domingo, 26 de junho de 2016

Feito para o Reino!


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo sugere que Deus conta conosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do “Reino”.

A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para atuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu, discípulo de Elias, é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projetos que Deus tem para ele.
O gesto de Eliseu significa, o abandono da vida antiga, a renúncia à antiga profissão, a ruptura com a própria família e a entrega total à missão profética. Exprime a radicalidade da sua entrega ao serviço de Deus.
É preciso ter em conta que, muitas vezes, o desafio de Deus nos chega através da palavra ou da interpelação de um irmão; e que, muitas vezes, é preciso contar com o apoio de alguém para discernir o caminho e ser capaz de enfrentar os desafios da vocação.
O relato da “vocação” de Eliseu não é o relato de uma situação excepcional, que só acontece a alguns privilegiados, eleitos entre todos por Deus para uma missão no mundo; mas é a história de cada um de nós e dos apelos que Deus nos faz, no sentido de nos disponibilizarmos para a missão que Ele nos quer confiar, quer no mundo, quer na nossa comunidade cristã. 

A segunda leitura diz ao “discípulo” que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.
Para Paulo, a verdadeira liberdade consiste em viver no amor. O que nos escraviza nos limita e nos impede de alcançar a vida em plenitude, “salvação”, é o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência; mas superar esse fechamento em nós próprios e fazer da nossa vida um dom de amor torna-nos verdadeiramente livres. Só é autenticamente livre aquele que se libertou de si próprio e vive para se dar aos outros. Assim, falar de uma comunidade formada por pessoas livres em Cristo implica falar de uma comunidade voltada para o amor, para a partilha, para as necessidades e carências dos irmãos que estão à sua volta. 

O Evangelho apresenta o “caminho do discípulo” como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao “Reino”. Sugere, também, que esse “caminho” deve ser percorrido no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
Na primeira parte do texto, Lucas apresenta a lição de Jesus ao longo desta “caminhada” que vai para a atitude que os discípulos devem assumir face ao “ódio” do mundo. Que fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face à proposta de Jesus? Tiago e João pretendem uma resposta agressiva, que retribua na mesma moeda, face à hostilidade manifestada pelos samaritanos; mas Jesus avisa-os que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da força, pela resposta violenta, pela prepotência, no seu horizonte próximo continua a estar apenas a cruz e a entrega da vida por amor: é no dom da vida e não na prepotência e na morte que se realizará a sua missão. Isto é algo que os discípulos nunca devem esquecer, se estão interessados em percorrer o “caminho” de Jesus.
Jesus recusa, liminarmente, responder à oposição e à hostilidade do mundo com qualquer atitude de violência, de agressividade, de vingança. No entanto, a Igreja de Jesus, na sua caminhada histórica, tem trilhado caminhos de violência, de fanatismo, de intolerância: as cruzadas, as conversões à força, os julgamentos da “santa” Inquisição, as exigências que criam em tantas consciências escravidão e sofrimento… Diante disto, resta-nos reconhecer que, infelizmente, nem sempre vivemos na fidelidade aos caminhos de Jesus e pedir desculpa aos nossos irmãos pela nossa falta de amor. É preciso, também, continuar a anunciar o Evangelho com fidelidade, com firmeza e com coragem, mas no respeito absoluto por aqueles que querem seguir outros caminhos e fazer outras opções.
Na segunda parte, Lucas apresenta através do diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos, algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse “caminho” que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação. Que condições são essas?
O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para o discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material. O segundo diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se desses deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância, impedem uma resposta imediata e radical ao Reino. O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo, até da própria família, se for necessário, para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada, nem a própria família, deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.
Não podemos ver estas exigências como normativas: em outras circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais; e os discípulos, nomeadamente Pedro, fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias… O que estes ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do Reino.
A nós, discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no “caminho” de Jerusalém, nesse “caminho” que conduz à salvação e à vida plena. Trata-se de um “caminho” que implica a renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de nós próprios, com o amor até as últimas conseqüências. O “caminho do discípulo” é um caminho exigente, que implica um dom total ao “Reino”. Quem quiser seguir Jesus, não pode deter-se a pensar nas vantagens ou desvantagens materiais que isso lhe traz, nem nos interesses que deixou para trás, nem nas pessoas a quem tem de dizer adeus… Então, quem quiser seguir Jesus não pode ter hesitações nem restrições. Para Ele, o tempo urge, tem a ver com a salvação da humanidade, com a vontade do Pai. Se Jesus parece exigente para com aqueles que O querem seguir, é porque Ele mesmo é exigente quanto à sua própria caminhada. É caminhando que Jesus convida a colocarmo-nos a caminho atrás d’Ele. Pois, “Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus”. Jesus pede-me para não voltar atrás, porque me diz: “É agora que te amo, é agora que quero encontrar-te, estar contigo”. Se aceito isso, então sou “feito para o Reino!”. Assim seja! Amém.



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