domingo, 2 de março de 2014

Procurai primeiro o reino de Deus...


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo propõe-nos uma reflexão sobre as nossas prioridades. Recomenda que dirijamos o nosso olhar para o que é verdadeiramente importante e que libertemos o nosso coração da tirania dos bens materiais. Pois, o cristão não deve viver obcecado com os bens mais primários, porque tem absoluta confiança nesse Deus que cuida dos seus filhos com a solicitude de um pai e o amor gratuito e incondicional de uma mãe.

A primeira leitura sublinha a solicitude e o amor de Deus, desta vez recorrendo à imagem da maternidade: a mãe ama o filho, com um amor instintivo, avassalador, eterno, gratuito, incondicional; e o amor de Deus mantém as características do amor da mãe pelo filho, mas em grau infinito. Por isso, temos a certeza de que Ele nunca abandonará os homens e manterá para sempre a aliança que fez com o seu Povo.
O profeta/poeta põe na boca da “mulher” Jerusalém; e a mulher/Jerusalém representa, na linguagem profética, a mulher/Povo de Deus, um lamento sentido porque, depois de quarenta anos, continua reduzida a ruínas e Javé não parece ter qualquer plano para trazer de novo à sua cidade o esplendor antigo. “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim”. Sugerem, portanto, que Javé abandonou a aliança e repudiou a sua esposa, Israel. Ao lamento de Sião, Deus responde de forma dramática: pode uma mãe abandonar a criança que amamenta e a quem ama ternamente? .
Para definir o amor da mãe pelo filho, o profeta utiliza o verbo “amar ternamente”. Este amor encontra, de fato, a sua expressão mais feliz no amor que a mãe tem pelo seu filho, pois, da unidade que liga a mãe ao filho, brota uma particular ligação com ele, um amor especial que é total, absoluto, único, avassalador, gratuito e não fruto de qualquer merecimento.
Deus ama o seu Povo, ainda mais do que uma mãe ama o seu filho. Como o amor da mãe, também o amor de Deus é ternura, misericórdia, compreensão, bondade, amor inquebrantável e eterno, apego instintivo e gratuito; mas o amor de Deus por Israel é tudo isso em grau infinito. O amor total, inquebrantável, eterno, que Deus tem pelo seu Povo traduz-se, concretamente, na aliança. Não têm, portanto, qualquer razão de ser os lamentos da cidade/Povo: a aliança não acabou nem acabará, pois, Javé não cessou nem cessará nunca de amar o seu Povo.

Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto a fixarem o seu olhar no essencial, a proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus fez a homens e mulheres e não no acessório, os veículos da mensagem. Paulo enfatiza que os mensageiros do Evangelho são apenas “servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”. Eles não são os protagonistas da mensagem; são, apenas, os veículos de que Deus se serve, a fim de que a sua Boa Nova chegue aos homens. A missão destes veículos da Palavra não é colocar-se no centro do palco e atrair sobre si próprios a atenção das multidões; mas é levar os homens a aderir ao Evangelho e a acolher a proposta de salvação que, em Jesus, Deus lhes faz. Assim, os mensageiros da Palavra não devem estar preocupados com a forma como as pessoas os veem, mas devem apenas preocupar-se em transmitir, com fidelidade, a proposta de Deus.
A reflexão de Paulo convida-nos, em primeiro lugar, a tomar consciência daquilo que é essencial na nossa fé: a proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus oferece a homens e mulheres. É isso e apenas isso que deve atrair o nosso olhar e encher o nosso coração. Não convém perder isto de vista: o cristianismo não é a adesão a uma determinada filosofia ou estilo de vida, nem a aceitação de uma moda que agora está, mas a qualquer momento pode ficar fora; mas é o abrir o coração à oferta de salvação que, em Jesus, Deus nos faz.

O Evangelho convida-nos a buscar o essencial - o “Reino” -  por entre a enormidade de coisas secundárias que, dia a dia, ocupam o nosso interesse. Garante-nos, igualmente, que escolher o essencial não é negligenciar o resto: o nosso Deus é um pai cheio de solicitude pelos seus filhos (as), que provê com amor às suas necessidades. Estamos, ainda, no contexto do “sermão da montanha”. Jesus continua aqui a apresentar a “nova Lei”, que deve guiar a comunidade cristã na sua caminhada histórica. O Evangelho que hoje nos é proposto começa com uma “frase” de Jesus que, em rigor, afirma a incompatibilidade entre o amor a Deus e o amor aos bens materiais. Qual a razão dessa incompatibilidade?
Em primeiro lugar, Deus deve ser o centro à volta do qual o homem/mulher constrói a sua existência, o valor supremo da pessoa… Mas, sempre que a lógica do “ter” domina o coração, o dinheiro ocupa o lugar de Deus e passa a ser o ídolo a quem tudo sacrifica. O verdadeiro Deus passa, então, a ocupar um lugar perfeitamente secundário na vida das pessoas; e o dinheiro – ídolo exigente, exclusivo, que não deixa espaço para qualquer outro valor – é promovido à categoria de motor da história e de referência fundamental para homens e mulheres.
Em segundo lugar, o amor do dinheiro fecha totalmente o coração num egoísmo estéril e não deixa qualquer espaço para o amor aos irmãos; deixa de ter lugar, na sua vida, para aqueles que o rodeiam; e, por amor do dinheiro, torna-se injusto, prepotente, corrupto, explorador, escravizam-se os irmãos, autossuficiente…
E as preocupações mais “primárias” da vida: a comida, a bebida, a roupa, a segurança? São valores secundários, que não devem sobrepor-se ao “Reino”. De resto, não precisamos de viver obcecados com essas coisas, pois, o próprio Deus Se encarregará de suprir as necessidades materiais dos seus filhos, “tudo o mais vos será dado por acréscimo”. Aliás, quem aceita o desafio do “Reino” descobre rapidamente que Deus é esse Pai bondoso que preside à história humana, que cuida dos seus filhos, que vela por eles com amor, que conhece as suas necessidades: se Deus, cada dia, veste de cores os lírios do campo e alimenta quotidianamente as aves do céu, não fará o mesmo – ou até mais – por homens e mulheres?
A proposta de Jesus será um convite a viver na alegre despreocupação, na inconsciência, na passividade, no comodismo, na indiferença? Não. As palavras de Jesus são um convite a pôr em primeiro lugar as coisas verdadeiramente importantes, o “Reino”, a relativizar as coisas secundárias, as preocupações exclusivamente materiais e, acima de tudo, a confiar totalmente na bondade e na solicitude paternal de Deus. De resto, viver na dinâmica do “Reino” não é cruzar os braços à espera que Deus faça chover do céu aquilo de que necessitamos; mas é viver comprometido, trabalhando todos os dias, a fim de que o sonho de Deus – o mundo novo da justiça, da verdade e da paz – se concretize.
Para Jesus, é no “Reino” – isto é, na aposta incondicional em Deus e no acolhimento do seu projeto de salvação/libertação – que está o segredo da nossa realização plena.  Jesus lembra-nos, que Deus é um Pai cheio de solicitude e de amor, permanentemente atento às necessidades dos filhos (as)... Ele até veste os lírios do campo e alimenta as aves do céu…. Ele convida-nos a colocar a nossa confiança e a nossa esperança nesse Pai que nos ama e a enfrentar o dia a dia com essa serena confiança que nos vem da certeza de que Deus é nosso Pai, conhece as nossas dores e necessidades e nos pega ao colo nos momentos mais dramáticos da nossa caminhada. Para os discípulos de Jesus, o “Reino” deve ser o valor mais importante, a principal prioridade, a preocupação mais séria, aquilo que dia a dia “faz correr” e que domina todo o seu horizonte, portanto, “procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”. Assim seja! Amém.

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