domingo, 12 de julho de 2015

Testemunhas do Amor e Boa Nova de Deus no mundo


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo recorda-nos que Deus atua no mundo através dos homens e mulheres que Ele chama e envia como testemunhas do seu projeto de salvação. Esses “enviados” devem ter como grande prioridade a fidelidade ao projeto de Deus.

A primeira leitura apresenta-nos o exemplo do profeta Amós. Escolhido, chamado e enviado por Deus, o profeta vive para propor aos homens e mulheres – com verdade e coerência – os projetos e os sonhos de Deus para o mundo. Atuando com total liberdade, o profeta não se deixa manipular pelos poderosos nem amordaçar pelos seus próprios interesses pessoais.
Neste texto – como em tantos outros textos proféticos – transparece a absoluta convicção de que o profeta é um homem de Deus, escolhido por Deus, chamado por Deus, enviado por Deus, legitimado por Deus. Deus está na origem da vocação profética.  O profeta é um homem livre, que não se amedronta nem se dobra face aos interesses dos poderosos. Por isso, o profeta não pode calar-se perante a injustiça, a opressão, a exploração, tudo o que rouba a vida e impede a realização plena do de cada ser. Assim, a Igreja, para poder exercer com fidelidade a sua missão profética, tem de evitar colar-se aos poderosos e depender deles, sob pena de ser infiel à missão que Deus lhe confiou. Uma Igreja que está preocupada em não incomodar o poder para manter privilégios fiscais, ou para continuar a receber dinheiro para as instituições que tutela, será uma Igreja escrava, de mãos atadas, dependente, que está longe de Jesus Cristo e da sua proposta libertadora.

A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher – um projeto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
De acordo com o nosso texto, Deus “elegeu-nos… para sermos santos e irrepreensíveis”.  Afirma ainda a centralidade de Cristo nesta história de amor que Deus quis viver conosco… Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai e oferecendo-Se até à morte para nos ensinar a viver no amor.

No Evangelho, Jesus envia os discípulos em missão. Essa missão – que está no prolongamento da própria missão de Jesus – consiste em anunciar o Reino e em lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de ser feliz. Antes da partida dos discípulos, Jesus dá-lhes algumas instruções acerca da forma de realizar a missão… Convida-os especialmente à pobreza, à simplicidade, ao despojamento dos bens materiais.
O nosso texto é uma autêntica catequese sobre a missão dos discípulos de Jesus no meio do mundo. As instruções postas aqui na boca de Jesus conservam o seu sentido e valor para os discípulos de todo o tempo e lugar.
Marcos começa por deixar claro que a iniciativa do chamamento dos discípulos é de Jesus: Ele “chamou-os”.  Depois, Marcos aponta o número dos discípulos que são enviados (“doze”). Porquê exatamente “doze”? Trata-se de um número simbólico, que lembra as doze tribos que formavam o antigo Povo de Deus. Estes “doze” discípulos representam simbolicamente a totalidade do Povo de Deus, do novo Povo de Deus. É a totalidade do Povo de Deus que é enviada em missão.
Os “doze” são enviados “dois a dois”. É provável que o envio “dois a dois” tenha a ver com o costume judaico de viajar acompanhado, para ter ajuda e apoio em caso de necessidade; pode também pensar-se que esta exigência de partir em missão “dois a dois” tenha a ver com as exigências da lei judaica, de acordo com a qual eram necessárias duas testemunhas para dar credibilidade a um qualquer anúncio. Em qualquer caso, a exigência de partir em missão “dois a dois” sugere também que a evangelização tem sempre uma dimensão comunitária. Os discípulos nunca devem trabalhar sós, à margem do resto da comunidade; não devem anunciar as suas ideias, mas a fé da Igreja. Quem anuncia o Evangelho, anuncia-o em nome da comunidade; e o seu anúncio deve estar em sintonia com a fé da comunidade.
Em seguida, Marcos define a missão que Jesus lhes confiou: “deu-lhes poder sobre os espíritos impuros. Os espíritos impuros representam aqui tudo aquilo que escravizam homens e mulheres e que impede de chegar à vida em plenitude. A missão dos discípulos é, pois, lutar contra tudo aquilo – seja de caráter físico, seja de caráter espiritual – que destrói a vida e a felicidade, podemos dizer que a missão dos discípulos é lutar contra o “pecado”. É da ação libertadora dos discípulos, que atuam por mandato de Jesus, que nasce um mundo novo, de homens e mulheres livres – o mundo do “Reino”.
Em seguida, vêm as instruções para a missão. Na perspectiva de Jesus, os discípulos devem partir para a missão, num despojamento total de todos os bens e seguranças humanas… Podem levar um cajado; mas não devem levar nem pão, nem alforge, nem moedas, nem duas túnicas. Os discípulos devem ser totalmente livres e não estar amarrados a bens materiais; caso contrário, a preocupação com os bens materiais pode roubar-lhes a liberdade e a disponibilidade para a missão. Por outro lado, essa atitude de pobreza e de despojamento ajudará também os discípulos a perceber que a eficácia da missão não depende da abundância dos bens materiais, mas sim da ação de Deus. Finalmente, a sobriedade e o desapego são sinais de que o discípulo confia em Deus e contribuem para dar credibilidade ao testemunho.
Um outro género de instruções refere-se ao comportamento dos discípulos diante da hospitalidade que lhes for oferecida. Quando forem acolhidos numa casa, devem aí permanecer algum tempo, seguramente para formar uma comunidade e não devem saltar de um lugar para o outro, ao sabor das amizades, dos interesses próprios ou alheios ou das suas próprias conveniências pessoais. Quando não forem recebidos num lugar, devem “sacudir o pó dos pés” ao abandonar esse lugar: trata-se de um gesto que os judeus praticavam quando regressavam do território pagão e que simboliza a renúncia à impureza. Aqui, deve significar o repúdio pelo fechamento às propostas libertadoras de Deus.
Finalmente, Marcos descreve a realização da missão dos discípulos: pregavam a conversão, isto é, uma mudança radical de mentalidade, de valores, de atitudes, um voltar-se para Jesus Cristo e um acolher o seu projeto, expulsavam demônios, curavam os doentes. Trata-se de continuar a missão de Jesus: libertar de tudo aquilo que o oprime e lhe rouba a vida, para fazer aparecer um mundo de homens e mulheres livres e salvos - “Reino de Deus”.
O anúncio que é confiado aos discípulos é o anúncio que Jesus fazia - o “Reino”; os gestos que os discípulos são convidados a fazer para anunciar o “Reino” são os mesmos que Jesus fez. Ao apresentar a missão dos discípulos em paralelo e em absoluta continuidade com a missão de Jesus, Jesus convida a Igreja, os discípulos, a continuar na história a obra libertadora que Ele começou em favor da humanidade.
A missão dos discípulos é lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza e que impede de ser feliz. Hoje há estruturas que geram guerra, violência, terror, morte: a missão dos discípulos de Jesus é contestá-las e desmontá-las; hoje há “valores”, apresentados como o “último grito” da moda, do avanço cultural ou científico, que geram escravidão, opressão, sofrimento: a missão dos discípulos de Jesus é recusá-los e denunciá-los; hoje há esquemas de exploração, disfarçados de sistemas econômicos geradores de bem estar, que geram miséria, marginalização, debilidade, exclusão: a missão dos discípulos de Jesus é combatê-los.
Decididamente, o servo não é maior do que o seu mestre, e o enviado faz sempre referência àquele que o envia. Hoje, o Testemunho do “nós” (envio dos dois discípulos) é o da Igreja. Oxalá ela possa contar apenas com Deus, fazer-se peregrina, apresentar-se pobre, respeitar a liberdade de homens e mulheres… Testemunhas do amor de Deus… É sempre válido para todos os batizados cuja missão é serem testemunhas da Boa Nova no coração do mundo! Assim seja! Amém.

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