domingo, 26 de abril de 2015

Escutar a voz do Bom Pastor


Irmãos e irmãs,
O  Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.

A primeira leitura afirma que Jesus é o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (neste “Domingo do Bom Pastor” dizer que Jesus é o “único salvador” equivale a dizer que Ele é o único pastor que nos conduz em direção à vida verdadeira). Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação.
A catequese que Lucas nos propõe neste trecho do livro dos Atos dos Apóstolos, apresenta Jesus como o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”. Lucas avisa-nos, desta forma, para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação. Por vezes, o caminho de salvação que Jesus nos propõe, está em flagrante contradição com os caminhos de “salvação” que nos são propostos pelos líderes políticos, pelos líderes ideológicos, pelos líderes da moda e da opinião pública; e nós temos que fazer escolhas coerentes com a nossa fé e com o nosso compromisso cristão. Na hora de optarmos, não esqueçamos que a proposta de Jesus tem o selo de garantia de Deus; não esqueçamos que o caminho proposto por Jesus (e que, tantas vezes, à luz da lógica humana, parece um caminho de fracasso e de derrota) é o caminho que nos conduz ao encontro da vida plena e definitiva, ao encontro do Homem Novo. Assim, os discípulos receberam a missão de apresentar, ao mundo e aos homens, Jesus Cristo, o único Salvador. É o Espírito que os anima nessa missão e que lhes dá a coragem para enfrentar a oposição dessas forças da opressão que recusam a proposta libertadora de Jesus.

Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pela humanidade. É porque nos ama com um “amor admirável” que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. O objetivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos “semelhantes” a Ele. O autor desta carta garante-nos: para alcançar a meta da vida definitiva, é preciso escutar o chamamento de Deus, acolher o seu dom, viver de acordo com essa vida nova que Deus nos oferece. É aí – e não noutras propostas efêmeras, parciais, superficiais – que está o segredo da realização plena do homem e da mulher.

O Evangelho apresenta Cristo como “o Pastor modelo”, que ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. As ovelhas sabem que podem confiar n’Ele de forma incondicional, pois Ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para “escutar” as propostas que Ele faz e segui-l’O no caminho do amor e da entrega.
O nosso texto começa com uma afirmação lapidar, posta na boca de Jesus: “Eu sou o Bom Pastor”. O adjetivo “bom” deve, neste contexto, entender-se no sentido de “modelo”, de “ideal”: “Eu sou o modelo de pastor, o pastor ideal”. E Jesus explica, logo em seguida, que o “pastor modelo” é aquele que é capaz de se entregar a si mesmo para dar a vida às suas ovelhas.
Depois da afirmação geral, Jesus põe em paralelo duas figuras de pastor: o “pastor mercenário” e o “verdadeiro pastor”. Aquilo que distingue o “verdadeiro pastor” do “pastor mercenário” é a diferente atitude diante do “lobo”. O “lobo” representa, nesta “parábola”, tudo aquilo que põe em perigo a vida das ovelhas: os interesses dos poderosos, a opressão, a injustiça, a violência, o ódio do mundo.
O “pastor mercenário” é o pastor contratado por dinheiro. O rebanho não é dele e ele não ama as ovelhas que lhe foram confiadas. Limita-se a cumprir o seu contrato, fugindo de tudo aquilo que o pode pôr em perigo a ele próprio e aos seus interesses pessoais. Limita-se a cumprir determinadas obrigações, sem que o seu coração esteja com o rebanho. Ele tem uma função de enquadrar o rebanho e de o dirigir, mas a sua ação é sempre ditada por uma lógica de egoísmo e de interesse. Por isso, quando sente que há perigo, abandona o rebanho à sua sorte, a fim de salvaguardar os seus interesses egoístas e a sua posição.
O verdadeiro pastor é aquele que presta o seu serviço por amor e não por dinheiro. Ele não está apenas interessado em cumprir o contrato, mas em fazer com que as ovelhas tenham vida e se sintam felizes. A sua prioridade é o bem das ovelhas que lhe foram confiadas. Por isso, ele arrisca tudo em benefício do rebanho e está, até, disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama. Nele as ovelhas podem confiar, pois sabem que ele não defende interesses pessoais mas os interesses do seu rebanho.
Ora, Jesus é o modelo do verdadeiro pastor. Ele conhece cada uma das suas ovelhas, tem com cada uma relação pessoal e única, ama cada uma, conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças. Esta relação que Jesus, o verdadeiro pastor, tem com as suas ovelhas é tão especial, que Ele até a compara à relação de amor e de intimidade que tem com o próprio Deus, seu Pai. É este amor, pessoal e íntimo, que leva Jesus a pôr a própria vida ao serviço das suas ovelhas, e até a oferecer a própria vida para que todas elas tenham vida e vida em abundância. Quando as ovelhas estão em perigo, Ele não as abandona, mas é capaz de dar a vida por elas. Nenhum risco, dificuldade ou sofrimento O faz desanimar. A sua atitude de defesa intransigente do rebanho é ditada por um amor sem limites, que vai até ao dom da vida.
Depois de definir desta forma a sua missão e a sua atitude para com o rebanho, Jesus explica quem são as suas ovelhas e quem pode fazer parte do seu rebanho. Ao dizer “tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir”, Jesus deixa claro que a sua missão não se encerra nas fronteiras limitadas do Povo judeu, mas é uma missão universal, que se destina a dar vida a todos os povos da terra. A comunidade de Jesus não está encerrada numa determinada instituição nacional ou cultural. O que é decisivo, para integrar a comunidade de Jesus, é acolher a sua proposta, aderir ao projeto que Ele apresenta, segui-l’O. Nascerá, então, uma comunidade única, cuja referência é Jesus e que caminhará com Jesus ao encontro da vida eterna e verdadeira - “elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor”.
Finalmente, Jesus explica que a sua missão se insere no projeto do Pai para dar vida aos homens e mulheres. Jesus assume esse projeto do Pai e dedica toda a sua vida terrena a cumprir essa missão que o Pai lhe confiou. O que O move não é o seu interesse pessoal, mas o cumprimento da vontade do Pai. Ao cumprir o projeto de amor do Pai em nosso favor, Ele está a realizar a sua condição de Filho. Ao dar a sua vida, Jesus está consciente de que não perde nada. Quem utiliza a vida ao serviço do projeto de Deus, não perde a vida, mas está a construir para si e para o mundo a vida eterna e verdadeira. O seu dom não termina em fracasso, mas em glorificação. Para quem ama, não há morte, pois o amor gera vida verdadeira e definitiva. A entrega de Jesus não é um acidente ou uma inevitável fatalidade, mas um gesto livre de alguém que ama o Pai e ama os homens e escolhe o amor até às últimas consequências. O dom de Jesus é um dom livre, gratuito e generoso. Na decisão de Jesus em oferecer livremente a vida por amor, manifesta-se o seu amor pelo Pai e pela humanidade.
O Evangelho deste domingo diz-nos que, para o cristão, o “Pastor” por excelência é Cristo. É n’Ele que devemos confiar, é à volta d’Ele que nós devemos juntar, são as suas indicações e propostas que devemos seguir. O que é decisivo para entrar a fazer parte do rebanho de Deus é “escutar a voz” de Cristo, aceitar as suas indicações, tornar-se seu discípulo… Isso significa, concretamente, seguir Jesus, aderir ao projeto de salvação que Ele veio apresentar, percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu, na entrega total aos projetos de Deus e na doação total aos irmãos.  “Eu sou o Bom Pastor”. O pastor só tem sentido se ligado a um rebanho. Ele “conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas conhecem-no”. Elas “contam verdadeiramente para ele”. Ele ama as ovelhas e cuida delas. Vigia-as. Condu-las a boas pastagens, dando-lhes o bom alimento da Palavra de Deus. Ele vai ao ponto de dar a sua vida pelas suas ovelhas. Nunca se deve cessar de pedir ao Senhor que suscite sempre bons pastores para a sua Igreja! Escutar a voz do Bom Pastor! Assim seja! Amém.

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