domingo, 15 de setembro de 2013

Parábolas do encontro...


Irmãos e irmãs,
Este Santo Domingo centra a nossa reflexão na lógica do amor de Deus. Sugere que Deus ama o homem, infinita e incondicionalmente; e que nem o pecado nos afasta desse amor…

A primeira leitura apresenta-nos a atitude misericordiosa de Javé face à infidelidade do Povo. Situado no Sinai, no espaço da aliança – Deus assume uma atitude que se vai repetir muitas vezes ao longo da história da salvação: deixa que o amor se sobreponha à vontade de punir o pecador.
A primeira parte descreve o pecado do Povo e uma primeira reação de Deus. Perante a ausência de Moisés no monte sagrado, o Povo constrói um bezerro de ouro. O bezerro de ouro não pretende ser um novo deus, mas uma imagem de Javé. De qualquer forma, o Povo “desviou-se do caminho” que Deus lhe havia ordenado, pois, infringiu o segundo mandamento do Decálogo. O pedido de Deus a Moisés: “agora deixa-Me; a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destrui-los-ei; mas farei de ti uma grande nação”, pode ser posto em paralelo com a promessa a Abraão: Deus fala de tudo recomeçar com Moisés, como fez com Abraão.
Na segunda parte, descreve-se a intercessão de Moisés e a misericórdia de Deus. O texto começa com a referência a Moisés que “acalmou a face de Deus”. As palavras de intercessão de Moisés não fazem referência aos méritos do Povo, mas à honra de Deus e à sua fidelidade às promessas assumidas para com o Povo no âmbito da aliança. A resposta final de Deus põe em relevo a sua misericórdia. Não são os méritos do Povo que eliminam o castigo; mas é o amor de Deus, a sua lealdade aos compromissos, a sua “justiça”, que é misericórdia, ternura, bondade; que acabam por triunfar. O amor infinito de Deus pelo seu Povo acaba sempre por falar mais alto do que a sua vontade de castigar os desvios e infidelidades.

Na segunda leitura, Paulo recorda algo que nunca deixou de o espantar: o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor derrama-se incondicionalmente sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo é um exemplo concreto dessa lógica de Deus; por isso, não deixará de testemunhar o amor de Deus e de Lhe agradecer.
Assim, Paulo recorda, agradecido, a sua história de vocação. O apóstolo afirma que recebeu de Cristo o seu ministério; e proclama que isso se deve, não aos seus méritos, mas à misericórdia de Deus. Paulo reconhece que Cristo “veio ao mundo para salvar os pecadores”, entre os quais Paulo se inclui. Pelo exemplo de Paulo, fica evidente a misericórdia e a magnanimidade de Deus, que se derrama sobre todos os homens, sejam quais forem as faltas cometidas. A partir deste exemplo, todos são convidados a tomar consciência da bondade de Deus e a responder-lhe da mesma forma que Paulo: com o dom da vida e com o empenho sério no testemunho desse projeto de amor que Deus tem para oferecer.

O Evangelho apresenta-nos o Deus que ama todos e que, de forma especial, Se preocupa com os pecadores, com os excluídos, com os marginalizados. A parábola do “filho pródigo”, em especial, apresenta Deus como um pai que espera ansiosamente o regresso do filho rebelde, que o abraça quando o avista, que o faz reentrar em sua casa e que faz uma grande festa para celebrar o reencontro.
As três parábolas da misericórdia pretendem, portanto, justificar o comportamento de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas definem a “lógica de Deus” em relação a esta questão.
A primeira parábola é a da ovelha perdida. Trata-se de uma parábola que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois, não é normal abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz sentido todo o exagero criado à volta de um fato banal como é o reencontro com uma ovelha que se extraviou… Nessas reações desproporcionadas revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola… O “deixar as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida” mostra a preocupação de Deus com cada pessoa que se afasta da comunidade da salvação; o “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de Deus, que trata com cuidado e com amor os filhos que se afastaram e que necessitam de cuidados especiais; a alegria desproporcionada do pastor que encontrou a ovelha mostra a alegria de Deus, sempre que encontra um filho que se afastou da comunhão com Ele.
A segunda parábola reafirma o ensinamento da primeira. O amor misericordioso e constante de Deus busca aquele que se perdeu e alegra-se quando o encontra. A imagem da mulher preocupada, que varre a casa de cima a baixo, ilustra a preocupação de Deus em reencontrar aqueles que se afastaram da comunhão com Ele. Também aqui há, como na parábola anterior, a referência à alegria do reencontro: essa alegria manifesta a felicidade de Deus diante do pecador que volta.
A terceira parábola apresenta o quadro de um pai - Deus, em cujo coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu orgulho e da sua autossuficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna. Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar, a esperar ansiosamente o regresso do filho, preparado para o acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus e escribas - os “filhos mais velhos” - que, a propósito dos pecadores que tinham abandonado a “casa do Pai”, professavam uma atitude de intolerância e de exclusão.

O que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a justificativa da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai… Preocupa-se com eles, vai ao seu encontro, solidariza-Se com eles, estabelece com eles laços de familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles com solicitude, alegra-Se e faz festa quando eles voltam à casa do Pai. Esta é a forma de Deus atuar em relação aos seus filhos, sem exceção; e é essa atitude de Deus que Jesus revela ao acolher os pecadores e ao sentar-Se com eles à mesa. Por muito que isso custe aos fariseus, essa é a lógica de Deus; e todos os “filhos de Deus” devem acolher esta lógica e atuar da mesma forma, indo ao encontro do outro, colocando-se no lugar do outro e sentir com ele, com compaixão e amor. Assim seja! Amém.

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