domingo, 24 de abril de 2016

"Como eu vos tenho amado”


Irmãos e irmãs,
O tema fundamental deste domingo é o do amor: o que identifica os seguidores de Jesus é a capacidade de amar até ao dom total da vida.

Na primeira leitura apresenta-se a vida dessas comunidades cristãs chamadas a viver no amor. No meio das vicissitudes e das crises, são comunidades fraternas, onde os irmãos se ajudam, se fortalecem uns aos outros nas dificuldades, se amam e dão testemunho do amor de Deus. 
Para aqueles que têm responsabilidades de direção ou de animação das comunidades: a missão que lhes foi confiada não é um privilégio, mas um serviço que está subordinado à construção da própria comunidade. A comunidade não existe para servir quem preside; quem preside é que existe em função da comunidade e do serviço comunitário.

A segunda leitura apresenta-nos a meta final para onde caminhamos: o novo céu e a nova terra, a realização da utopia, o rosto final dessa comunidade de chamados a viver no amor.
O testemunho profético de João garante-nos que não estamos destinados ao fracasso, mas sim à vida plena, ao encontro com Deus, à felicidade sem fim. Esta esperança tem de iluminar a nossa caminhada e dar-nos a coragem de enfrentar os dramas e as crises que dia a dia se nos apresentam.
É verdade que a instauração plena do “novo céu e da nova terra” só acontecerá quando o mal for vencido em definitivo; mas essa nova realidade pode e deve começar desde já: a ressurreição de Cristo convoca-nos para a renovação das nossas vidas, da nossa comunidade cristã ou religiosa, da sociedade e das suas estruturas, do mundo em que vivemos, que geme num violento esforço de libertação.

No Evangelho, Jesus despede-Se dos seus discípulos e deixa-lhes em testamento o “mandamento novo”: “amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”. É nessa entrega radical da vida que se cumpre a vocação cristã e que se dá testemunho no mundo do amor materno e paterno de Deus.
O texto divide-se em duas partes. Na primeira parte, Jesus interpreta a saída de Judas, que acabou de deixar a sala onde o grupo está reunido, para ir entregar o “mestre” aos seus inimigos. A morte é, portanto, uma realidade bem próxima… Jesus explica, na seqüência, que a sua morte na cruz será a manifestação da sua glória e da glória do Pai. A “riqueza”, o “esplendor” do Pai e de Jesus manifesta-se, portanto, no amor que se dá até ao extremo, até ao dom total. É que a “glória” do Pai e de Jesus não se manifesta no triunfo espetacular ou na violência que aniquila os maus, mas manifesta-se na vida dada, no amor oferecido até ao extremo. A entrega de Jesus na cruz vai manifestar a todos os homens e mulheres a lógica de Deus e mostrar a todos como Deus é: amor radical, que se faz dom até as últimas conseqüências.
Na segunda parte temos, então, a apresentação do “mandamento novo”. Começa com a expressão “meus filhos” – o que nos coloca num quadro de solene emoção e nos leva ao “testamento” de um pai que, à beira da morte, transmite aos seus filhos a sua sabedoria de vida e aquilo que é verdadeiramente fundamental.
Qual é, portanto, a última palavra de Jesus aos seus, o seu ensinamento fundamental? 
“Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos amei, vós deveis também amar-vos uns aos outros”. O amor que faz dom de si, o amor até ao extremo, o amor que não guarda nada para si, mas é entrega total e absoluta. O ponto de referência no amor é o próprio Jesus: “como Eu vos amei”; as duas cenas precedentes: lavagem dos pés aos discípulos e despedida de Judas definem a qualidade desse amor que Jesus pede aos seus: “amar” consiste em acolher, em pôr-se ao serviço dos outros, em dar-lhes dignidade e liberdade pelo amor, e isso sem limites nem discriminação alguma, respeitando absolutamente a liberdade do outro. Jesus é a norma, não com palavras, mas com atos; mas agora traduzem em palavras os seus atos precedentes, para que os discípulos tenham uma referência.
O amor, igual ao de Jesus, que os discípulos manifestam entre si será visível para todos os homens. Esse será o distintivo da comunidade de Jesus. Os discípulos de Jesus não são os depositários de uma doutrina ou de uma ideologia, ou os observantes de leis, ou os fiéis cumpridores de ritos; mas são aqueles que, pelo amor que partilham, vão ser um sinal vivo do Deus que ama. Pelo amor, eles serão no mundo sinal do Pai.
A proposta cristã resume-se no amor. É o amor que nos distingue que nos identifica; quem não aceita o amor, não pode ter qualquer pretensão de integrar a comunidade de Jesus. A comunidade de Jesus tem de testemunhar, com gestos concretos, o amor de Deus; demonstrar que a utopia é possível e que os homens e mulheres podem ser irmãos e irmãs. É este o nosso testemunho de comunidade cristã, na opção pela vida em favor dos pobres, sempre com justiça social. 
Assim, no caminho, Segundo o amor que teremos uns para com os outros… todos verão que somos discípulos de Cristo. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: “se vos amardes uns aos outros”. Jesus de Nazaré já não está entre nós, mas Cristo ressuscitado está bem no meio de nós, hoje. Há que reconhecê-l’O para O testemunhar pelo amor! “Como Eu vos amei” ou “Como eu vos tenho amado”. Assim seja! Amém.


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