Reino em encontrar o verdadeiro tesouro no mundo e na Casa do Pai. Assim seja! Amém.

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